Curiosidades, notícias e comentários. Opiniões sobre política do dia a dia e, ainda, ensaios sobre comunicação, sociedade, partidos políticos, demografia, sociologia, geografia, família, costumes e migrações
A vitória de Rui Rio sobre Rangel é uma colossal derrota do
aparelho do PSD perante os militantes do partido. Bastou uma sondagem, que mais
parecia um palpite, da TVI, já com chancela da CNN, para intimidar os
sindicatos de voto de Rangel e deixar livres os eleitores.
A moderação de Rio foi a única vantagem que exibiu sobre o
seu acarinhado adversário. Com a derrota, Rangel volta para Bruxelas a acabar o
mandato, a difamar o Governo e a defender as posições mais à direita, mas
arrastou consigo a plêiade de figuras públicas e figurões que não toleram a Rui
Rio a sua autonomia. Até a lei da eutanásia voltará a ser aprovada, depois de o
PR ter pretextado outra reavaliação pela próxima legislatura.
Amanhã nenhum jornal dirá que o PR foi o grande perdedor e
que será obrigado a tecer a Rui Rio as loas de que precisa para proteger o
partido ao serviço do qual interfere nos outros órgãos de soberania.
Para o PS foi um resultado prejudicial, sobretudo agora,
quando na próxima legislatura seria uma utopia contar com os partidos que lhe
chumbaram o OE-2022 na presunção de que fariam agora o que recusaram antes, e a
vitória sobre Rui Rio, a existir, será sempre mais moderada do que sobre
Rangel. Relevante é evitar que se quebrem as hipóteses de reproduzir o apoio
maioritário de esquerda a futuros governos de outras legislaturas.
Hoje vai ser uma noite de insónia para Miguel Relvas,
Marco António, Passos Coelho, Luís Filipe Meneses, Carlos Moedas e Marcelo
Rebelo de Sousa. O obscuro e poderoso líder da distrital de Lisboa é outro
derrotado, o tal que considerava Rui Rio de esquerda, ao contrário de Carlos
Moedas, o que esqueceu quem o propôs para apanhar o comboio dos notáveis ao
lado do eterno perdedor, Paulo Rangel. A tralha cavaquista foi esmagada.
Vai ser bonito ver os líderes distritais que apostavam em
Rangel e no apoio presidencial a justificarem-se aos eleitores que os
desautorizaram e a quem tinham recomendado o candidato perdedor.
Até o antigo sátrapa da Madeira, que apoiou Rui Rio contra
Rangel, se vingou de novo do PR, com quem recusou encontrar-se na Madeira.
Apoiou o candidato de quem o PR não pode dispor.
A propósito das eleições diretas no PSD, independentemente
de quem as ganhe, é fácil antecipar que, durante as próximas semanas, ouviremos
falar de entrevistas e comunicações até à saturação sobre a derrota ou a vitória
de um dos ainda candidatos.
Permito-me fazer um prognóstico sobre quem vai liderar o PSD,
se Rio ou Rangel. Com a esperança de me enganar acho que Rangel será o ganhador.
E, se o for, é válido o pensamento de quem considera que foram comentadores na
maior parte da comunicação social que para isso contribuíram.
Para os militantes do PSD, se não a maioria, o partido está
há cerca de seis anos fora da governação do país, e a saudade é
muita, e muitos dos seus boys anseiam por cargos. Muitos embarcam no mito tipo
sebastianista, isto é, delírio sentimental e ideológico, para eles verdadeiro, embora
racionalmente falso. O “passismo”, é o motor dos militantes e adeptos do PSD
que os força a acreditar na personificação de Passos Coelho e do seu ideário em
Paulo Rangel.
Como também salientei
no blogue com o título “As
eleições diretas no PSD que podem transformar-se em indiretas” Sousa Tavares
escreveu no semanário Expresso: “Rangel recusa-se a dizer o que fará se ganhar
sem maioria absoluta ou que lhe permita governar em coligação à direita ou o
que fará se o mesmo acontecer ao PS; Rio diz que o interesse do país e da
governabilidade está à frente do interesse do partido e, portanto, facilitaria
um Governo do PS minoritário, esperando que o PS fizesse o mesmo a um Governo
PSD minoritário.”
