Política

Ouço dizer todos os dias

 

Contatei há muitos anos com Maria do Céu Guerra no espaço de um café na baixa lisboeta e por um breve tempo. Tinha-me sido apresentada por um amigo meu de longa data que com ela tinha trabalhado. Isto foi, já lá vão décadas, e a idade não perdoa.

Para quem não saiba quem é Maria João Guerra pode saber mais sobre ela AQUI.

Li este texto no Facebook e tomei a liberdade de o publicar com título da minha autoria a partir do texto sobre o qual não teço quaisquer comentários discordantes ou concordantes. Se alguém tiver dúvidas do que ela escreve que as tente esclarecer por si próprio!

 

Citação de um texto de MARIA DO CÉU GUERRA

"Ouço dizer todos os dias aos nossos clarividentes comentadores e jornalistas políticos que o António Costa está cansado. O governo está cansado!

Cansado? De que será?

- Não equilibrou a economia que o PSD (aluno exemplar da Troika já reconhecidamente errada e criminosa) estilhaçou?

- Não devolveu a dignidade ao nosso País na sua posição de membro respeitável e civilizado da Comunidade Europeia?

- Não organizou um SNS com antecedência para responder à Pandemia (estou daqui a pensar nas difamações de despesismo da direita se a Saúde pública estivesse antes do Covid-19 apetrechada pelo governo socialista para responder ao triplo das suas necessidades)?

- Não tentou acorrer ao desemprego com o Lay-off?

- Não investiu na organização de um país mais solidário?

- Não tentou (sem a mão estendida nem a cerviz dobrada dos anteriores poderes) recolher apoios em todas as plataformas europeias que com mais ou menos dificuldade se lhe abriram?

- Não tentou cicatrizar (com menos êxito embora do que desejaria) as feridas abertas com a sangria da emigração de jovens qualificados (que o convite criminoso do governo anterior abriu)?

- Não tentou sempre proteger a saúde física e mental e a vida dos seus compatriotas (a lutar com um inimigo desconhecido que todos os dias lhe fazia novas rasteiras e emboscadas)?

Que seria de Portugal se durante estes dois anos estivesse no poder um Passos Coelho ou um Durão Barroso a combinar às escondidas guerras criminosas contra a Humanidade, ou um Cavaco Silva a construir rotundas desnecessárias e a afundar a frota pesqueira e a agricultura que alimentava o nosso povo e lhe dava trabalho todos os dias, enquanto o País de letras gordas ia aprendendo com ele e os seus a embrenhar-se em «irregularidades» de colarinho branco.

António Costa: deves estar muito mais farto do que cansado.

Tu és rijo, numa semana recuperarás as forças que nenhum dos teus opositores tem para oferecer ao país.

Força Amigo! Obrigada pelo teu cansaço."

(Maria do Céu Guerra, atriz.)


 

Rui Rio em dezembro de 2021 no encerramento do 39º Congresso do PSD fez um discurso em alguns pontos próximo do Chega e da Iniciativa Liberal, mas em modo light. Agora faz-se de morto nem fala de nada com interesse para os portugueses e arranja um gato como foco de distração. 

Durante esta campanha eleitoral os líderes da direita passaram todos a gostar de animais e a ter animais de estimação, mas alguns devem ter cobras bem escondidas.

Insiro este vídeo porque eu levaria mais tempo a escrever os tópicos do que ele diz sobre as pensões de reforma, o SNS e a a escola pública e privada e muito mais.

 



Esqueçam a legítima campanha eleitoral que está implícita neste discurso, e atentem no seu conteúdo social onde se estabelecem as diferenças entre a direita e o centro-esquerda. É aqui neste pontos programáticos que me concentro, para além de achar que Rui Rio é muito popularucho, ri muito e tem um gato,  tenho em mente que não vou eleger um primeiro-ministro, vou escolher deputados para a Assembleia da República, entre direita neoliberal que acena com bandeiras de prosperidade, que iremos todos pagar mais tarde ou mais cedo e entre uma maioria que nos mantenha no bom caminho da estabilidade social e política, tolerância, respeito por todos, ricos ou pobres, que não queira passar, os remediados, a que Rio chamou à classe média para pobres para criar uma nova classe de ricos a que ele passará a chamar de classe média.

Para Rui Rio: baixar impostos lá para 2024-2026, se, aumentar salários lá para 2024, se, baixar IRC, já, TSU, incógnita, pensões privatizadas, vamos a ver, mas o mais certo é sim, aumentar pensões, ui, como assim? não falou, SNS nos privados para ricos e no público para pobres e remediados que deixarem de ser da classe média, segue dentro de momentos....

Estão a gozar com o pagode. Tudo o que Rui Rio promete será para 2025 e 2026


Tudo o que Rui Rio promete em redução de impostos como o IRS é lá para 2025 e 2026, data das próximas eleições. Até lá o pagode que aguente. Não se pode dizer que está a mentir, mas… está a enrolar-nos com promessas que na altura poderá não poder cumprir face à evolução da economia internacional. Demagogia da melhor.

A experiência que nós temos tido com governos do PSD e CDS não têm resolvido os problemas que todos, cada um seu modo, gostaríamos de ver resolvidos, antes pelo contrário. Com o PS também não, dirão alguns, piorou, dirão outros, talvez estejam certos, mas o que não podemos esquecer é que, se hoje vivemos melhor do que no passado também é certo e foi com a esquerda moderada que o conseguimos.

Esta campanha eleitoral tem sido muito pouco esclarecedora quanto ao que pretendem fazer se ganharem as eleições e os partidos com responsabilidades governativas, com exceção do PS que já é de todos conhecido o que pretende fazer. É o único que poderá oferecer algumas garantias de mudanças ajustadas, atempadas e progressivas.

O PSD com Rui Rio e as suas propostas vagas, por vezes ambíguas no sentido da sua fundamentação ideológica, irá seguir um modelo social neoliberal, modelo desacreditado depois da crise financeira internacional de 2008. Muitas organizações internacionais como a OCDE colocaram esse modelo em dúvida. Não sei se alguma vez Papa Francisco apelidou este sistema como “economia que mata”, mas isso é o que menos importa.

O projeto económico de Rui Rio baseia-se na redução de rendimentos das pessoas, quer por redução de salários, que por redução das funções sociais do estado; é um modelo estruturalmente baseado na austeridade para a generalidade da população; um modelo que beneficia os mais ricos e que agrava drasticamente as desigualdades sociais. Aliás o próprio Rui Rio não o escondeu e os seus apoiantes do partido já o afirmaram por palavras pouco entendíveis para a maioria das pessoas, é que o tão almejado crescimento só acontecerá anos depois de aplicado e se as condições internas e internacionais assim o permitirem. Para bom entendedor meia palavra basta.

