Política

A União Europeia pode estar em perigo – III

Extrema-direita e a estratégia para a obtenção de votos


 Extrema direita: conotações


Alguma extrema-direita, com algumas exceções, está, por vezes, para a maior parte dos eleitores, marcadamente conotada com as trágicas experiências do nazismo e do fascismo e, ainda hoje, continua a apresentar muitos traços originais do seu início como o irracionalismo, nacionalismo, defesa de valores e instituições tradicionais, intolerância à diversidade — cultural, étnica, sexual — anticomunismo, machismo, violência em nome da defesa de uma comunidade/raça considerada superior. Distancia-se das direitas tradicionais pela intolerância e pela violência de suas ações.


A extrema-direita populistas desde que se organizou em partidos, movimentos ou associações públicas, diz recusar por parte de seus membros as práticas atrás referidas. Desconhece-se ainda a evidência das características do recente partido “Chega” do ex-autarca André Ventura do PSD que, após algumas peripécias, acabou por ser aceite pelo Tribunal Constitucional (TC) como partido político do Chega, que recusou, contudo, o nome de coligação Europa Chega terminando por ficar registado como a coligação “Basta”. O Chega, de André Ventura, vai coligar-se com o Democracia 21 para as eleições europeias. As declarações públicas de André Ventura contrastam com a declaração de princípios do seu partido.


Robert Paxton escreveu um livro “A Anatomia do Fascismo” editado em Portugal  pela Paz e Terra à venda na livraria online WOOK, onde se refere à inviabilidade de reedição do fascismo como experiência particular do contexto entre as duas grandes guerras mundiais, ou seja, um fascismo com as mesmas características, mas não invalida práticas fascistas possíveis na atualidade embora com outros matizes, porque segundo ele não foram superadas, as determinações económicas e políticas que contribuíram para sua emergência e ascensão ao poder.


 Extrema-direita na Europa e as novas tendências


Há inúmeras expressões da extrema-direita na contemporaneidade. Algumas, organizadas em partidos, outras em associações, movimentos ou grupos, muitas pulverizadas em práticas violentas e inorgânicas dirigidas a imigrantes, negros, homossexuais. O perigo é que eles estão a recuperar os seus valores mais arcaicos.


A ascensão dos atuais movimentos de extrema-direita, principalmente na Europa, não é episódica. Essa ideologia nunca deixou de existir mesmo após a sua derrota na Segunda Guerra Mundial dos fascismos e nazismos.


Em França, a extrema-direita vem crescendo com o fortalecimento do Partido da Frente Nacional. A atual presidente do partido é Marine Le Pen, filha de Jean Marine, conseguiu triplicar não aceita que o seu partido seja identificado como sendo de extrema-direita. A Frente Nacional influenciou a criação de novos partidos da extrema-direita na Europa, em função de seu desempenho nas disputas eleitorais na década de 1980.


Um jornalista, alertava em tempo para a extrema-direita em França e Marine Le Pen escrevendo em 2013 que os franceses andaram três décadas a equivocar-se sobre a caracterização da extrema-direita dizendo que era um fenómeno passageiro, um voto de protesto, uma crise da representatividade, desconfiança conjuntural, abandono dos setores populares por parte das grandes formações políticas, antieuropeísmo.


A Frente Nacional, segundo o mesmo jornalista, “deixou de ser um partido de uma minoria para se converter no partido de todos: jovens, trabalhadores, votantes comunistas, eleitores oriundos da direita clássica, do Partido Socialista, executivos e agricultores. A época na qual só os fascistas votavam em Le Pen era uma anedota porque as suas ideias racistas tornaram-se banais e sem crédito na França rica, onde se vive com um conforto quase inigualado, onde as férias são extensas, os direitos infinitos, o Estado um protetor consequente, a educação gratuita, a saúde subvencionada pelo Estado e o seguro desemprego um benefício global”.


Plataforma ideológica da extrema-direita


A plataforma ideológica das várias extremas-direita é invariável: racista, anti-elites, antiglobalização, ultranacionalista e antieuropeia. A suas armas estratégica são já bem conhecidas ao longo de décadas são a exploração do medo nas sociedades traumatizadas e cheias de medos por acontecimentos emocionalmente dolorosos como o terrorismo que as torna particularmente sensíveis em situações similares.


São o medo dos árabes, do islamismo, dos africanos, dos imigrantes, da Europa, dos bancos, dos ciganos, da bolsa de valores ou de qualquer outra coisa imaginária capaz de encarnar o medo.


Recordemos os casos de ataques terroristas, não apenas vindos do radicais islâmicos mas também os ataques com motivações da extrema-direita como foi o ainda recente caso na Nova Zelândia, que provocou pelo menos 49 mortos e 48 feridos entre os quais crianças. Estes ataques correspondem a uma sucessão de ações violentas por elementos da extrema-direita, de entre os quais se destacam atentados contra muçulmanos e judeus praticados em vários países por inspiração supremacista e xenófoba.


O lançamento do medo na sociedade, por vezes sem fundamento, são matizes que alimentam certa aproximação de parte das populações à extrema-direita, e, às vezes até, a partidos de direita, com vocação racista e xenófoba dissimuladas, que surgem em momentos sensíveis.


No contexto contemporâneo a extrema-direita, e alguma direita mais conservadora, defende os valores, princípios e conceções duma sociedade através do princípio das crenças irracionais e do sagrado para justificar os seus discursos face a condições de profundas desigualdades, insatisfações, medo e insegurança. Embora com novas tonalidades e rejeitando através do discurso o sistema de ideias fascista e nazista, contudo, há uma latência que nos lembra uma aproximação das suas convicções e ações com aqueles ideários.