A grande diferença é que Passos Coelho quando primeiro-ministro
era pouco palavroso, nada meloso, pouco demagógico, transmitia segurança mesmo a
quem não aderia às suas ideias neoliberais e, sobretudo, não era propagandista de
ideias falsas, fazia o que estava nos seus projetos mesmo sabendo que
desagradava, ao contrário de Rangel cujo discurso é perigosamente demagógico e
falacioso e vive num ideal só dele sobre o que acha deve ser será um opositor e
um primeiro-ministro.
Desde então a verdadeira identidade política do PSD foi-se
perdendo com o Governo de Passos em coligação com Paulo Portas sob supervisão
da troika. Estava a reajustar-se com Rui Rio quando apareceram os antigos
apoiantes das políticas de Passos como Luís Montenegro e, recentemente, Paulo
Rangel que irá contribui para a lavagem daqueles anos que tem estado em curso,
para gáudio dos nostálgicos passistas.
A propósito das próximas eleições diretas no PSD a coisa
está agreste. Há dois candidatos, ambos afirmam colocar à frete os interesses do
país, mas, como em tudo, há sempre um mais interessado do que outros. A escolha
depende dos militantes do partido que soberanamente escolher um dos candidatos.
Como não sou militante a minha visão é de distanciamento e independência relativamente
a cada um dos candidatos, todavia, tendo em consideração os efeitos que cada um
poderá exercer no país, tal como a estabilidade política e social necessária, não
nego ter inclinação por um deles.
Estamos a atravessar uma crise política forçada pelos partidos
de esquerda mais radical que votaram contra o Orçamento de Estado para 2022 ao
lado da direita. O intuito talvez fosse tentarem, cada um por si, recuperar
eleitores perdidos que se afastaram do radicalismo desde as eleições de 2019 e,
recentemente, nas autárquicas atribuindo as culpas ao Governo e a António Costa.
Os dois candidatos Paulo Rangel e Rui Rio têm visões diferentes
sobre o que pretendem para o partido e para o país. Cada um dos protagonistas
tem mostrado o seu estilo de estar na política e as visões para o país. Um deles
tem projetos mais ou menos centrados no país, o outro em projetos mais pessoais
e partidários. Paulo Rangel parece-me pertencer a este último.
Paulo Rangel está rodeado de gente que, tal como ele, fizeram
parte da entourage de Passos Coelho quando foi primeiro-ministro. Ligados à fação
mais à direita do PSD que, desde Cavaco Silva, se afastaram das raízes sociais-democratas.
Personagem melíflua e palavrosa e com narrativas ao mesmo tempo sedutoras e
enganadoras, mas sem consistência centra-se numa oposição desprovida de projetos
objetivos para o país e para as pessoas. Os apoios a Rangel vêm dos neoliberais
do partido e de lóbis muito fortes de grupos e comunidades.
Aproveitando a vitória pífia de Carlos Moedas em Lisboa e do
slogan da campanha “tempos novos” Rangel adotou a estratégia de colagem admitindo
"sintonia de pontos de vista" com Moedas sobre "tempos
novos" da política. Num almoço com Paulo Rangel Moedas salientou que o almoço
serviu para dar um “grande abraço” para “dar força” ao seu “amigo” Paulo Rangel
na reta final da campanha interna para a liderança para o PSD. Mas, por
outro lado, disse rejeitar que o encontro com Rangel pudesse ser interpretado
como um apoio, afirmando que essa interpretação “é feita pelos jornalistas,
analistas e comentadores”. Estranha afirmação plena de contradição. Os “tempos novos”
são o regresso às políticas dos velhos tempos do para além da troica. Como
Moedas ganhou tangencialmente a Câmara de Lisboa Rangel terá pensado que lhe
poderia acontecer o mesmo com as legislativas caso ganhasse e viesse a ir a
votos como futuro primeiro-ministro.
A propósito, vimos, na apresentação do livro da cristalizada
jornalista Maria João Avillez, o atual presidente da Câmara de Lisboa e
ex-ministro de Passos Coelho, Carlos Moedas, na fundação Calouste Gulbenkian salientar
para os jornalistas, depois de ter assistido à apresentação do livro afirmar que
não vai “tomar posição” na disputa interna do PSD, mas, ao mesmo tempo, vai
dizendo que quer que haja uma “verdadeira oposição ao PS”, tal como Rangel vem
salientado ao longo da sua campanha.