Veja-se o que Rui Rio propõe com a baixa do IRS: redução em 400 milhões de euros em 2025 e 2024. Isto é, daqui a três a quatro anos numa lógica de proximidade de novas eleições. Mais, redução para 0,25% do limite inferior do intervalo da taxa do IMI, também a partir de 2024. Onde vai ele buscar o dinheiro se o crescimento da economia não estiver em correlação com o crescimento da receita necessária para reduzir os impostos, mesmo que a despesa diminua um pouco? Está a fazer troça do pagode!

E na saúde? No SNS Rui Rio ataca com a diferenciação, uma saúde para os pobrezinhos e outra a ser paga com os impostos de todos para os que podem pagar, veja-se: contratualização com o privado e social de consultas e acessos a médico assistente (não confundir com médico de família). Quem paga os impostos irá contribuir para os que podem pagar terem acesso aos privados de forma gratuita ou parcialmente pago; para Rui Rio o SNS deve assentar em três pilares: público, privado e social, mas o acesso ao privado, deduz-se, será pago com os impostos de todos para benefício de alguns que podem pagar.

Não basta ler o vago programa do PSD que Rui Rio apresenta, temos que ler nas entrelinhas as armadilhas que contém. O programa que Rui Rio apresenta é o mesmo que Montenegro ou Paulo Rangel apresentariam se ganhassem as eleições internas no partido e estivessem agora nesta corrida.    

Rui Rio tem fé, é uma crença que dando os maiores benefícios às empresas, redução de impostos, não fala em redução de salários, mas fala em aumentar se a economia crescer, assim, elas, as empresas, vão produzir mais e criar mais riqueza. É uma velha assunção liberal que com os acontecimentos da última crise internacional provou estar errada levando as entidades internacionais a alterar as medidas de combate à crise.

Não basta criar produtos é preciso rendimentos para que tais produtos sejam consumidos, a fuga de Rio diz ser nas exportações, esquecendo que haverá sempre lá para a Ásia que produz a custos mais baratos com mão de obra baratíssima. Isto numa lógica de que só o maior rendimento das pessoas pode originar maior consumo, maior procura de bens que necessariamente fomentam uma maior produção das empresas. Numa ótica de consumo interno é a procura que gera a oferta e não a oferta que gera a procura em que com fezada Rui Rio acredita com ajuda das exportações.

Para dinamizar a economia pouco significa injetar dinheiro nas empresas se não existir um aquecimento do consumo, este por seu lado pode gerar inflação que desvaloriza salários. E as medidas de austeridade complicam, mas fazem parte do breviário do modelo neoliberal. O que o modelo de Rui Rio a ser fosse implementado iria gerar uma redução do nível de vida das pessoas e agravadas desigualdades sociais.

Curem-se, mas é!

 

Não é apenas com debates nas televisões, na rádio e com as arruadas dos partidos que se faz campanha eleitoral, nas empresas de comunicação social também acontece de modo mais sofisticado. 

A SIC e o semanário Expresso entraram na campanha eleitoral e de tempo de antena com o PSD de Rui Rio. Basta estar atento e perceber as conotações que são feitas ao relatarem os factos relacionados coma campanha. A minha leitura é que alguns artigos são tendenciosos e projetam-se no favorecimento do PSD. Mas isto é a minha opinião, mas há outras que tem pontos de vista contrários nomeadamente os que são da fação daquela fação clubística.

A falsidade prolifera nos comentários e nas promessas que atravessam a comunicação social ávida do regresso de uma direita que imponha uma austeridade castradora de direitos a uns e distribuidora de privilégios a outros, ao mesmo tempo que acenam para todos com a bandeira demagógica ds baixa dos impostos para caçar votos, sem a certeza das promessas poderem ser cumpridas por impossibilidade de o fazerem quando o poder lhes cai nas mãos. E as escusas podem ser várias e fáceis de arranjar.    

Nesta campanha todos apostaram em associar-se implicitamente para a derrota de António Costa e do Partido Socialista, da extrema-direita à extrema-esquerda associados no desígnio para derrubar e enfraquecer o PS.

Que a motivação e o objetivo sejam as dos partidos da direita, nomeadamente do PSD, compreende-se porque a derrota de um pode conduzir à vitória de outro, mas dos outros partidos da esquerda não se justifica se não for a caça a uns votinhos que apenas obterão se vierem do PS. Se as direitas juntamente com o PSD ganharem estas eleições bem podem os seus adeptos agradecer ao BE e ao PCP-CDU. Por mais que afirme o contrário, Catarina Martins e o BE, e também o PCP, foram quem nos mergulhou nesta situação tão lesiva para todos portugueses que ela diz defender repetindo sempre a mesma cassete.

Ainda a propósito da campanha eleitoral, mas noutro sentido, o cinismo e a hipocrisia dos partidos estão a caminho da confirmação da triste evidência que é a de não cuidarem da salvaguarda da sobrevivência da democracia e da defesa do bem comum em termos de saúde pública perante esta nova realidade sanitária demonstrado nos comportamentos nas arruadas, tudo ao molho e fé no quer que seja.

É fácil preverem-se discursos futuros com narrativas eivadas de cinismo desculpando-se com o governo em transição se a coisa der ainda mais para o torto no que respeita a esta pandemia que está a propagar-se e que poderá vir a entrar numa fase sem controle.

Os líderes do CDS, do Chega e da IL deslocam-se pelo país mostrando-se sem máscara ou só a colocando quando as câmaras das televisões os captam e, mesmo assim, esquecem-se de as colocar. Não dão muito nas vistas porque a sua capacidade de atração nas arruadas não funciona tão bem nem se aproxima da dos apoiantes do PSD e PS que fazem autênticas aglomerações de irresponsabilidade sanitária.

Fazemos caricatura do líder de partidos como o ADN – Alternativa Democrática Nacional que se insurge contra as restrições e se nega a ser testado à covid-19 troçando dos cidadãos responsáveis quando estes que se protegem a si e aos outros e ao mesmo tempo os partidos ditos responsáveis zombam de nós todos quando os vemos  nas arruadas durantes a campanha para as legislativas como se nada estivesse a acontecer passando aos cidadãos uma imagem de irresponsabilidade transmitida pelos dirigentes partidários.