O enraizamento e a ampliação deste tipo de campo ideológico são riscos que a Europa está a correr e que já vimos nos EUA e no Brasil, embora aqui com outras embora muito diferentes.


 Ação mimética da extrema-direita


O mimetismo é uma das características da transformação e adaptação ao meio que é utilizado pela extrema-direita populista. De modo geral, esses partidos ultraconservadores e eurocéticos defendem o fim da União Europeia e da moeda única que consideram responsáveis pela perda da soberania e da identidade nacional. Ao culparem os imigrantes pelo desemprego e pelo aumento da violência pretendem impor o controle mais rígido à imigração.


Apesar de defenderem a extinção da U.E. as candidaturas para as eleições ao Parlamento Europeu têm como objetivo obterem visibilidade política e, também, como alguns líderes de alguns desses partidos já afirmaram, para destruir a U.E por dentro.


Comentadores políticos afirmam que alguns desses novos partidos que compõem a chamada nova extrema-direita das direitas, tentam distanciar-se da extrema direita fascista. Contudo as suas propagandas têm atingido um endurecimento generalizado de atitudes em relação à diversidade cultural e étnica que nos deixa com a sensação de que quer através de atitudes e expressões de extremismo violento, quer quanto a movimentos políticos populistas assumir um papel visível e influente de grandes proporções.


A contradição está entre os que defendem e o que fazem. Na prática mimetizam a sua ideologia. Se, por um lado, na agenda económica, esses partidos não são muito diferentes do que propõem os partidos da direita clássica, por outro diferem em alguns pontos no que se refere às propostas político-sociais. Isso torna-se evidente na propaganda feita por esses partidos ao negarem o racismo e ao reforçarem que são a favor da pluralidade racial.


Quem vota nos populistas?


Com rigor não se pode saber quem vota em determinados partidos, mas há estimativas que nos permitem conhecer as tendências em função e características dos grupos sociais tais como variáveis ​​sociodemográficas sexo, idade (<25 anos, 25-34 anos, 35-44 anos, 45-54 anos, 55-64 anos, > 64 anos), educação formal (ensino primário, ensino médio, educação universitária) e classe social.


Várias investigações têm sugerido que existe a expectativa de que, quem têm posições socioeconómicas mais baixas possa votar em partidos radicais de direita populistas, assim como tem sido demonstrado que aqueles que votam em partidos de direita populistas radicais tendem a ser menos instruídos. Têm ainda demonstrado que os eleitores radicais da direita tendem a vir de classes sociais mais baixas (Carter, 2006).


Os populistas sejam de esquerda, de direita ou do centro dizem defender os "cidadãos comuns", o povo que, segundo eles, é negligenciado e traído pelos políticos / ou por uma elite económica condescendente. Os que têm posições socioeconómicas mais baixas provavelmente identificar-se-ão com aquela categoria de "cidadãos comuns" ou de "homem comum" e, portanto, sentir-se-ão atraídos pelas mensagens indutoras de que são vítimas do comportamento dos políticos.


A que chama atenção nas projeções efetuadas em investigações é a crescente adesão dos jovens europeus a movimentos nacionalistas, principalmente através da internet. Preocupados com o futuro (emprego e educação), a identidade cultural e a influência islâmica na Europa os jovens revelam-se cada vez mais críticos para com os seus governantes e a União Europeia.


Esta inclinação pelas extremas-direitas pode dever-se ao facto de as faixas etárias compreendidos entre os 21 e os 40 anos terem nascido em momentos da história da Europa em que a fase mais aguda da reconstrução do pós-guerra já tinha sido superada. Em 1989 deu-se a queda do muro de Berlim a que se seguiu, em 1991, a dissolução da União Soviética, pelo que essas faixa etária viveram sempre em democracia e não desconhecem o que é viver sob o poder ditaduras onde os tribunais são controlados pelo Estado, a comunicação social é limitada e controlada, a liberdade de expressão é censurada, existem perseguições étnicas e religiosas, proibição de greves e de manifestações e em que as perseguições políticas são constantes. Estes são os paradigmas das políticas da extrema-direita e também das extremas-esquerdas mais radicais, mas, de momento, o perigo destas não está iminente.


O que está a acontecer na Hungria com Viktor Orban e o seu partido, o Fidesz, que é acusado de ter restringido a ação de alguns órgãos de soberania de fiscalização como, por exemplo o Tribunal Constitucional que perdeu autonomia. Outro alvo de repressão, segundo os relatores do Parlamento, é a imprensa húngara que passou a ser controlada por um órgão regulador que pode sancionar veículos de informação que difundam notícias consideradas por Orban como "falsas". Deve ler-se neste caso aquelas que sejam contrárias aos interesses do seu governo, do partido, do "cristianismo" e da "família tradicional". Sendo um partido de ideologia conservadora e considerado de centro-direita, após ter ganho as eleições aproximou-se de posições da extrema-direita com um forte carácter nacionalista e populista.


Sob a liderança de Orban a Hungria procedeu a uma reforma eleitoral realizada para beneficiar o seu partido, o que lhe permite dispor hoje de dois terços do Parlamento o necessário para mudanças constitucionais. É assim que funcionam os partidos extremistas populistas quando chegam ao poder que lhes é dado pelo povo. Ou seja, deturpação total do que se entende por democracia para se manterem no poder por largos anos. Basta lembrarmo-nos de que a Hungria foi um dos países que esteve sob o jugo da ditadura ex-União Soviética.