Também, a propósito, José Saraiva escreveu, numa entrevista feita
na casa de Maria João Avillez, que “Sentados no sofá, é impossível não reparar
nas dezenas de fotografias emolduradas que quase tapam os livros numa estante
próxima. Uma delas, a preto e branco, destaca-se pela dimensão generosa e
posição proeminente. «É o meu pai com o Salazar. E está aqui muito bem» concluiu
a entrevistada.
Voltando ao candidato à liderança do PSD, Paulo Rangel, do meu
ponto de vista é um ardiloso da política cuja retórica leva a confundir quem, menos
atento, o escuta não se apercebendo dos argumentos demagógicos e sem provas
evidentes das suas afirmações decorrentes das notícias do dia e consoante as
ocasiões.
Alguns comentadores, achando-se com privilégio de oráculos, vaticinam
que António Costa prefere que Paulo Rangel ganhe as eleições diretas no PSD porque
isso se poderá traduzir nas eleições legislativas em votos para o PS!!?
O candidato Rui Rio com a sua espontaneidade fala mais para
o país e é por todos entendido. Tem a noção de que a probabilidade de uma
maioria absoluta, mesmo com outros partidos à sua direita é quase impossível. E
daí as suas propostas.
Pelo contrário de Paulo Rangel luta pelo poder e só recentemente
começou a equacionar alguma abertura para viabilizar um futuro governo. Rangel quando
questionado sobre cenários de governabilidade após as legislativas de 30 de
janeiro rejeitou um "PSD em segundo lugar" ou ser
"vice-primeiro-ministro", repetindo que vai trabalhar para liderar um
PSD com "maioria estável no parlamento" sozinho ou com coligações com
partidos da direita "moderados". O seu devaneio não tem limites e a
sua leitura da realidade está no mundo da imaginação porque está carecida de
bom senso. Afinal qual é o seu projeto para no caso de, mesmo que em coligação com
outros partidos, não conseguir a tal maioria estável?
Quanto a Rui Rio tenho ainda na memória a polémica
que se instalou com Pinto da Costa, senhor do Futebol Clube do Porto quando
ele era então presidente da Câmara Municipal do Porto e se manteve firme no seu
propósito de “reduzir a área comercial disponível para o FC Porto negociar em
cerca de 75 por cento, e isto sem apresentar qualquer proposta alternativa para
os dragões financiarem as obras do seu novo estádio. Isto apesar da troca da
área comercial para habitacional ter um custo nove milhões de euros” circunstância
que Pinto da Costa nunca lhe perdoou.
Acusado pelos radicais da ala direita do PSD de ser a muleta
do PS ele responde em função do que é melhor para o país. Rui Rio não defende um
bloco central (PSD+PS) coisa hoje em dia pouco provável o que Rui Rio assume é que
está disponível para viabilizar um Governo do PS.
Paulo Rangel faz a predição da instabilidade garantindo que
só haverá estabilidade com maioria absoluta do PSD. A pergunta é: e se o PSD ganhar
sem maioria absoluta, mesmo em coligação com partidos à sua direita, não a conseguir?
E se ao recusar, como claramente afirmou, qualquer alinhamento com o partido Chega
provocará nova crise política?
Os que pretendem desacreditar Rui Rio não dão crédito aos
argumentos de “estabilidade”, “responsabilidade” e “sentido de Estado” que vão
de encontro a muitos portugueses ao contrário do posicionamento ideologicamente
marcado de Paulo Rangel que é muito mais neoliberal liberal e nunca afirmou que
o PSD é um partido do centro – onde se ganham eleições – e muito menos de
esquerda. O facto é que os partidos sociais-democratas na U.E. estão no grupo político
mais à esquerda e ao centro (S&D) onde se inclui o PS, tal como o SPD da Alemanha,
agora no governo deste país. O PSD inclui-se no grupo da direita e
centro-direita (PPE). Portanto mesmo que Rui Rio anuncie que o PSP é um partido
de esquerda, perde o seu tempo o esforço estará numa aproximação ao centro-esquerda
que se encontra entre o centro e a esquerda no espectro ideológico.
Sejas como for não faço vaticínios, mas talvez fosse mais
útil ao país uma vitória de Rui Rio nas eleições internas do PSD.