Durante esta campanha para as legislativas trata-se tudo menos do que realmente interessa aos portugueses e brandem argumentos para tudo desde que sirvam para cada um puxar a brasa à sua sardinha. Tudo lhes serve para ajudar ao seu querido partidinho de direita e de extrema-esquerda. Baseiam-se em pequenos casos e generalizam. A generalizações podem degenerar em mentiras. É como a tal coisa de irmos a uma janela, vermos uma andorinha, abrimos a janela e gritarmos para a rua: “OLHEM JÁ É PRIMAVERA, JÁ É PRIMAVERA”. Afinal estava um frio de rachar, como está hoje, e afinal ave não era mais do que um pardal. Curem-se, mas é!  

Mesmo que se confrontem com a realidade ao pé da porta o instinto clubista rejeita argumentando que demonstram essa mesma realidade. Isto é, buscam argumentos para distorcer a realidade que perpassa nos seus olhos.

Com o cheiro do poder tudo serve para defenderem o seu clube partidário cujo “treinador” antes renunciavam, mas que agora lhe tecem elogios correndo atrás dele. Vejam-se como os neoliberais “passistas“ como Montenegro, e outros que se agarram agora a quem antes queriam derrubar para darem uma ilusão de união. São estes que irão pressionar Rui Rio/PSD a modificar o seu programa inconsistente para um outro onde o neoliberalismo se imporá como no tempo de Passos Coelho.    

Há treinadores sobreviventes apesar das propostas que apresentam serem demagógicas e, na prática difíceis de concretizar, e eles sabem-no.


Ditos e escritos daqui e dali

 

Pelo que se escreve na imprensa, nas redes sociais e se diz nas televisões podemos ter uma visão aproximada do que se pensa ao decorrer desta campanha eleitoral. Assim, sintetizei algumas opiniões e comentários que circulam e que compus de forma coerente utilizando critérios de aproximação ou de afastamento de acordo com as minhas. Os pontos que se seguem não são uma transcrição de citações, são as minhas opiniões expressas em coerência com os meus pontos de vista, suscetíveis, como é óbvio, de críticas.     

1.       Todos termos visto nos diferentes órgãos de a comunicação social reivindicações de organismos privados e públicos que passam pelos agricultores, comércio, indústria, saúde, justiça, etc. Acredito que estas reivindicações por mais aumentos, mais meios, mais pessoal e mais subsídios sejam justas e necessárias. Todavia, se pensarmos que ao satisfazer-se a justeza das exigências apontadas logo concluiríamos que se iria cair num descalabro financeiro do Estado com altos défices nas contas públicas e elevadas dívidas externas, conduzindo a situações idênticas ou piores às que nos trouxeram a troika. Face a isto, começo a pensar se não estarão todos desejosos que tal aconteça para justificarem uma subida ao poder da direita neoliberal que logo recorrerá, mais uma vez, a severas medidas de austeridade e outras idênticas para equilibrarem as finanças e agarrarem a oportunidade para culparem o partido do governo o causador desse descalabro.




Vamos lá então ver se nos entendemos sobre o queremos para o país!

2.       Começo pelo que tem sido mais comentado e criticado, a maioria estável pedida pelo Partido Socialista. Entenda-se por maioria estável uma maioria absoluta e, como consequência, António Costa ser primeiro-ministro. Com António Costa numa maioria absoluta é possível conviver sem receios. O mesmo já não se poderá dizer duma maioria de direita PSD e, ainda menos, se coligado com outros partidos como por exemplo o partido da extrema-direita Chega cuja hipótese não foi convictamente afastada por Rui Rio. Lembremo-nos dos Açores.

3.       Acordos parlamentares de esquerda do PS com o BE e PCP em princípio e no meu ponto de vista são soluções a afastar devido à perda de confiança consequente da irresponsabilidade pelo chumbo do Orçamento de Estado para 2022 alinhados com a direita. Assim, só uma maioria absoluta do PS poderá evitar pressões parlamentares que aqueles partidos farão para condicionar a governação, causando instabilidade.

4.       Há por aí quem pergunte se Rui Rio fizesse tudo o que está a prometer não poderá conduzir o país a uma nova crise. A resposta é afirmativa. Como ele próprio esclareceu em vários debates tudo o que promete é condicional justificado com uma possível aproximação de uma crise que se vislumbram, pelo que reconhece a possibilidade de adiamento das promessas que será inevitável, desconhecendo-se durante quanto tempo. Ora, como se avizinha uma crise económica e social devido a contextos exteriores o pretexto para o não cumprimento das promessas tem as portas entreabertas.

5.       Outra pergunta interessante que se coloca é a de saber quem é o grande inimigo do BE e do PCP que é preciso abater? É a direita? A resposta é imediata – Não, é o PS. Interessante a resposta até porque podemos fazer uma outra pergunta: Quem é que o BE e o PCP estão a ajudar nesta campanha eleitoral? A resposta é inequívoca: são a extrema-direita e a direita PSD, claro! A extrema-direita e o PSD agradecem a ajuda do BE e do PCP. Isto já foi visto no passado quando BE e PCP provocaram a queda do governo PS dando lugar à maioria de direita.

6.       A coordenadora do Bloco de Esquerda é uma atriz extraordinária acusou André Ventura do Chega. Ao que lhe diz respeito ele saberá porquê. No meu entender, e se bem me lembro, Catarina Martins passou da extrema-esquerda antissistema, revolucionária e contestatária a mostrar-se agora com uma faceta de política sedutora e calma que se quer afirmar como cooperante. Pelo meio vai acusando outros (leia-se PS) de que se não existe mais cooperação é porque esses outros não querem, diz ela. E porquê? - Perguntam vocês. Porque em primeiro lugar gostaria de submeter o PS à execução de políticas destrutivas, em segundo lugar para caçar aqui e ali uns votinhos de alguns indecisos e de descontentes com tudo e com todos. Não podemos afirmar com convicção que Catarina Martins é falsa. Faz parte do seu número de teatro a que a obriga a caça ou à dispersão de potenciais votos no PS, com o objetivo único de evitar uma maioria absoluta do PS.

O BE e o PCP pretendem que a votação no PS seja a mais baixa possível, ainda que os votos vão para a direita, desta forma terão mais margem de manobra para, no contexto da Assembleia da República, pressionar o PS para impor políticas radicais. Sem uma maioria muito significativa do PS fica-se novamente na dependência das extremas-esquerdas do BE e do PCP com as inerentes dificuldades de governação pior do que a “geringonça”, ou, então, caminha-se para o país ficar na dependência da direita.

8.       Na campanha que a esquerda anda a fazer, não tenho a certeza se foi João Oliveira do PCP, andam por aí a dizer que se a direita ganha poderão vir campanhas de contestação socia e a instabilidade. Mas que raio de ponto de vista. Os portuguese não gostam que os ameacem e, quando assim é, vão mesmo para o outro lado. PCP e BE vejam se se acalmam. Estão muito agitados por debaixo dessa calma que aparentam.

