Pode ler este texto no blogue original em A Propósito de Tudo
A campanha de propaganda a Paulo Rangel para projetar e purificar
a sua imagem política e pessoal já começou com o apoio de alguns órgãos de
comunicação. O que já era espectável. Desde que Rui Rio é líder do PSD tem
havido tentativas para o desmontar do cavalo do poder no partido.
Em 2020 Paulo Rangel apoiou Rui Rio na disputa interna
desencadeada por Luis Montenegro e por Miguel Pinto Luz, propõe-se agora à
corrida para montar o cavalo apetecível do poder, primeiro no PSD e quiçá do
governo do país se, eleito líder do partido. Justifica o propósito da sua
candidatura a líder do PSD pelo seu posicionamento mais ao centro e por
considerar que tem uma “visão de médio prazo”.
Anos antes esteve ao lado da ala mais à direita do PSD com
Cavaco Silva e Passos Coelho e numa entrevista ao programa Grande Reportagem na
RTP3 abriu portas a um acordo com CDS-PP e com a Iniciativa Liberal. Só não se
pronunciou quanto ao Chega como em política tudo é possível não sabemos se para
conseguir uma maioria de direita no Parlamento não o chamará para uma aliança.
Aliás o próprio Rui assim fez nos Açores. Hoje Rangel afirmou numa entrevista à
TSF que o PSD deve ambicionar governar o país e rejeita a ideia de uma aliança ao
Chega, talvez não, mas há outras formas obter apoios. Com Rangel há sempre incógnitas
na equação política.
Em dezembro de 2019 o eurodeputado do PSD não encontrava no
discurso de André Ventura "nenhum fascismo - até agora, não quer dizer que
no futuro não seja assim" e, sobretudo, discorda dos que procuram
diabolizar o deputado único do Chega. Bem, dá que pensar!
Mas há mais, o mesmo eurodeputado do PSD Paulo Rangel
afirmou em setembro que o antigo primeiro-ministro Pedro
Passos Coelho deve ser "uma inspiração" para o país.
Paulo Rangel esteve sempre alinhado com potenciais caminhos onde
se encontra o poder e que o pudessem levar até lá. Passado uma década, depois
de ter disputado a liderança e perdido para Pedro Passos Coelho, e sendo eurodeputado
desde 2009 vai concorrer pela segunda vez à presidência do PSD desta vez contra
Rui Rio.
Rui Rio escolheu Rangel como ‘número 1’ a Bruxelas em 2017
com o PSD quando desta vez, sozinho, registou o pior resultado de sempre nestes
sufrágios, pouco abaixo dos 22%, o que levou Rui Rio a afirmar sobre Rangel que
“Podia ser compreensível que mudássemos, podia vir uma outra pessoa. Mas face
àquilo que são as características dele e às características que precisamos, ele
simplesmente não é dispensável desse cargo e faz todo o sentido fazer mais um
mandato”.
Depois do chumbo do Orçamento de Estado para 2022 alguns órgãos
de comunicação iniciaram a promoção do produto Rangel como candidato à
liderança do PSD. Mesmo o Presidente da República fez a sua ação promocional de
Paulo Rangel ao receber, nesta fase crítica do país e sem justificação
objetiva, um elemento que é apenas um candidato à liderança de um partido. Mas Rangel
representa também a figura do candidato de alguns grupos sociais minoritários
que são um lóbi poderoso. Não sabemos se farão ou não parte rede de contactos
internacionais que pode ser útil ao partido como ele afirmou numa entrevista.
Pelo que conheço de Paulo Rangel, que é apenas pela análise
das suas intervenções, entrevistas, debates televisivos e comentário político, noto
que os seus melhores atributos se baseiam nos seus dotes oratórios, na retórica
falaciosa que utiliza nos debates políticos. Em resumo: é uma espécie de
tagarela da política que altera a visão dos factos de forma bem construída com
o objetivo de iludir quem o escuta e quem esteja pouco atento às suas
narrativas e ao desenrolar da política.
Numa entrevista referiu-se ao clientelismo do PS. Fase a
alguns factos terá alguma razão. Mas quem tem telhados de vidro o melhor é
ficar calado. A pergunta que se coloca é qual o partido que não tem clientelas.
O PSD também é um herói do dito clientelismo vejam-se quando se prevê trocas de
líder a procura que cada um faz de clientelas
de apoio que depois poderão ter consequência nas distribuição de poderes.
Rangel é uma espécie de embusteiro da política, com arte, de
tal modo que os desprevenidos nem dão pelo engano. As suas intervenções políticas
são lustrosas, demagogicamente e aparentemente consistentes e ao mesmo tempo
obscuras porque não se lhe vislumbram as intensões por se concentrar apenas no
ataque dos adversários políticos e menos nos seus projetos para o partido e
para país. À pergunta se já tinha um programa do partido para as eleições a
resposta foi ainda não, mas isso é uma coisa que se faz rapidamente. Claro
faz-se qualquer que não será exequível apenas para convencer eleitores. Rangel
escolhe bem e manipula as palavras que acha terão mais impacto nos mais
iletrados que o escutam que não conseguem vislumbrar os seus esquemas
silogísticos falaciosos.
A repetição de palavras sinónimas que enchem a frase sem explicitação
completa do pensamento, e com adjetivações sucessivas são uma estratégia que
ajuda a reter a ideia no ataque que pretende fazer passar. O estribilho “dizer
com toda a clareza” tem o objetivo de fazer crer que a sua mensagem tem credibilidade.