Ao acabar de escrever este texto numa sondagem
da Pitagórica divulgada pela TVI, o PSD teria melhor resultado nas
legislativas de janeiro se fosse o atual presidente do partido
social-democrata, Rui Rio, o líder.
Neste blog já abordei o tema do temor de maiorias absolutas
manifestado pelo PCP e pelo BE. A propósito entrou na calha a vez a Jorge
Cordeiro, membro da comissão política do PCP, defender, quinta-feira 11 de
novembro, que uma maioria absoluta aproximaria o PS de uma política de direita
e premiaria o partido que "devia ser castigado" ao mesmo tempo que
acusa António Costa de apropriação de propostas apresentadas pelo PCP.
Acusa e tenta descredibilizar António Costa ao afirmar que
ele fez bluff nas negociações porque queria eleições legislativas
antecipadas e acusa ainda o PS de se apropriar “indevidamente” de propostas do
PCP para as incluir no programa eleitoral com que se apresentará ao eleitorado
nas eleições de 30 de janeiro. Permitam-me duvidar de Jorge Cordeiro. Será que
o bluff vem só de um lado? Durante todo o debate sobre o OE para 2022 o bluff
partiu do PCP.
Como pode ler aqui as maiorias absolutas são, para o BE
e para o PCP, uma obsessão fóbica. Estes partidos e os seus dirigentes têm um
medo patológico de carácter obsessivo de que se possa vir a concretizar uma
maioria absoluta do PS o que se torna evidente quando Jorge Cordeiro concretiza
que “o PS tinha um objetivo: alcançar a maioria absoluta, porque imagina que
com essa maioria absoluta pode ficar mais livre para fazer aquilo que quiser”.
A pergunta que também que se pode colocar é: e se a direita
conseguir uma maioria absoluta já não há problema? A atitude anti PS é uma
visão das esquerdas radicais que parece indiciar que, para elas, é pior uma
maioria absoluta do PS do que uma maioria absoluta da direita PSD sem ou em
coligação com outros partidos como já se verificou no passado quando o BE e o
PCP votaram ao lado da direita abrindo alas ao governo de Passos Coelho.
O empenho em recuperar votos perdidos é tal que o bom senso
se perde na verborreia partidária do PCP e do BE. Uma coisa é fazer campanha
para fazer passar uma mensagem com propostas concretas ao eleitorado para
captar votos, outra é fazer campanha com ataques sistemáticos, sem fundamento
válido. É evidente o objetivo. O partido donde poderão captar votos por algum
descontentamento é o PS. A atitude anti PS do PCP não é nova. No passado
o seu alvo de ataque era também o PS. Aliás, Jorge Cordeiro não se acanha em
afirmar isso mesmo: “as eleições são uma oportunidade para o reforço da CDU com
a garantia de que com mais deputados poderemos ter melhores condições para
assegurar uma trajetória política no país que valorize salários, direitos e o
SNS”. Nada de novo, as ferramentas mobilizadoras do PCP para melhorar e fazer
crescer o país são os sucessivos aumentos de salários, aumentar direitos e ao
mesmo tempo reduzir deveres e menos horas de trabalho. A demagogia no seu
melhor. Tudo isto é socialmente justo desde que isso não possibilite debilitar
empresas, aumentar o desemprego e quebrar o país. Quanto ao SNS, o BE e o PCP
nada concretizam, a direita também faz oposição utilizando os mesmos
argumentos, portanto, também aqui nada de novo o que nos apresentam aqueles
partidos.
Quando há eleições, como os portugueses já se habituaram, o
objetivo assenta na tónica do ataque ao PS. Para aqueles partidos o alvo não é
a direita. A direita, para o PCP e o BE, transforma-se então numa aliada.
Tal e qual como diz Fernando Rosas num artigo de opinião com
o título Tempo dos Oráculos onde critica comentadores que, segundo ele,
“sentenciam que a esquerda consumir-se-á no fogo dos infernos e o regresso ao
bloco central ou à direita desenha-se certo nos despojos da razão.” Nem a
propósito, porque para se ter o voto dos eleitores o que importa são as
intervenções que o intimidem e manipulem. O voto pelos projetos para o país,
muitas vezes inexequíveis, ficam para segundo plano.