9.       Há ainda os que falam e relembram com saudosismo o tempo de Salazar, (André Ventura recuperou a matriz do modelo do regime salazarista “Deus, Pátria, Família” ao qual acrescentou “Trabalho”). O regime de então utilizava todos os meios para neutralizar e difamar quem se lhe opunha. Atualmente a extrema-direita e a direita democrática utilizam a mesma estratégia da difamação.

10.    No caso de Ventura a suas narrativas populistas e demagógicas para baralhar a população são abissais. Então André Ventura não se tem afirmado contra a quantidade e qualidade de pessoas que recebem o RSI? Pois é! Mas a última dele foi negar agora o que afirmou poucos dias antes. Vejamos a resposta que deu ontem quando um jornalista lhe fez uma pergunta sobre o número de casos de “subsidiodependência no país”, à qual respondeu baralhando, para confundir, o que disse com o que não disse:  Como é que quer que eu tenha dados concretos sobre pessoas que recebem o RSI e que não devem? É você que os tem? As pessoas só veem e sabem que é assim. Sabemos quantas pessoas recebem RSI. Não sabemos, infelizmente, quantas pessoas o recebem indevidamente”.Podemos deduzir que André Ventura passou do ser contra o RSI para o “fiscalizar a sério”. Isto é, quer saber das quarenta e tal mil pessoas que recebem RSI para quais são as “dezenas de milhar” (?) que o recebem indevidamente. Para saber quantas pessoas recebem aquele tipo de apoios, basta consultar AQUI. O problema de Ventura é o de saber quais os que o recebem e têm Porches à porta. Por outro lado, isso da fiscalização todos os partidos, da esquerda à direita a querem! Deixemos por agora o troca tintas.

11.    Voltando a António Costa. Em 20 de setembro de 2019 a revista alemã Der Spiegel escrevia sobre a “receita” do “confiável socialista” António Costa. Considerava assim como confiável o primeiro-ministro de Portugal. A autora, Helene Zuber, escrevia então: “Ele sabe como tirar um país da crise. O primeiro-ministro de esquerda, António Costa, salvou Portugal da falência. Enquanto isso, a economia está a crescer. Agora está prestes a ser reeleito. Qual é a sua receita para o sucesso? Quando António Costa conhece pessoas olha-as diretamente no rosto e sorri. Curioso, o primeiro-ministro português aproxima-se de colegas como Angela Merkel, aperta as mãos educadamente antes da entrevista ao vivo na televisão, ouve atentamente os cidadãos que se dirigem nas ruas ao seu chefe de governo. Parece estar sempre de bom humor, com o olhar levemente irónico dos olhos escuros por trás dos óculos sem aro. O simpático governante Costa, com seu governo de minoria socialista, tolerado pelos comunistas e pelo bloco de esquerda trotskista, resistiu por quatro anos - um feito que quase ninguém esperaria que ele fizesse. Dando-lhe o epíteto de "Geringonça", a oposição zombou da aliança quando assumiu o cargo há quatro anos. Costa tem um mandato bem-sucedido”.

12.    Quanto a Rui Rio Rui ele é um político popularucho que fala para o povo entender. Sem papas na língua diz o que pensa o que às vezes o prejudica. Daria um grande propagandista de feira com receitas para todas as maleitas. Nas entrevistas e nos debates mostra-se um exímio vendedor de um qualquer produto que alguém, se não pensasse, não hesitaria em comprar. Há, todavia, um problema. É que, depois do comprador abrir o embrulho e ao acabar de verificar que o produto verificaria que estava com defeito e que a devolução do material era impossível.

13.    Próximo de eleições a direita cata casinhos e tudo o que seja desfavorável que transformam e exageram para parecerem importantes. Esmiúça tudo para desviar o vazio apresentado nas suas propostas.

14.    O que Rui Rio diz e disse no passado não têm muita relevância para o atual contexto por ser uma incógnita o que se irá passar se ele ganhar as eleições e se uma potencial crise se confirmar. O que ele disse em 2017 quando candidato à liderança do PSD, ao responder a uma pergunta sobre a mudança de linha de rumo do partido, caso fosse eleito, assegurou que não vai haver mudança de estratégia e deu o exemplo da ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, com quem teve divergências mas que, no seu lugar, seguiria a mesma linha, e que faria "igual" ou faria “pior” do que a governante.

15.    Então dr. Rui Rio, ir para o Governo e encontrar contas certinhas era tão bom não era?


Debates, comentários políticos e indecisões dos eleitores

 

Os comentários que se seguem aos debates é suposto serem feitos por jornalistas credenciados cada um com a sua orientação ideológica. A meu ver tenho constatado que a isenção e a independência, sobretudo na SIC, não são os pontos fortes dos intervenientes nos paneis de comentário.

Sou dos que considero que a comunicação social deve ter um papel relevante na critica e no escrutínio público do poder e, ao mesmo tempo, ter a liberdade de expressão e de opinião que devem ser estimuladas dentro dos limites da civilidade, da educação, da tolerância e de respeito pelo caráter de cada um.

Naquele canal televisivo os comentadores Ricardo Costa, José Gomes Ferreira e Bernardo Ferrão nos seus comentários tentam fazer passar para os telespetadores uma perceção de distanciamento ideológico, mas, para quem esteja atento aos pormenores, notará que incluem cirurgicamente pequenas "alterações”, provavelmente intencionais, ao significado ou às circunstâncias de um facto que possa sugerir algo em desabono do governo socialista e de António Costa.

Com a proximidade das eleições notam-se mais estas pequenas campanhas detratoras por via de jornalistas e comentadores. São opiniões dirão. Certo. Mas também nos comentários sobre acontecimentos da política que se relacionem com a justiça e com a economia tiram da cartola algo do passado que introduzem no confuso emaranhado das lógicas em que se embrenham fazendo campanha e oposição partidária ao abrigo de fazer jornalismo. Não admira, têm que estar sintonizados com a “voz dos donos”. É normal.

Os jornalistas também são eleitores e terão as suas simpatias ideológicas e partidárias e alguns não as escondem, pelo que tentam fazer comentários positivos aos políticos do seu círculo ideológico-partidário e negativos para outros candidatos concorrentes colocando-os nos pratos de uma balança. Comentar desfavoravelmente a prestação de um interveniente político num debate que seja da simpatia do comentador pode favorecer o seu preferido em prejuízo do adversário.