Instituições de ensino como a Universidade da Europa Central, financiada em parte pelo bilionário americano George Soros, tiveram a liberdade académica restringida, segundo a U.E. Por fim, ONG’s são com frequência classificadas como "agentes estrangeiros" e têm sua atuação limitada no país - como acontece na Rússia.


Não bastasse a reforma eleitoral realizada sob o comando de Orban que terá beneficiado o seu partido permitindo-lhe dispor hoje no Parlamento de dois terços - o necessário para mudanças constitucionais -, mesmo tendo 49,3% dos votos na última eleição.


Relatora da acusação, a eurodeputada holandesa Judith Sargentini (Partido Verde) apelou aos congressistas a posicionarem-se em maioria de dois terços contra Orban - o necessário para a aprovação. Segundo Judith Sargentini, Orban "Perseguiu migrantes, refugiados e minorias como os ciganos. Há indivíduos no governo que beneficiam dos fundos europeus e dos contribuintes. Infelizmente nada melhorou desde que o relatório foi votado em junho na Comissão Europeia."


Foi a primeira vez que na União Europeia que o Parlamento Europeu elabora e aprova um relatório sobre a ativação do artigo 7.º do Tratado da União Europeia, que prevê, como sanção máxima, a suspensão dos direitos de voto a um Estado membro.


A extrema-direita populista aproveita-se da democracia para poder tomar o poder e, quando o consegue através de maioria confortável ou coligações passa a executar o seu programa ideológico.


 A ascensão e a atração de eleitores


Segundo alguns estudos, os principais motivos que têm dado origem à ascensão dos partidos da extrema-direita estariam na crise económica e financeira que assolou por contágio a U.E..


Há, no entanto, uns estudos que têm verificado que os desempregados e os que têm rendimentos mais baixos também são suscetíveis de apoiar ideologias de esquerda radicais populistas (Kraaykamp, Jaspers, 2013) e outros que mostraram que as populações das classes mais baixas são mais propensas a votar em partidos populistas de esquerda do que em outros partidos.


Não raras vezes a educação exerce um efeito positivo na votação na esquerda radical.  Outros autores mostraram que, quando se trata de votar em partidos populistas na Bélgica, na Alemanha e na Holanda, a educação não exerce um efeito negativo geral


É provável que a condição socioeconómica, e não a educação, seja preponderante e tenha um efeito negativo sobre o voto populista. Uma possibilidade é a de que os partidos populistas possam ter em comum o facto de ser mais provável as suas bases eleitorais consistirem em indivíduos que ocupam posições socioeconómicas mais baixas, isto é, virem de classes mais baixas, estarem desempregados e ter rendimentos mais baixos do que aqueles que votam nos partidos tradicionais.


Uma pergunta que se pode colocar é porque é que uma posição socioeconómica mais baixa poderá levar à votação num partido populista. Haverá alguma relação entre a posição socioeconómica de alguém e a sua inclinação para votar em partidos populistas?


Nas questões que a extrema-direita levanta estão presentes atitudes populistas de euroceticismo daí que andem intimamente relacionados. Respostas justificativas poder ser dadas pela relação entre a posição socioeconómica, o euroceticismo, e a votação populista devido à ameaça de que a abertura das fronteiras por temerem que imigrantes de países da Europa Oriental, e outros, lhes "roubem" empregos. Outro aspeto é que, sendo eurocéticos, podem sentir-se atraídos por este tipo de mensagem populistas.


Os eurocéticos tendem a votar em partidos populistas da extrema-direita por acharem que os políticos dos seus países transferiram poder demais para a U. E. Como se sabe, vários partidos populistas posicionados à margem do espectro político tradicional tendem a expressar atitudes eurocéticas que atrai bases eleitorais pelo de consistirem em indivíduos que são mais propensos a serem eurocéticos do que aqueles que votam nos partidos tradicionais.


Não é apenas a condição socioeconómica e a atitudes negativas em relação U. E. que está na origem do voto em partidos populista, mas também a desconfiança em relação à política e aos políticos em geral e é aqui que também incide a mensagem desses partidos muitas da vezes veiculada por alguma comunicação social. Não é por acaso que muitos dos que estão desempregados e os que têm rendimentos mais baixos são mais propensos a estarem politicamente insatisfeitos, provavelmente porque tenderem a culpabilizar o sistema político pela sua situação económica.


Uma outra possibilidade é a tendência para os que votam em partidos de direita populistas desconfiarem da política, desconfiança alimentada por aqueles partidos que expõem a população a mensagens populistas em que criticam os políticos e a política.


Há um aproveitamento da direita radical populista em relação a todo o sistema político para obtenção do voto pelo recurso à desconfiança em relação aos políticos dentro do sistema democrático que dirige a mensagem populista não contra o sistema, mas contra as elites corruptas fazendo parecer que a responsabilidade dos fenómenos adversos que existe são os próprios políticos. Como os populistas levantam suspeições aos políticos e às instituições representativas exigem frequentemente inovações institucionais como a restauração da primazia do povo através de iniciativas populares e referendos como afirmou Paul Webb, num artigo publicado em 2013 aplicado ao Reino Unido e cujo título em português é “Quem está disposto a participar? Democratas insatisfeitos, democratas furtivos e populistas no Reino Unido”. Do meu ponto de vista estes populistas da direita radical estão a aplicar os mesmos métodos há muito utilizados pelas esquerdas radicais com algumas diferenças como sejam a aplicação de referendos aplicados indiscriminadamente a todos os atos políticos, porque sabem que dessa forma poderão manipular os povos de forma rápida e facilmente.