A propósito do CDS tem-se verificado que os portugueses não
apreciam radicalismos e que se situam mais ou menos no centro político e que a propósito
de eleições antecipadas, alguns líderes partidários, comentadores, analistas
políticos, sobretudo os que afinam o seu mecanismo narrativo pelo lado ideológico
à direita têm anunciado que, politicamente, e referindo-se sobretudo ao PS,
partido do Governo, está em fim de ciclo, está esgotado.
Não é o Governo que está em fim de ciclo, como nos
querem fazer crer, são os partidos tradicionais partidos da direita que ajudaram
a construir a democracia, que parecem estar há algum tempo em fim de ciclo,
talvez desde que partidos como o Iniciativa Liberal e o Chega foram constituídos.
O PSD e o CDS-PP, sobretudo este último, tiveram falta de
visão. Foram eles que criaram as condições para o surgimento de partidos mais à
direita, sobretudo como consequência do mandato de Passos Coelho e Paulo Portas
e da formação da chamada “geringonça”. O abandono do debate ideológico e estratégias
imediatistas para chegarem ao poder terão para isso contribuído. Para poderem conquistar
votos ou alinhavam mais à direita ou mais à esquerda consoante opiniões e sondagens.
Ora se assumiam à direita, ora se afirmavam como sendo do centro, ora do centro-direita.
Também a propósito, o que está a passar-se no CDS não
deveria estar a acontecer. Como desconheço o que se passa internamente nos
partidos, a não ser pelos órgãos de comunicação, pouco ou nada posso acrescentar
não ser algumas opiniões sobre as causas dos problemas internos que se refletem
no contexto democrático do país.
Culpabilizar e responsabilizar um líder eleito por maioria em
26 de janeiro de 2020 no 28º Congresso do partido pelas perdas de votos nas
autárquicas a menos de um ano após ter sido eleito parece-me um pouco oportunismo
dos que se lhe estão a opor, nomeadamente o apagado e deslocado no Parlamento
Europeu Nuno Melo.
O CDS-PP não é como têm dito o partido fundador da democracia.
O partido procurava corporizar politicamente as ideias da direita moderada e
foi conotado com os setores mais conservadores da sociedade portuguesa e, por
isso, sofreu ataques pela esquerda mais radical. Foi um dos partidos de direita
atores no estabelecimento da democracia, embora na altura nem sempre alinhasse no
processo democrático pelos melhores motivos devido a possíveis ligações com movimentos
da extrema-direita, mas foi-se aos poucos democratizando sobretudo com o seu
presidente já falecido Freitas do Amaral.
O que se tem passado ultimamente passado no CDS não é nada
bom e pode acabar com a sua extinção cujos militantes e simpatizantes poderão
ir engrossar a Iniciativa Liberal, talvez menos o PSD e até mesmo o Chega, o
que não é nada bom para a nossa democracia dado que os partidos radicais de
direita que existem por aí ávidos por arrecadar algumas franjas das direitas. Note-se
que o votante destes dois últimos partidos na sua maioria supõe-se serem oriundos
do PSD e do CDS-PP, poucos terão vindo das esquerdas.
O CDS sendo um partido de direita nunca foi até agora um liberal
radical apesar do seu atual líder dizer em outubro de 2019 que era admirador da
ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher e do antigo presidente
norte-americano Ronald Reagan, dois políticos neoliberais conservadores. Em
janeiro de 2020 confessava-se admirador de Paulo Portas. O CDS é um partido que,
bem liderado, poderá recuperar alguns votos que perdeu para outros partidos.
A não ser quem fala em fim de ciclo do Governo com o
objetivo de induzir quem os escuta a uma deslocação para a direita, não há nota
nem provas disso, a não ser circunstanciais, que aponte para um fim de ciclo.
Para tal teríamos que conhecer se haverá ou não deslocação de votos dos chamados
flutuantes para a direita pois estes eleitores são os que determinam muitas
vezes qual o(s) partido(s) que vão ocupar cargos de governação. São estes eleitores
voláteis que oscilam com as suas preferências de voto de uma eleição para outra
e que poderão orientar-se para o Chega e para a Iniciativa Liberal engrossando
as suas fileiras.
Assim sendo, uma coligação entre o centro-esquerda e centro-direita
poderia ser uma opção, mas não é bem aceite por vários setores sociais e partidos
nem por esse “passadista” Paulo Rangel candidato a líder do PSD. Por outro lado,
a ser concretizada poderia, a prazo, causar instabilidade social e movimentações
sindicais condicionados por partidos da esquerda radical.