Dou um exemplo como hipótese: quem estiver a comentar um debate entre, por exemplo, a líder do BE Catarina Martins e o líder do PSD Rui Rio poderá emitir uma opinião em que a prestação do BE foi mais bem conseguida do que a do PSD evidenciando os argumentos do BE ao fazer críticas ao PS. Assim, ao concordar com a crítica feita pelo BE ao PS potencialmente posso estar a condicionar pela negativa potenciais eleitores do PS que irão para o BE já que é pouco provável que haja eleitores do BE que irão votar PSD mesmo considerando a critica feita ao PS. Mas, pelo contrário, é mais provável que estes mesmos possam votar no PSD.

Como é possível em debates como os que temos visto entrar com pormenores que podem ser tecnicamente relevantes, mas que só contribuem para ruído e compressão da mensagem. Quanto a avaliações, tenham paciência! Catem também as falhas de pormenor nas narrativas de Rui Rio.

A obtenção de mais votos e, consequentemente, de deputados é, em quaisquer eleições, o grande objetivo dos partidos. Para as eleições que se irão realizar em 30 de janeiro há um outro objetivo que se apresenta: o do BE e do PCP é retirar votos ao PS para evitar que este tenha uma maioria absoluta.  Para a direita, no caso do PSD, o objetivo é o de conseguir mais votos alguns retirados ao PS.

Para os liberais de direita e para os extremistas de direita o objetivo é arrecadar mais votos, logo conseguir mais deputados, venham eles donde vierem, para que possam exercer pressão sobre o PSD para negociações pós-eleitorais. Para os partidos à esquerda do PS, chamados de extrema-esquerda, o objetivo é a obtenção de números de votos para pressionarem o PS a uma nova negociação.

Por entre estas competições para a obtenção de votos há também obsessões. A de Rui Rio, de Catarina Martins, marioneta do ideológico trotskista Francisco Louçã, do troca-tintas de André Ventura do Chega é o reconhecimento, mas que não dizem, de que António Costa é um político inteligente e competente que receiam e, por isso, jogam tudo para afastá-lo. É a pessoa de António Costa que é o político, o primeiro-ministro, o secretário-geral do PS e o defensor da democracia e do socialismo liberal constitucional que pretendem afastar.

O BE espera que, com o afastamento de António Costa, possa surgir um novo líder do PS como Pedro Nuno dos Santos que ceda ao BE e ao PCP e constitua uma nova geringonça caso a direita ganhe sem maioria, ou o PS perca as eleições. Só uma maioria absoluta do PS poderá ter a capacidade para afastar essa possibilidade.

O que todos temem por motivos diferentes, mas sobretudo o PCP e o BE, é que o PS liderado por António Costa possa conquistar uma maioria absoluta de deputados nas próximas eleições, que lhes tiraria a possibilidade de limitar e bloquear decisões fundamentais e a continuação de uma governabilidade estável do país para quatro anos.

No campo meramente de competição, para Rui Rio, António Costa é uma obstrução na engrenagem que o poderá elevar até ao poder. Está a ficar mais claro que para Rui Rio chegar ao poder precisa dos votos que possam vir de quem votou anteriormente PS e das franjas da direita que saiam das eleições para poder contar com uma maioria parlamentar, não negando em absoluto a possibilidade de também contar com os deputados do Chega.

No momento em que escrevo uma das últimas sondagens dá uma maioria de esquerda com algumas possíveis nuances. Segundo esta sondagem feita para o jornal Público, RTP e Antena 1 o PS conseguirá obter um mínimo de 104 deputados e um máximo de 113, neste caso a três lugares da maioria absoluta no Parlamento e podendo fazer negociações parlamentares com o PAN e o Livre, como defende Rui Tavares. Mesmo no cenário dos 104 deputados continua a existir uma maioria de esquerda com o BE, CDU, Livre (elege um deputado em qualquer dos cenários) e o PAN. Assim, a direita cresce, mas não ganha. O PSD em caso algum consegue uma maioria de direita para governar – nem no cenário mais otimista, nem mesmo com quatro deputados do PAN. Se assim acontecer Rui Rio vai confrontar-se, mais uma vez, com a oposição dentro do partido.

Mais do que uma maioria do PS é mais de temer uma maioria absoluta do PSD. Rui Rio apesar de se dizer do centro facilmente irá infletir para a direita por pressão da ala mais à direita do partido. Só PS ao conseguir uma maioria confortável nas eleições se pode libertar-se do jugo do PCP e, sobretudo, do BE ao mesmo tempo que poderá também influenciar Rui Rio a manter um rumo diferente. Note-se que para o caso duma revisão constitucional serão necessários dois terços de votos dos deputados.

O que Rui Rio propõe é uma espécie de continuação do modelo social que o governo de Coelho/Portas estabeleceu de 2011 a 2015, mas numa versão mais light.

Pode ser uma versão menos radical, mas, do mesmo modo, pelo que tem vindo a reclamar de modo mais ou menos astucioso é um modelo baseado na redução de impostos às empresas, de salários, do Estado Social, da tendência para a privatização da Saúde, da Educação, Segurança Social, etc., e tudo o mais que a fação mais neoliberal do PSD irá impor a Rui Rio que irá originar o agravamento das condições económicas, financeiras e sociais que se conhecem até que, segundo o próprio, haja crescimento económico. Podemos até concordar com alguns pontos mas o modelo que apresenta pode ser ajustado à realidade portuguesa e de com uma progressão e ritmo adequados seguindo uma outra via.

Tudo isto apesar de, em termos pessoais, apreciar a atitude de Rui Rio como político franco, aberto, por vezes realista, mas outras vezes demagogo e cheio de condicionais “ses”, que capta simpatias, que pretende ser do centro e não de direita, mas lá vai piscando o olho à direita e ao votantes do centro-esquerda verdadeiro partido social-democrata que é o PS em termos de comparação europeia como o Grupo do Partido Popular Europeu a que pertence o PSD e Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Sociais Democratas Parlamento Europeu a que pertence o PS.


Os trajes e os “ses” de Rui Rio

Do debate entre António Costa e Rui Rio tirei duas conclusões, a primeira é que Rui Rio veste dois fatos conforme lhe dá mais jeito. Um dos fatos é o do político social-democrata que diz querer ocupar o centro político, é o fato com corte ajustado ao que diz ser o seu ideário. No debate de ontem vestiu outro fato cujo corte mal-amanhado por um alfaiate que lhe deixou a aba e a manga do casaco demasiado descaídas para o lado direito.