Basta conferirmos sobretudo nas redes sociais na Europa e em Portugal, para se confirmar que elas estão repletas de discursos de alienação política e de apatia por parte dos cidadãos. A culpa é a maior parte das vezes atribuída aos políticos, partidos políticos e outras instituições e processos importantes da democracia representativa.


Estes partidos populistas tentam criar um regime de negatividade e de deceção democrática artificiais aproveitado pelas próprias características do sistema democrático cuja possibilidade de alternância promove a crítica “favorecendo o discurso político que normalmente é caracterizado pela negatividade”. Diariamente verificamos isso na política em Portugal pelos discursos negativistas dos partidos quando se encontram na oposição. Não é também é por acaso que nas ruas não raramente escutamos comentários como o de “eles não de entendem!”. Pois é isso mesmo a democracia, ainda que às vezes nos custe, mas sempre é preferível a discursos uníssonos que esses partidos radicais de direita populistas mimetizados de democratas que no querem impor logo que consigam utilizar a democracia para chegarem ao poder.


As eleições europeias são importantes a vários níveis, um deles que me parecesse ser atualmente um dos mais importantes que é o de limitar, através do nosso voto, aqueles partidos a chegar ao Parlamento Europeu com a intenção de bloquearem a própria democracia.

A União Europeia pode estar em perigo – II

A extrema-direita e a estratégia para a obtenção de votos


Primavera europeia? Qual primavera? 

Extrema direita_Le PenSalvini

Matteo Salvini, vice-primeiro-ministro e líder da extrema-direita italiana, repete-as cada vez com mais enfase à medida que se aproximam as eleições de 26 de maio para o Parlamento Europeu.


Diz o líder da extrema-direita italiana querer uma “primavera europeia” contra “o eixo franco-alemão” dominante, um “renascimento dos valores europeus” contra os burocratas, uma rede pan-europeia de partidos nacionalistas. Segundo o jornal Expresso estas que não são ideias novas, são enunciadas pelo menos desde que o Governo italiano de coligação entre a Liga, partido de extrema-direita, e o Movimento Cinco Estrelas (M5E), populista, foi formado, em junho do ano passado.


Extrema direita_Grécia

Na Grécia o partido da extrema-direita neonazi consegui 18 lugares no parlamento nas eleições de 2015 apesar de ser um partido de características violentas. No final da campanha o partido neonazi grego Aurora Dourada fez uma afirmação insólita: aceitou a “responsabilidade política” do assassínio do rapper e ativista de esquerda Pavlos Fyssas, quase exatamente no segundo aniversário da sua morte e argumentou que “Enquanto falarmos de responsabilidade política, aceitamo-la, mas não há responsabilidade criminal”, disse o líder do partido, Nikos Michaloliakos, numa entrevista radiofónica. “Só porque um membro do partido teve uma ação errada, isso não quer dizer que todo o partido deva pagar”.


Até finais do século XX e princípio do século XXI o sucesso eleitoral dos partidos da direita radical autoritária e populista dependeu da combinação de nacionalismo com o neoliberalismo e com uma postura culturalmente autoritária, mas também com políticas que visavam menos redistribuição, menor tributação e redução dos gastos sociais.


As clientelas tradicionais atraídas por esses partidos eram a pequena burguesia que se dizia anti estado e a classe trabalhadora, tradicionalmente de esquerda. Nos últimos quinze ou 20 anos, aproximadamente, as suas estratégias eleitorais foram mascaradas de democratas e os partidos da extrema-direita autoritária e populista conseguiram estar representados no Parlamento Europeu e em alguns dos governos de países da U.E., alguns deles em coligação com a direita moderada. As suas posições sobre os reais pontos de vista ideológicos revelam-se e tornam-se muito mais difíceis de obscurecer quando, nos parlamentos, as leis têm de ser votadas e os orçamentos aprovados no espaço parlamentar.


Para apresentarem trabalho preparam então estratégias de distorção da sua posição político-ideológica que traduzem em propostas de reformas políticas socioeconómicas inconsistentes. Por exemplo, misturando liberalização geral com medidas protecionistas específicas (não raras vezes puramente simbólicas) e novos programas para grupos selecionados (proprietários de pequenas empresas, famílias com crianças e assim por diante) consideradas vitais para o sucesso político do governo que são um disfarce para o povo acreditar nas suas boas intenções, basta ler as intervenções dos seus líderes nos respetivos países.


Outras vezes muitos dos partidos da extrema-direita populista apresentam-se às eleições como sendo novos partidos da classe trabalhadora e, em alguns casos, estes eleitores já são, em alguns países da U.E., o grupo mais importante destes partidos. Afirmam então que o apoio da classe trabalhadora à direita radical está a aumentar constantemente, isto porque, aqueles partidos, abandonaram as suas antigas posições liberais de mercado em favor de agendas mais centristas, em consonância com as preferências de seus apoiantes mimetizando-se e virando um pouco para políticas mais à esquerda.