O exemplo da Alemanha que foi governada mais de dezasseis
anos pela chamada “Grande Coligação” demonstra-nos a possibilidade ou não de o
mesmo poder acontecer em Portugal. A nossa cultura política e o ambiente social
são diferentes da Alemanha, mas uma adaptação dos princípios poderia ser ajustada.
Vejamos quais os argumentos, as principais vantagens e os princípios que presidiram
à formação de uma grande coligação no caso alemão, mas que se poderia a adequar
ao caso português. Ao contrário do sistema bipartidário, as coligações evitam a
polarização social e obrigam os partidos a criatividade na capacidade de
compromissos. Quando nenhum partido político, por si só, consegue uma maioria no
Parlamento torna-se necessário uma solução bi ou pluripartidária.
Para além de maiorias absolutas nos parlamentos o que pode contribuir
para a estabilidade são também os acordos de coligação que se caracterizam por acordos
entre parceiros de coligação, no início de um período legislativo sobre as
metas que pretendem atingir nos próximos anos. Embora com enquadramento
diferente foi o que aconteceu em Portugal à esquerda com a “geringonça” desde
2015 que agora mordeu a corda graças à radicalização dos partidos à esquerda do
PS.
Em Portugal desconfia-se de maiorias absolutas, e os
partidos, sobretudo os da esquerda radical fazem os possíveis para, nos
momentos eleitorais, diabolizar as maiorias absolutas como sendo um mal, talvez
aproveitando-se das más experiências a que o país esteve sujeito quando foram eleitoralmente
concretizadas à direita. Contudo, maiorias aritméticas parlamentares têm
mostrado ser uma boa opção. É óbvio que isto também depende do conteúdo ideológico
e programático dos partidos que se apresentam a essa solução.
Com Rui Rio na liderança do PSD um acordo pós-eleitoral a
nível parlamentar poderia ser uma hipótese a considerar, uma espécie de
coligação semáforo, uma espécie de geringonça ao centro e centro-esquerda. Neste
caso faria sentido houver conversações bilaterais entre o PS e o PSD, já que
existe matéria em comum que pudessem estabelecer. Todavia, as bases do PS mais
à esquerda e as mais à direita no PSD forçariam o bloqueio desta solução.
A campanha de propaganda a Paulo Rangel para projetar e purificar
a sua imagem política e pessoal já começou com o apoio de alguns órgãos de
comunicação. O que já era espectável. Desde que Rui Rio é líder do PSD tem
havido tentativas para o desmontar do cavalo do poder no partido.
Em 2020 Paulo Rangel apoiou Rui Rio na disputa interna
desencadeada por Luis Montenegro e por Miguel Pinto Luz, propõe-se agora à
corrida para montar o cavalo apetecível do poder, primeiro no PSD e quiçá do
governo do país se, eleito líder do partido. Justifica o propósito da sua
candidatura a líder do PSD pelo seu posicionamento mais ao centro e por
considerar que tem uma “visão de médio prazo”.
Anos antes esteve ao lado da ala mais à direita do PSD com
Cavaco Silva e Passos Coelho e numa entrevista ao programa Grande Reportagem na
RTP3 abriu portas a um acordo com CDS-PP e com a Iniciativa Liberal. Só não se
pronunciou quanto ao Chega como em política tudo é possível não sabemos se para
conseguir uma maioria de direita no Parlamento não o chamará para uma aliança.
Aliás o próprio Rui assim fez nos Açores. Hoje Rangel afirmou numa entrevista à
TSF que o PSD deve ambicionar governar o país e rejeita a ideia de uma aliança ao
Chega, talvez não, mas há outras formas obter apoios. Com Rangel há sempre incógnitas
na equação política.
Em dezembro de 2019 o eurodeputado do PSD não encontrava no
discurso de André Ventura "nenhum fascismo - até agora, não quer dizer que
no futuro não seja assim" e, sobretudo, discorda dos que procuram
diabolizar o deputado único do Chega. Bem, dá que pensar!
Paulo Rangel esteve sempre alinhado com potenciais caminhos onde
se encontra o poder e que o pudessem levar até lá. Passado uma década, depois
de ter disputado a liderança e perdido para Pedro Passos Coelho, e sendo eurodeputado
desde 2009 vai concorrer pela segunda vez à presidência do PSD desta vez contra
Rui Rio.