Baralhou-se e baralhou quem o escutou. Quando António Costa disse que se demitiria se ficar em segundo, Rui Rio para assustar o povo especula que com Pedro Nuno Santos, como seu sucessor, a “geringonça” pode ser reativada. Qual foi o objetivo de Rio? Será concentrar os votos em Costa? Tal lógica de Rui Rio a a partir das palavras de Costa não se percebe.

A maneira frontal de Rui Rio debater e tentar esclarecer complicou a análise das suas soluções para o país que poderá ter levado a que parte de quem o viu e ouviu estivesse menos preparada para compreender os aspetos técnicos das opções que tomaria para baixar impostos, para não atualizar salários, para privatizar a TAP e parte do Serviço Nacional de Saúde. Sobre alterações na justiça não soube explicar ao cidadão comum que não era uma forma subtil com que pretende controlar os juízes, ao propor a nomeação de portugueses idóneos (?!!) para ir para o Conselho Superior do Ministério Público ou da Magistratura. Porventura será algo idêntico ao que está a acontecer com a Polónia e a Hungria que ameaçam "valores fundamentais" da União Europeia, como a independência do poder judicial e a defesa do Estado de direito. Para Rui Rio tudo foi um pouco atabalhoado e cujos resultados são duvidosos quer na sua eficácia, quer nas vantagens, se aplicados.

A segunda conclusão que tirei é no domínio do “Se”, como no caso da baixa do IRC e IRS, do crescimento económico. A primeira é que, no que se refere à economia as empresas terão logo baixa no IRC para a economia crescer tudo o resto se verá ou adiará. É fácil resolver problemas assim.

Por entre outras soluções tiradas da cartola para resolver os problemas do país que tenciona aplicá-las se as atuais circunstâncias se mantiverem. Está a aproximar-se uma crise, consequência da pandemia C-19, com o aumento das energias, a inflação, aumento das taxas de juro, etc., daí que é muito fácil prometer apenas e se tudo se mantiver como está. Mas as incertezas são várias nada pode estar garantido, por isso Rui Rio ter-se mantido numa atitude de “Se”…

Em quase tudo o que disse Rui Rio a vestimenta que apresentou com abas e mangas descaídas para a direita são o modelo light do neoliberalismo do último governo PSD-CDS com a diferença de que um desculpou-se com a crise financeira e com a troika e Rui Rio irá, se ganhar as eleições, desculpar-se com a crise energética, aumento das matérias-primas, crise económica e aumento das taxas de juro. Com Rui Rio é tudo no domínio do se.  Nada está garantido se ganhar e for da responsabilidade dele o novo orçamento que, segundo ele será apenas para sei meses a contar da data da eventual aprovação.

Estas são as conclusões que tirei e que me interessam para tomar uma decisão sobre o meu sentido de voto. O que está implícito no modelo que Rui Rio apresenta é para os cidadãos esperarem dois ou mais anos, dependendo de que a economia melhor, depois, quanto aos impostos, logo se verá. Mais um “Se”.

 

A propósito da presença de orangotangos nos debates

 

Li hoje um artigo de opinião no jornal Público que me pareceu ao mesmo tempo sério e com algum humor pesando, contudo, que há pontos com que não concordei. Mas isso é outra dança.

Permitam-me, previamente, esclarecer os leitores que não tenho quaisquer simpatias ideológicas nem com a opositora Catarina Martins, parte interveniente no debate, nem com o seu partido.

Há intervenientes nos debates que se comportam e exprime como orangotangos. Isto é uma caricatura e não um ataque pessoal nem ao caráter, mas à forma que gente como essa utiliza nos debates. Também Trump nos debates com Biden se comportou como um orangotango, compara a autora do artigo.

Sei que muitos outros orangotangos, fiéis subservientes do orangotango mor, não concordarão comigo, mas ficamos quites, também não concordo mesmo nada com eles, se concordasse também pertenceria ao grupo dos ditos.

Há quem aprecie e valorize intervenientes nos debates políticos em que, à falta de projetos objetivos, e de argumentos credíveis e fundamentados, servem-se de grunhisses para fazer passar as suas mensagens. Mas, “Debater com demagogos populistas, sem educação, maneiras ou escrúpulos, que querem precisamente não debater, não é fácil”, tal como não seria fácil debater com um orangotango.

Posto isto incluo o artigo que fará os tais fiéis adeptos de peixeiradas vibrar de raiva e de ódio, único sentimento que lhes assiste. Mas também reconheço que no intervalo dos grunhidos alguma coisa, mas muito pouca, poderá ser percetível. Mas, enfim, há gente para gostar de tudo e, como diz o ditado cada cabeça sua sentença, e esta é a minha.

 

Quero alguém que saiba debater com o demagogo sem maneiras

(Maria João Marques, in jornal Público, 05/01/2022)

Nestas legislativas teremos pouca campanha de rua, à conta da quinta vaga de uma pandemia que anda por aí. Donde, os debates entre candidatos são úteis – essenciais mesmo – para passar mensagens, diferenciar projetos políticos, confrontar ideias, arrebatar eleitores. Porém, desta feita, temos uma novidade: o líder do Chega, repetindo a estratégia das presidenciais. A saber: estragar os debates em que participa.

Dos dois debates que vi com André Ventura, este portou-se como aquele miúdo parvo e abusador que vê um colega no recreio a desenhar e vai lá e risca a folha e o desenho todo. Há quem julgue esta estratégia vencedora. Não é. Os eleitores veem só o miúdo parvo, nenhum génio político. Tirando o pequeno nicho que se deleita com políticos comportando-se como orangotangos (sem ofensa para os orangotangos), os restantes veem à légua a fanfarronice de fazer muito barulho para, precisamente, não debater. O objetivo é pôr-se de fora e boicotar uma característica do regime que alegadamente pretendem destruir: os debates (mais ou menos esclarecedores) antes de cada eleição.

Claro que a estratégia não é nova, nem foi inventada por Ventura, político que de resto não tem muita criatividade própria e vai buscar quer o conteúdo quer a forma aos seus superiores – copia o já desaparecido Trump e defende obedientemente o que lhe mandam os seus financiadores. Trump, no primeiro debate com Biden para as presidenciais de 2020, também transformou o exercício numa gritaria a que a comentadora Dana Bash famosamente chamou shitshow. Nessa altura também houve quem garantisse que os urros de Trump ganharam a um aparentemente frágil Biden. Não percebem que estes produtos políticos como Trump e Ventura se derrotam a si próprios nos debates (e na política em geral).