O caso português do recém-constituído partido “Chega”, que é agora a coligação “Basta” pode ser visto com um caso de contradições entre o que é dito pelo seu líder André Ventura e o que a sua declaração de intenções diz: “o partido Chega declara como fundamental “proteger a dignidade da pessoa humana, contra todas as formas de totalitarismo”, assim como “a promoção do bem comum”, a “defesa do Estado laico” e de “uma justiça efetiva”. O Chega defende “um Estado mais reduzido”, rejeita o “racismo, xenofobia e qualquer forma de discriminação”, quer “igualdade de oportunidades” para os portugueses e aposta no “combate à corrupção” e “numa economia forte”. Contradições e populismo verbalizados por André Ventura que até chega a defender a pena de morte.


Os partidos radicais da extrema-direita populista reorientaram-se para se expressarem de forma mais favorável, especialmente em relação às políticas sociais redistributivas, porque a classe trabalhadora, à qual pretendem conquistar votos, ainda tem um forte interesse na preservação de esquemas tradicionais de segurança social (Röth, Afonso, Spies ; 2018).

A União Europeia pode estar em perigo - I

O que se passa na Europa: o regresso às ameaças do passado?


Falta aproximadamente mês e meio para as eleições europeias e, segundo as sondagens, parece haver na U.E. uma tendência de subida de partidos extremistas de direita, populistas e nacionalistas.


Segundo um estudo que analisou quase 48 milhões de mensagens publicadas entre 15 de dezembro de 2018 e 20 de janeiro de 2019, realizado pela Alto Analytics, Big Data and Artificial Intelligence os partidos mais mencionados na Europa em debates públicos online são os eurocéticos, nacionalistas, extremistas de direita e anti-imigração.


Antes de continuar convém clarificar o que, baseado em vários investigadores, se entende por populismo no contexto deste artigo. Populismo pode ser encarado sob três conceitos principais: como ideologia, como um estilo de discurso e de narrativa e como uma forma de mobilização e estratégia política. Como ideologia é um conjunto de ideias inter-relacionadas sobre a natureza da política e da sociedade. Como estilo e característica de discurso e de narrativa tende a ser uma forma de fazer afirmações sobre política para captar através do sentimento e emoção a atenção do público a que se dirige. Como forma de mobilização e estratégia política uma forma de mobilização e organização.


Todos eles, sendo enquadrados em vários contextos sociais e políticos o discurso e as narrativas têm características populares de significado “altamente emocional e simplista” e dirigido aos "sentimentos viscerais" das populações. Guiam-se por uma política oportunista com o objetivo de, rapidamente, agradar às pessoas, potenciais eleitores. Assim, podemos considerar o populismo ainda como uma ideologia que considera a sociedade separada em dois grupos homogéneos e antagónicos, "o povo puro" versus "a elite política corrupta”.


A intensificação e o crescimento dos votos em partidos da extrema-direita populista em vários países da U.E. começam a ser preocupantes e as vozes extremistas que aparecem nas redes sociais são também uma prova disso. Para poderem justificar as alarvidades que pronunciam aquele tipo de partidos utiliza a argumentações de que, nas atuais democracias, não há liberdade de expressão. Quem sempre restringiu a liberdade, tirando a extrema-esquerda que hoje deixou de ter influência significativa, foi a extrema-direita quando esteve ou quando está no poder (censura na imprensa como na Hungria hoje em dia).


Extrema-direita e o mimetismo da democracia


Os partidos da extrema-direita, mal-aceites no passado por outros partidos mesmo os considerados de direita, apresentam-se agora nos parlamentos da maioria dos países da Europa Ocidental e participam no governo em vários deles tendo, portanto, a capacidade para influenciar a formulação de políticas nesses países, nomeadamente no impacto que possam ter nas políticas públicas.


A presença das ideias políticas de extrema-direita deve ser um desafio ético-político fundamental aos que recusam o irracionalismo, os discursos populistas e as práticas racistas, étnicas, xenófobas, sexistas e opressoras apelando a nacionalismos radicais e auto-isolacionistas.


No plano político, conservadores, e os politicamente reacionários a tudo o que advenha dum sistema democrático ou até mesmo do centro-direita pertencem em parte ao campo ideológico da direita extrema, resistindo a mudanças estruturais que sejam favoráveis às classes trabalhadoras e que levem a perdas de poder económico e político. No outro lado encontram-se os reformistas, socialistas e comunistas que se têm constituído, cada um por seu lado, em frentes comuns de defesa da democracia política. Cada um reivindica para si a defesa da democracia atacando-se mutuamente de serem causadores da sua perda em favor da extrema-direita, ou reivindicam eventuais vitórias como o que se tem verificado em Portugal onde existe um acordo parlamentar entre partidos de esquerda e de centro-esquerda.


(Continua...)

Amores à primeira vista

Escrever posts diários para blogues não é pera doce, temos que o alimentar diariamente daí que, por vezes, esteja sem chatear os eventuais leitores desta treta. Sim, chamo-lhe treta porque a minha honestidade leva a que me sacrifique ao contrário de muitos(as) outros(as) que escrevem por aí em blogues e julgam-se as(os) melhores do pequeno mundo português lá porque têm muitos milhares de visualizações. É tudo uma questão de estilo.


Amores primeira vista 1


Sou um(a) notável modelo que ultrapassa, de longe, as fronteiras do estilo na nossa limitada “blogosfera” portuguesa


A coisa é tal que, a maior parte dos blogues para voyeurs, da vida do(a) autor(a) é relatada com uma perfeição de marketing e geralmente escritos por elas e para elas.