Rui Rio escolheu Rangel como ‘número 1’ a Bruxelas em 2017
com o PSD quando desta vez, sozinho, registou o pior resultado de sempre nestes
sufrágios, pouco abaixo dos 22%, o que levou Rui Rio a afirmar sobre Rangel que
“Podia ser compreensível que mudássemos, podia vir uma outra pessoa. Mas face
àquilo que são as características dele e às características que precisamos, ele
simplesmente não é dispensável desse cargo e faz todo o sentido fazer mais um
mandato”.
Depois do chumbo do Orçamento de Estado para 2022 alguns órgãos
de comunicação iniciaram a promoção do produto Rangel como candidato à
liderança do PSD. Mesmo o Presidente da República fez a sua ação promocional de
Paulo Rangel ao receber, nesta fase crítica do país e sem justificação
objetiva, um elemento que é apenas um candidato à liderança de um partido. Mas Rangel
representa também a figura do candidato de alguns grupos sociais minoritários
que são um lóbi poderoso. Não sabemos se farão ou não parte rede de contactos
internacionais que pode ser útil ao partido como ele afirmou numa entrevista.
Pelo que conheço de Paulo Rangel, que é apenas pela análise
das suas intervenções, entrevistas, debates televisivos e comentário político, noto
que os seus melhores atributos se baseiam nos seus dotes oratórios, na retórica
falaciosa que utiliza nos debates políticos. Em resumo: é uma espécie de
tagarela da política que altera a visão dos factos de forma bem construída com
o objetivo de iludir quem o escuta e quem esteja pouco atento às suas
narrativas e ao desenrolar da política.
Numa entrevista referiu-se ao clientelismo do PS. Fase a
alguns factos terá alguma razão. Mas quem tem telhados de vidro o melhor é
ficar calado. A pergunta que se coloca é qual o partido que não tem clientelas.
O PSD também é um herói do dito clientelismo vejam-se quando se prevê trocas de
líder a procura que cada um faz de clientelas
de apoio que depois poderão ter consequência nas distribuição de poderes.
Rangel é uma espécie de embusteiro da política, com arte, de
tal modo que os desprevenidos nem dão pelo engano. As suas intervenções políticas
são lustrosas, demagogicamente e aparentemente consistentes e ao mesmo tempo
obscuras porque não se lhe vislumbram as intensões por se concentrar apenas no
ataque dos adversários políticos e menos nos seus projetos para o partido e
para país. À pergunta se já tinha um programa do partido para as eleições a
resposta foi ainda não, mas isso é uma coisa que se faz rapidamente. Claro
faz-se qualquer que não será exequível apenas para convencer eleitores. Rangel
escolhe bem e manipula as palavras que acha terão mais impacto nos mais
iletrados que o escutam que não conseguem vislumbrar os seus esquemas
silogísticos falaciosos.
A repetição de palavras sinónimas que enchem a frase sem explicitação
completa do pensamento, e com adjetivações sucessivas são uma estratégia que
ajuda a reter a ideia no ataque que pretende fazer passar. O estribilho “dizer
com toda a clareza” tem o objetivo de fazer crer que a sua mensagem tem credibilidade.
Bem-falante Rangel é um tribuno da narrativa política, um embusteiro de casaca
que se faz acreditar através de patranhas muito bem construídas montadas por
raciocínios que deturpam a realidade objetiva recorrendo a figuras de estilo
linguístico como a linguagem metafórica, perífrases, anáforas, eufemismos para
reforçar as suas mensagens. Tomemos como exemplo as suas próprias palavras ao
dizer que pretende ser “Um líder aberto, um líder executivo, um líder agregador”,
linguagem anafórica que cria algum impacto. Há um outro chavão que Rangel recuperou
de 2007 que é a de que “Portugal vive uma verdadeira claustrofobia
constitucional, verdadeira claustrofobia democrática”.
O alvo de Paulo Rangel não é apenas o PS é, sobretudo, António
Costa a quem faz ataques pessoais, com o seu estilo lustroso. Ele sabe que é
por ai que terá margem de manobra para atrair apoiantes. Todavia, ofende-se quando é ele o visado. Repare-se
que Rangel disse que António Costa era viscoso. “Com costa é tudo mais viscoso,
mais gasoso” afirmou publicamente numa entrevista *a revista Visão sua
apoiante. Não será isto ataque pessoal? Deteta-se em Rangel algum cinismo
enganoso, uma espécie de “santinho de pau carunchoso”, que é sinónimo de pessoa
de aspeto sonso e coração velhaco. A sua própria divulgação pública de que é homossexual
faz parte da sua estratégia política.