Em todo o caso, se Ventura e Trump se arrumam a si próprios pelo nojo e desprezo que geram na maioria, o certo é que os parceiros de debate também ficam com o desenho todo riscado. Foi o que aconteceu a Catarina Martins e a Rui Rio. Em ambos, quem determinou os temas dos debates foi Ventura – ao lançar as suas atoardas, dislates, mentiras, ataques pessoais (estes só para Catarina Martins, que é mulher, e os homens como Ventura sentem-se importantes quando atacam mulheres; já com Rio, o desejado futuro chefe, convinha não atacar pessoalmente; e os homens como Ventura também usualmente têm medo de atacar outros homens). As duas contrapartes aceitaram passivamente responder a tudo o que Ventura lançava para o debate, por mais alucinado que fosse. Ao invés de debates, tivemos uma espécie de entrevistas hostis de Ventura aos seus oponentes. Foi penoso.

Catarina Martins lá marcou o seu ponto aqui e ali. Falou da ambiguidade do Chega nos “vistos gold” e offshores. Lembrou que a maioria dos que recebem apoios sociais são mulheres pobres e crianças; e reputou de “cruel” a atuação do Chega nos Açores ao cortar estas ajudas. Se esteve bem em não descer ao nível subterrâneo de Ventura, é incompreensível não ter ripostado (perante as várias acusações de ter faltado a votações) que Ventura está no pódio dos deputados faltosos. Foi insuportável como permitiu ser interrompida constantemente, em pose de carneiro sacrificial, ao invés de lhe dirigir um imperioso “não me interrompa”. Tendo em conta o fenómeno estudado de mulheres permanentemente interrompidas em reuniões (e debates), é intolerável ver tal coisa replicada sem resposta na televisão. A moderadora (e bem) repreendeu Ventura, mas Catarina Martins perdeu a oportunidade de dar uma de Kamala Harris com o seu “I’m speaking” quando Mike Pence a interrompia no debate dos vice-presidentes.

Rui Rio foi ainda mais surpreendente. Se rejeitou acordos e coligações, deu o exemplo do errático Chega nos Açores, mencionou que votar no Chega em vez de no PSD era ajudar à vitória do PS, no resto do tempo foi outro cordeirinho respondendo àquilo que Ventura exigia. E assim tivemos um líder da oposição, candidato a primeiro-ministro, com possibilidades de ganhar as eleições, falando de temas inúteis como a diminuição do número de deputados (temos um número de deputados perfeitamente adequado ao tamanho da população comparativamente às outras democracias europeias) ou indo mesmo, todo contente, para assuntos perigosos como os abusos dos apoios sociais (isto vindo do partido que votou para criar apoios sociais para acudir a vários grupos afetados pela pandemia, numa coligação negativa contra o Governo) ou prisão perpétua.

Das duas, uma. Ou Rui Rio estava com grande vontade de irritar o eleitorado centrista que lhe pode ganhar as legislativas, tudo para ir buscar meia dúzia de votos aos simpatizantes da extrema-direita; ou está bastante confundido, julgando que os problemas mais importantes do país são a quantidade de deputados, a inexistência de prisão perpétua, os abusos das migalhas do RSI e quejandos. Incompreensível como Rio, lá pelo meio do debate, não disse que julgava mais útil debater economia, alterações climáticas (dois temas que lhe são caros), como remendar o SNS, aplicação dos fundos de recuperação pós-covid, enfim, os assuntos que de facto têm influência na vida das pessoas. Para explicar as suas ideias. E para evidenciar que nestas áreas Ventura fica sem ter que dizer.

Nenhum atirou a Ventura que discussões securitárias são pouco relevantes num dos países mais seguros do mundo. Que a corrupção não se combate com medidas histriónicas de faz de conta como a duplicação do tempo das penas – porque o problema não é a duração destas mas praticamente não existirem acusações nem condenações por corrupção (seja qual for a pena). As campanhas milionárias onde o Chega desbarata dinheiro como se não houvesse amanhã. Um largo etc. Não. Passou sem escrutínio.

Debater com demagogos populistas, sem educação, maneiras ou escrúpulos, que querem precisamente não debater, não é fácil. Concedo. De todo o modo, os que debatem com Ventura ou se preparam para não deixar a conversa enredar-se nos temas de estimação do Chega, e atacam as muitas fragilidades de Ventura, ou mais vale seguirem o exemplo do PCP. Ventura é um político risível, cheio de vulnerabilidades a que se pode atirar, o único talento que tem é para a histeria, foi ao tapete em vários debates nas presidenciais. O problema nem é Ventura ganhar votos com os debates, que não ganha. Mas os outros perderem eleitores à conta da falta de habilidade.

A propósito de: quem sou eu para comentar?

 

O início deste novo ano tem a particularidade de ser um ano de eleições legislativas logo no primeiro mês. A campanha pré-eleitoral já foi iniciada e prevê-se que irá “incendiar-se”. É a campanha do tudo ou nada para os dois principais partidos do regime o PSD e o PS.

Este primeiro mês do ano será rico para comentadores e analistas políticos, cada um vendendo o seu peixe tendenciosamente para a direita ou para a esquerda.  Fora do meio em que se movem sinto-me pequenino. Mas quem sou eu para comentar o que doutos comentadores, professores catedráticos, experimentados políticos, conceituados jornalistas, analistas políticos (uma epidemia que prolifera nos canais de televisão), sindicalistas, bastonários de ordens profissionais que fazem política partidária, cientistas, e muitos outros. Uns, sentados nos bancos do serviço público, outros movendo-se no mundo de instituições privadas, mas que escrevem e proferem certezas sobre tudo nos vários órgãos de comunicação social, da imprensa à televisão, até sobre o que não dominam. Lançam “sabedoria” que o público admira e consome sem crítica, sem reflexão, numa espécie de paixão clubista conforme simpatias ideológica.

Tais analistas e comentadores são conhecidos, sobretudo, pelos seus prognóstico e oráculos. Lançam para o público informações obtidas através de canais privilegiados e informais e de fontes oriundas de amigos do governo ou de fora dele.  Conjetura-se que transacionem informações sobre processos de investigação criminal em segredo de justiça e, como troca, tu dás-me isso e eu pago-te com aquilo.

Para os que não têm amigos e conhecidos em postos chave há os que lhes fazem chegar às mãos informações privilegiadas para de seguida emitirem opiniões escritas ou verbalizadas de algo que desconhecem sobre pessoas públicas que têm uma reputação a defender. É extraordinário que ninguém lhes pergunte pelas provas do que afirmam com tanta certeza, que ninguém pergunte onde estão os factos que justificam as suspeitas, enfim, que ninguém pergunte nada. 