Bem-falante Rangel é um tribuno da narrativa política, um embusteiro de casaca
que se faz acreditar através de patranhas muito bem construídas montadas por
raciocínios que deturpam a realidade objetiva recorrendo a figuras de estilo
linguístico como a linguagem metafórica, perífrases, anáforas, eufemismos para
reforçar as suas mensagens. Tomemos como exemplo as suas próprias palavras ao
dizer que pretende ser “Um líder aberto, um líder executivo, um líder agregador”,
linguagem anafórica que cria algum impacto. Há um outro chavão que Rangel recuperou
de 2007 que é a de que “Portugal vive uma verdadeira claustrofobia
constitucional, verdadeira claustrofobia democrática”.
O alvo de Paulo Rangel não é apenas o PS é, sobretudo, António
Costa a quem faz ataques pessoais, com o seu estilo lustroso. Ele sabe que é
por ai que terá margem de manobra para atrair apoiantes. Todavia, ofende-se quando é ele o visado. Repare-se
que Rangel disse que António Costa era viscoso. “Com costa é tudo mais viscoso,
mais gasoso” afirmou publicamente numa entrevista *a revista Visão sua
apoiante. Não será isto ataque pessoal? Deteta-se em Rangel algum cinismo
enganoso, uma espécie de “santinho de pau carunchoso”, que é sinónimo de pessoa
de aspeto sonso e coração velhaco. A sua própria divulgação pública de que é homossexual
faz parte da sua estratégia política.
Os portugueses não precisam de primeiros-ministros
bem-falantes com vocabulário rico, para muitos, incompreensível, com retóricas
enganadoras e sedutoras. Ele próprio o afirmou ao dizer que pretende “cativar”,
“seduzir” as pessoas. Compare-se com o primeiro-ministro inglês ou o francês
que falam direta e claramente ao povo sem uma comunicação rebuscada.
Como é sabido o combate democrático desenrola-se em muitas e
variada circunstância no espaço dos meios de comunicação que o torna possível, mas
que tantas vezes contribui para exagerar alguns dos seus defeitos promovendo um
regime baseado na negatividade.
Num momento em que os cidadãos têm mais necessidade de
informação para terem uma ideia acerca do que se está a passar para poderem
tomar decisões apropriadas os meios de comunicação social alimentam e distorcem
a visão dos temas políticos de tal modo que acabam por gerar desesperos e ansiedades
inúteis. Eles alimentam o desencanto e a desconfiança em vez de explicarem a
normalidade democrática. As pessoas ficariam a saber que as coisas não são tão
graves quanto nos fazem crer. Neste contexto o verbo distorcer não significa
falsidade. É mais no sentido relativo do que absoluto tendo em conta as
conotações que se pode tomar de um texto noticioso.
Por outro lado, as pessoas prestam mais atenção aos
pormenores triviais do que aos assuntos políticos centrais e que não sejam expostos
em toda a sua complexidade. É a preferência pelo sensacional que pode ser
explicado pelo facto de a política ser um tema aborrecido e até irritante o que
coloca os meios de comunicação face ao desafio de a tornar interessante para os
consumidores diários. A sensação que nos fica é que apenas o escândalo o
desastre, o que é mau, é notícia. Nunca se fala nos meios de comunicação do que
corre bem, mas quase sempre do que corre mal daí se chegar à conclusão de que
tudo é mal feito.
Este meu exercício de opinião tem a ver com as atribulações
que se passam no PSD e com a crise que resultou do chumbo do Orçamento de
Estado. O que Rangel trará para o país, se por acaso for eleito líder do PSD, é
o seu posicionamento ideológico à direita na linha de Cavaco Silva e de Passos
Coelho. Basta vermos que Poiares Maduro,
antigo ministro da Presidência de Passos Coelho foi escolhido para coordenador
das bases do seu programa e Fernando Alexandre, ex-secretário de Estado Adjunto
do ministro da Administração Interna também do governo de Passos Coelho, que será
o responsável pela coordenação da parte económica. Aliás, como Rangel afirmou
na entrevista à RTP3 poderá recorrer ao apoio da direita CDS-PP e IL, mas, por
outro lado, diz-se do centro-direita.
Vejamos os grupos a que pertencem no parlamento Europeu os
dois principais partidos PSD e PS. Os dois principais grupos do Parlamento
Europeu são o PPE – Partido Popular Europeu, agrupamento partidário democrata
cristão/conservador, onde estão incluídos o PSD e CDS-PP. O Grupo S&D, Aliança
Progressista dos Socialistas e Sociais-Democratas a que pertencer o PS. A CDU
(PCP+PEV) pertence ao grupo GUE/NGL - Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda
Nórdica Verde.
O PSD está no grupo da direita e centro-direita e o PS
encontra-se no grupo dos sociais-democratas de que também faz parte o SPD Partido
Social-Democrata da Alemanha que ganhou as últimas eleições com uma diferença
mínima da CDU/CSU.
Posto isto o que pretendo demonstrar é que o PSD não faz
parte do grupo dos sociais-democratas onde se encontra o PS como prendem fazer crer
isto porque é importante para a luta interna pela liderança do PSD. Há,
portanto, duas tendências: uma aproximada à social-democracia que é Rui Rio e
outra mais de direita, mas neoliberal que é a de Paula Rangel.
Para terminar, e apenas como curiosidade histórica podem ver
o vídeo de 08/08/3013 que abaixo incluo.
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