Não sou a favor deles, nem delas, mas não deixa de ser muitas vezes constatado que elas têm mais apetência para o supérfluo. Nem só do intelecto vivem o homem e a mulher, o mundo é evadido por coisas boas, pelo menos aparentemente, e é aí que esses blogues maravilha têm sucesso fazendo-nos crer que é tudo muito a sério e intimista. Falam sobre a vida própria fazendo dela acontecimentos importantes do dia como por exemplo: «Hoje fui levar o Toninho à escola e levava uns ténis da marca “tal e quê”» - escrevem – e de seguida colocam uma fotografia do dito Toninho com os pés e os ténis em evidência tendo ao lado a fotografia da respetiva mamã numa pose de candura imaculada. Do lado de cá ficamos todos apaixonados à primeira vista.


Narciso, segundo a mitologia grega, era um rapaz muito belo filho do deus do rio Cefiso e da ninfa Liríope que foi distinguido com uma beleza ímpar. Dias antes de seu nascimento, a sua mãe foi informada pelo vidente cego Tirésias que ele teria uma vida longa, desde que nunca olhasse para a sua imagem. Ao chegar à adolescência deixou uma longa fila de donzelas de coração partido, e também alguns rapazes que ficaram à beira do caminho um dia. Um dia viu o seu próprio reflexo numa fonte de água que jorrava para um lago e apaixonou-se por si mesmo. Incapaz de se afastar da fonte da sua contemplação, teve uma crise e não se afastou, ali ficando até finalmente morrer de sede e de fome.  Narciso simboliza a vaidade e a insensibilidade, visto que ele era emocionalmente entorpecido às solicitações daqueles que se apaixonaram pela sua beleza.


Pois é, caros(as) leitores(as), expor a nossa vida aos outros(as) que não conhecemos de lado nenhum, por necessidade de ganhar a vida, é uma atitude corajosa e merece elogio, se não fosse também uma exposição narcisista. É a exploração da índole muito humana da cusquice feminina portuguesa.


Amores primeira vista 2


Ela é o estilo de um ícone da moda


Aqui, nesta treta de blogue maldizente, quiçá com um toque de invejazinha, não dou conselhos nem “bitates” publicitário sobre novos produtos para higiene íntima, que sugiro para os vossos filhos vestirem hoje para saírem de casa e irem para o infantário ou escola , nem onde deixar em tempo de férias da Páscoa os vossos filhotes, como muitas escrevem, (termo utilizado em zoologia para cria). Parece terem na manga soluções para tudo. O certo é que isso rende e tem catervas de leitoras e leitores(?).


Algumas bloguistas, refiro-me agora apenas a elas, plenas de “estilo”, sabem e conhecem tudo, elas fazem de psicólogas, médicas, enfermeiras, educadoras, conselheiras domésticas, enfim, no mostrar que se sabe de tudo é que está o ganho. São exemplos de uma vida a sério, olhem que não se diz à séria, mas a sério.


Publicar superficialidades – para isso já basto eu –- é outra coisa que está a dar e há quem os edite, e há quem os compre. O segredo é saber que há gente para tudo, já diziam os meus avós.


Estas bloguistas, dedico apenas ao género feminino porque é mais sensível e maternal, agora chamadas influenciadoras digitais, são o máximo a expor publicamente os filhos através de imagens e delas próprias, mostram o que fazem e o que não fazem, colocando-se elas próprias como sendo exemplo a seguir por imitação. Alguns blogs são autênticos mitos que foram induzidos e que frequentadoras deles ajudam a divulgar, ao mesmo tempo, lhes ajudam a ganhar a vida.



Para finalizar:


A desfrutar de uns dias de desanco em Roma, Itália, na companhia da família, Ana Garcia Martins, autora do blogue, A Pipoca Mais Doce, tem partilhado com os seus seguidores nas redes sociais várias fotografias da viagem. Porém, uma publicação, em particular, está a gerar polémica.


Numa imagem onde surge com os dois filhos, Mateus e Benedita, Ana Garcia Martins escreveu a seguinte legenda: “Sempre que possível peço ao Mateus que faça o quatro em público, só para as pessoas perceberem que não lhe administro substâncias ilícitas. E a Beni já vai pelo mesmo caminho. Depois do caso Maddie a pessoa não arrisca”.


Pode conferir em https://www.msn.com/pt-pt/entretenimento/famosos/autora-do-blogue-a-pipoca-mais-doce-criticada-ap%C3%B3s-brincadeira-com-maddie-mccann/ar-BBVLoq4?fbclid=IwAR2CGn4sXpwdqbo59q0bPRnY8WieCThSVtiJlHiEOM2OoIZkF5_U5hZx4Ck

 

Ou em

https://www.jn.pt/ntv/interior/a-pipoca-mais-doce-azeda-bloguer-arrasada-apos-brincadeira-com-maddie-mccann-10773430.html?fbclid=IwAR39gvSSlFo1Zrbi5RIvqndeWQ84O6Doh0X_fREKAwI0OK8DZDkCxBg94gw

Venham mais cinco, mas depois não digam que não sabiam

Venham mais cinco, duma assentada que eu aceito já. Não, não, se trata de copos, mas de partidos. Não são ainda cinco as cisões no seio do PSD e na sua vertente social-democrata, são dois e um movimento, tanto quanto eu saiba que vieram a público. Vem-me à memória uma canção escrita por Zeca Afonso antes do 25 de abril de 1975, mais especificamente em 1973, a que deu o nome de “Venham mais Cinco” cujos primeiros versos incluo a seguir:


Do branco ao tinto, se o velho estica eu fico por cá


Se tem má pinta, dá-lhe um apito e põe-no para andar


De espada na cinta, já crê que é rei de quem e além-mar


A inclusão destes versos, aparentemente a despropósito, está relacionada com o Movimento 5.7 lançado a 5 de julho de 2018. Ainda não percebi o significado deste tipo de nomenclatura. A data mencionada no manifesto que termina com “Nós, os nascidos a 5 de julho, e porque não somos socialistas” parece-me rebuscada. Será que este movimento quer estabelecer semelhanças com o filme nascido a 4 de julho ou com uma nomenclatura ligada a uma qualquer versão de software para computador?