Os portugueses não precisam de primeiros-ministros
bem-falantes com vocabulário rico, para muitos, incompreensível, com retóricas
enganadoras e sedutoras. Ele próprio o afirmou ao dizer que pretende “cativar”,
“seduzir” as pessoas. Compare-se com o primeiro-ministro inglês ou o francês
que falam direta e claramente ao povo sem uma comunicação rebuscada.
Como é sabido o combate democrático desenrola-se em muitas e
variada circunstância no espaço dos meios de comunicação que o torna possível, mas
que tantas vezes contribui para exagerar alguns dos seus defeitos promovendo um
regime baseado na negatividade.
Num momento em que os cidadãos têm mais necessidade de
informação para terem uma ideia acerca do que se está a passar para poderem
tomar decisões apropriadas os meios de comunicação social alimentam e distorcem
a visão dos temas políticos de tal modo que acabam por gerar desesperos e ansiedades
inúteis. Eles alimentam o desencanto e a desconfiança em vez de explicarem a
normalidade democrática. As pessoas ficariam a saber que as coisas não são tão
graves quanto nos fazem crer. Neste contexto o verbo distorcer não significa
falsidade. É mais no sentido relativo do que absoluto tendo em conta as
conotações que se pode tomar de um texto noticioso.
Por outro lado, as pessoas prestam mais atenção aos
pormenores triviais do que aos assuntos políticos centrais e que não sejam expostos
em toda a sua complexidade. É a preferência pelo sensacional que pode ser
explicado pelo facto de a política ser um tema aborrecido e até irritante o que
coloca os meios de comunicação face ao desafio de a tornar interessante para os
consumidores diários. A sensação que nos fica é que apenas o escândalo o
desastre, o que é mau, é notícia. Nunca se fala nos meios de comunicação do que
corre bem, mas quase sempre do que corre mal daí se chegar à conclusão de que
tudo é mal feito.
Este meu exercício de opinião tem a ver com as atribulações
que se passam no PSD e com a crise que resultou do chumbo do Orçamento de
Estado. O que Rangel trará para o país, se por acaso for eleito líder do PSD, é
o seu posicionamento ideológico à direita na linha de Cavaco Silva e de Passos
Coelho. Basta vermos que Poiares Maduro,
antigo ministro da Presidência de Passos Coelho foi escolhido para coordenador
das bases do seu programa e Fernando Alexandre, ex-secretário de Estado Adjunto
do ministro da Administração Interna também do governo de Passos Coelho, que será
o responsável pela coordenação da parte económica. Aliás, como Rangel afirmou
na entrevista à RTP3 poderá recorrer ao apoio da direita CDS-PP e IL, mas, por
outro lado, diz-se do centro-direita.
Vejamos os grupos a que pertencem no parlamento Europeu os
dois principais partidos PSD e PS. Os dois principais grupos do Parlamento
Europeu são o PPE – Partido Popular Europeu, agrupamento partidário democrata
cristão/conservador, onde estão incluídos o PSD e CDS-PP. O Grupo S&D, Aliança
Progressista dos Socialistas e Sociais-Democratas a que pertencer o PS. A CDU
(PCP+PEV) pertence ao grupo GUE/NGL - Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda
Nórdica Verde.
O PSD está no grupo da direita e centro-direita e o PS
encontra-se no grupo dos sociais-democratas de que também faz parte o SPD Partido
Social-Democrata da Alemanha que ganhou as últimas eleições com uma diferença
mínima da CDU/CSU.
Posto isto o que pretendo demonstrar é que o PSD não faz
parte do grupo dos sociais-democratas onde se encontra o PS como prendem fazer crer
isto porque é importante para a luta interna pela liderança do PSD. Há,
portanto, duas tendências: uma aproximada à social-democracia que é Rui Rio e
outra mais de direita, mas neoliberal que é a de Paula Rangel.
Para terminar, e apenas como curiosidade histórica podem ver
o vídeo de 08/08/3013 que abaixo incluo.