O filme nascido a 4 de julho, realizado por Oliver Stone em 1990, aborda a problemática da guerra do Vietnam através de um jovem regressado através de uma narrativa baseada na realidade dos considerados heróis confrontados com preconceitos da sociedade americana para com os deficientes físicos da guerra que o leva a juntar-se a outros para lutar pelos seus direitos.


O que se escreve no manifesto é uma coisa, o que cumpre depois do poder obtido é outra. É aqui que nos devemos centrar, ficar atentos a todos as atividades demagógicas e populistas inexequíveis quando confrontados com o poder que eventualmente as eleições lhe possam vir a conferir.


Aqui não se trata de deficientes, mas de órfãos da direita ainda nostálgica do “passismo”, ainda num PSD que se tem auto estilhaçado em partidos como o “Aliança” de Santana Lopes e o indefinido e xenófobo “Chega” de Ventura Henriques. O Movimento 5.7 é um movimento que pretende a união das direitas numa espécie da AD do passado. Esta hipotética união terá como objetivo contrapor-se às “esquerdas unidas” designação grata a Assunção Cristas em contraponto ao "outros são amigos" referindo-se ao PSD.


Aparecem rostos de diferentes sectores da direita neoliberal que se juntaram para apresentar um manifesto onde se declaram “contra o imobilismo socialista e a sua conceção hegemónica do poder”. Isto é, os signatários do movimento pretendem fazer cair uma conceção hegemónica de poder para eleger outra hegemonia, a deles.


Não é por acaso que três dirigentes do CDS-PP, Cecília Meireles, vice-presidente do CDS-PP, João Almeida, porta-voz, e Ana Rita Bessa, membro da comissão executiva nomes do CDS se encontram na lista dos fundadores do movimento. Segundo eles o movimento 5.7 não é uma plataforma de lançamento de uma futura candidatura à liderança dos sociais-democratas.


Estes estratagemas da direita para tentar formar uma direita alternativa com suficiente hegemonia partidária e governativa no espetro democrático português que vem desde o 25 de Abril não são novidade, foram consequência da maioria de esquerda que se constituiu ao nível parlamentar devido ao desastre governativo de Passos Coelho e à perda da maioria eleitoral PSD+CDS-PP.


A ânsia da direita para a obtenção de uma grande aliança das direitas lançou novamente achas nestas fogueira por António Costa ter manifestado vontade que a solução política de apoio ao Governo, a chamada “geringonça”, “conclua a legislatura e se possa renovar” após as eleições legislativas, em Outubro.


Estes movimentos da direita radical que surgiu no PSD durante a liderança e o governo de Passos Coelho veio a agravar-se após eleição do novo líder Rui Rio ao que se seguiu a tentativa de Luís Montenegro para o derrubar. Estas iniciativas por parte daquela direita tiveram assim causas remotas e causas próximas estas últimas devido à perda da maioria absoluta. Como já várias vezes aqui escrevi o PSD abandonou durante a sua aliança com o CDS-PP de Paulo Portas reduzindo à ínfima espécie o caráter e a identidade e a matriz social-democrata do PSD cuja esperança da sua reconstituição foi colocada nas mãos de Rui Rio que já se esperava não faria milagres dado ás pressões internas desfavoráveis. Parece que isto se veio agora a confirmar com os nostálgicos do passado neoliberal.


A possibilidade do regresso do PSD ao passado de direita radical está aí com o Movimento 5.7 cujo rosto é Miguel Morgado daquele partido para quem o alvo a abater parece ser, nem mais, nem menos, do que Rui Rio. Os seus objetivos bem claros quando afirma que “Quer as ideias de todos: dos liberais, dos conservadores, dos democratas-cristãos, e dos sociais-democratas” é a sujeição da social democracia e dos que ainda a defendem dentro do partido a uma direita radical que perfilhe o neoliberalismo. Há nisto uma espécie de "sentimento de tristeza” diria nostálgico causado pelo afastamento das ideias resultantes do pensamento do antigo líder e dos que o apoiavam e que ainda se encontram presentes no seio do partido que atentaram e continuam a atentar contra a identidade social-democrata que vai resistindo com dificuldade.


O manifesto do Movimento 5.7, o algarismo 5 é o do dia do mês e o mês é julho e inspira-se e remete para a AD – Aliança Democrática uma Aliança partidária e governativa portuguesa, formada em 1979 pelo Partido Popular Democrático, hoje Partido Social-Democrata (PSD), liderado por Francisco Sá Carneiro, pelo Centro Democrático Social (CDS), de Freitas do Amaral, e pelo Partido Popular Monárquico (PPM), liderado por Gonçalo Ribeiro Telles constituída há quarenta anos.


Já lá vão quarenta anos e ninguém que tenha hoje esta idade sabe, a não ser pelo interesse histórico e pelo que lhe contam, passou por aqueles momentos nem não sentiu os seus efeitos, bons ou maus que foram.


O movimento é a exumação de uma aliança que teve o seu contexto político e partidário muito diferente do atual e que pretendem agora ressuscitar noutros moldes para voltar novamente ao poder que perderam em 2015. Os mais velhos, e saudosistas desse passado, poderão dar vivas a este movimento.


As pretensões do movimento são bem claras: baseiam-se no conceito de refundação dos princípios, dos valores, conceitos e ideias das direitas radicais no espaço político português que pretende reavivar.


Segundo os seus fundadores a função do movimento não é a de criar um novo partido e de não se “intrometer na agenda dos partidos, nas escolhas táticas dos partidos, e fazer um trabalho que os partidos não podem fazer” que é o de reelaboração e refundação dos princípios, dos valores, conceitos e ideias das direitas. É um projeto que tem em si mesmo uma certa utopia ideológica. Não será um partido, mas será uma plataforma unificadora de partidos.


Há alguns no PSD como Rui Rangel e Rui Rio que nos queiram confundir dizendo que são de esquerda, talvez por isso, o dito movimento que é uma congregação de direitas, queira excluir alguns sociais-democratas do seu clube o que é evidente quando Miguel Morgado afirma que “precisamos também de sociais-democratas não socialistas“ e acrescenta que “Precisamos dos sociais-democratas que coloquem como prioridade da sua atuação os membros mais desfavorecidos da nossa sociedade.”


Parece haver contradições no movimento porque se precisam de sociais-democratas não socialistas, por outro lado dizem que “colocam como prioridade da sua atuação os membros mais desfavorecidos da nossa sociedade”. Está bem manifesto nestas afirmações que, o Movimento 5.7 coloca de fora os verdadeiros sociais-democratas por considerarem que o PSD (de Rui Rio), não é um partido de direita, mas do centro, como muitos têm dito.


Atente-se nestas frases ditas por responsáveis do PSD em diferentes ocasiões:




  1. NÃO HÁ PRESSÕES QUE NOS FAÇAM ALTERAR O RUMO SOCIAL DEMOCRATA.


Não há pressões de direita ou de esquerda que nos façam alterar o nosso Programa. Não há pressões de direita ou de esquerda que nos façam alterar a nossa prática social democrata.


21-05-1978, (Discurso de Sá Carneiro na Festa do 4º Aniversário do PSD)




  1. O PARTIDO SOCIAL DEMOCRATA NUNCA SERÁ UMA FORÇA DE DIREITA.


Nós, Partido Social Democrata, não temos qualquer afinidade com as forças de direita, nós não somos nem seremos nunca uma força de direita.


21-05-1978, (Discurso de Sá Carneiro na Festa do 4º Aniversário do PSD)




  1. É um partido do centro, que vai do centro-direita ao centro-esquerda. Não é um partido de direita, tal como alguns o têm tentado caracterizar. Não é, nem nunca será.


11-10-2017, (Rui Rio).




  1. O PSD SEMPRE FOI MUITO APETECÍVEL COMO O GRANDE PARTIDO QUE PODERIA SER TRANSFORMADO NUM PARTIDO DE DIREITA POPULISTA em Portugal. Há setores que pretendem transformar o PSD nesse partido. Há uma diferença entre um partido de centro, social-democrata, moderno, enfim, aberto à sociedade e o regresso de uma direita conservadora, perigosa, que no fundo apela a diversos medos. E acho que existe esse projeto também em Portugal.


08-12-2018, (Paulo Mota Pinto, entrevista à TSF).


Quem segue as campanhas de oposição ao Governo e a António Costa pela direita radical e neoliberal sabe que, sem substância efetiva no que respeita a propostas para as finanças e para o desempenho da economia, agarra-se, sobretudo, a casos e factos pontuais e de conjuntura que são passageiros que a comunicação social, por seu lado, se encarrega de amplificar. A direita e agora o Movimento 5.7 que pretende reunir numa AD fantoche e passadista um processo que, a ganhar as eleições, passará por fazer reversões sem o dizer.  


Algumas pistas estão lá, no manifesto, alguns que irão penalizar o bolso dos contribuintes como por exemplo o de, como já, retornar à “canalização de dinheiros públicos para os colégios privados. Veja o ataque que foi feito aos contratos-associação. Sacrificamos os alunos e as famílias a um desígnio ideológico que diz que só pode haver ensino estatal.” afirmou Miguel Morgado. Não é verdade, o que se tratou foi deixar de pagar, e não extinguir estabelecimentos privados, onde já havia oferta pública. Os privados continuariam e continuam sempre a existir.


Há mentiras, a omissão também o pode ser, que, tantas vezes são repetidas que se tornam verdadeira para o cidadão comum que, aqui e ali, nos cafés, nos jornais, nos restaurantes, nas churrasqueiras, propagandas partidárias, nas redes sociais, etc., as vai passando sem olhar a potenciais consequências.


O que o movimento pretende se, de facto,  se a manobra for para a frente é aproveitar-se de populismos para nos levar novamente, desta vez sem necessidade, ao levar aos longos quatro anos de 2011 a 2015 onde se pretendia que houvesse um Portugal para uns e outro Portugal para outros, “ELES”. Depois não digam que não sabiam.

As lições de Ressabiado Silva

O nome próprio “Ressabiado” não existe, é ficcionado. Tal nome próprio nunca terá sido posto a ninguém, a não ser como alcunha. Já viram com...