Parece-me vir a propósito a forma como vejo de fora a imprensa e a televisão formatarem e lançarem para o público informação editada com montagens indutoras. Por muito que se diga o contrário os media e os jornalistas são atores políticos que muitas vezes seguem subtilmente agendas partidárias ou ideológicas consequentes com especificidades editoriais. Por muito que não se queira muitos deles mal-escondem serem a “voz do dono”. Claro que isto são meras suposições tiradas de observações várias.

A relação entre os órgãos de comunicação social de massas, os chamados media, e a política acentuou-se consideravelmente, e de tal forma, que é impossível conceber a política sem a existência de um ambiente jornalístico. É por isso que se nota da parte dos políticos, sobretudo quando no governo, o empenho de esforços para controlarem as margens de incerteza resultantes de um relacionamento dinâmico com a opinião pública.

No que respeita à comunicação com o público, ou melhor, com os eleitores a ferramenta mais eficaz é a televisão. No entanto as televisões são mediadas/conduzidas por jornalistas e, em última análise, por empresas mediáticas que se orientam por valores e princípios distintos daqueles que são defendidos pelos outros poderes democraticamente eleitos. Destes princípios distintos nasce uma tensão latente entre os media e o poder político, sobretudo quando este não merece o seu aplauso. Isto passa-se quando um ou mais órgãos de comunicação avaliam um qualquer candidato como não sendo o preferencial, seja a líder partidário, a ministro ou a primeiro-ministro de um governo.

O desagrado com políticos, práticas políticas, governo ou primeiro-ministro pode manifestar-se em ataques cerrados por parte do media. É frequente nas televisões a insistência diária e sistemática sobre um mesmo assunto com incidência nos aspetos negativos de uma qualquer figura pública da política, atuação ministerial, mau funcionamento de instituições e falhas em determinada área de modo a colocar em desfavor a opinião pública e escudando-se no denominado escrutínio do poder. Omitindo tudo quanto se faça ou diga de positivo e mereça elogio. Enfim, para os media o que mais interessa é o “homem que mordeu o cão”.

Em democracia o escrutínio do exercício político dos governos e do poder político, são uma das mais importantes e legítimas funções do jornalismo. Mas a liberdade de imprensa não é um privilégio dos jornalistas, mas sim uma condição da liberdade de expressão dos cidadãos visto estes só poderem captar um conjunto muito limitado de acontecimentos.

Os jornalistas não foram eleitos nem representam oficialmente ninguém, mas têm um contrato informal com os cidadãos numa espécie de procuração que lhes confere o dever de zelar pelo cumprimento dos valores democráticos e denunciar as suas falhas, através de uma informação isenta e verdadeira. Sublinho isenta porque considero ser óbvia a verdade e a isenção no jornalismo sério.

Por vezes alguma comunicação social atua tendenciosamente através da procura e da insistência em factos marginais para desacreditar na opinião pública um cidadão ou um poder político porque pertencem a uma dada área partidária e ideológica que pretendem atacar.

Um caso evidente e atual e que dou como exemplo do que refiro são as falhas nos serviços de saúde públicos, tema sensível para a opinião pública, que diariamente têm sofrido ataques e críticas que foram salientados durante o atual Governo mesmo durante a contingência das vagas da crise pandémicas.

Os meios de comunicação não devem omitir os problemas que se passam no SNS que acho devem ser noticiados nos limites do bom senso e do não alarmismo. Alguns dos problemas no interior dos serviços do SNS que nos chegam enquanto telespectadores deixam a perceção de que são por vezes organizados para criar instabilidade sobre o sistema com as ordens a dar uma ajuda com os seus comentários. Mas, quando o poder pertence a uma área ideológica da direita os mesmos media manifestam mais complacência para com os problemas detetados e dados como notícias marginais quando não omitindo.

Vejamos um caso paradigmático durante o Governo PSD-CDS, era Passos Coelho primeiro-ministro. Durante esse período órgãos de comunicação afetos à direita que, pressurosamente, publicam notícias, comentários e opiniões favoráveis omitiam ou faziam timidamente passar para a opinião pública os reais problemas na altura.

Situemo-nos então no caso do SNS ao tempo do Governo de Passos Coelho. Em janeiro de 2015 Passos justificava que a qualidade do SNS não podia ser aferida pelas falhas registadas que coincidiram com o período de crise no país e reconhecia que a pressão e o escrutínio mediático criavam muita pressão.  Sobre o agravamento nas urgências hospitalares, Passos dizia na altura que "não se confunda o que se está a passar, se passa em Portugal" com o que "se tem passado noutros países" de "uma forma anormal, desafiando a capacidade instalada e a qualidade dos profissionais". A justificação era passada como válida pelos media.

Apesar da pressão real causada no SNS pela pandemia covid-19 o que hoje se verifica é que sindicatos, ditos independentes, dos médicos, ordem dos médicos e dos enfermeiros juntam-se para fazerem coro nos órgãos de comunicação que diariamente emitem as suas “propagandas” como forma de atacar o ministério da saúde, o SNS e, em última instância, o Governo.

Também em janeiro de 2015 durante o mesmo Governo de Passos Coelho num debate na Assembleia da República com o primeiro-ministro a dirigente do BE Catarina Martins criticava Passos por não ter apresentado "uma única medida que o Governo tenha tomado para contrariar o descalabro na saúde", recebendo apupos da bancada do PSD. Acrescentava então: "Poupou-se despesa no SNS, mas não se pouparam vidas e isso não se pode desculpar a um Governo". Foi esta a intervenção da dirigente da extrema-esquerda durante o debate quinzenal no parlamento: "Quero saber de que cortes na despesa é que se orgulha, três dias antes de ter morrido uma pessoa sem assistência no Hospital de Santa Maria, a diretora das urgências disse que não tinha meios, nós temos pessoas a morrer nas urgências sem assistência".

Ainda durante o Governo e durante a campanha para as eleições autárquicas o sinal dado pelos órgãos de comunicação para as criticas ao SNS apoiadas pelas ordens dos médicos e do sindicato independente dos médicos, que passaram a fazer política partidária, foram reforçadas em junho do ano passado por Passos Coelho. Segundo a TSF, numa intervenção de mais de 50 minutos na primeira fila acompanhado pelo candidato à Câmara de Lisboa Carlos Moedas, encontrava-se Passos Coelho que apontou "um paradoxo" à esquerda no domínio da saúde em particular. "Seria imperdoável que a esquerda, que diz que é uma espécie de 'alma mater' do SNS o esteja a desqualificar desta maneira e que seja a o que se chama de direita sempre a tentar salvar a situação e ver se lhe consegue dar sustentabilidade". Criticava o que o que chamou de "estatização" do SNS, que considera ter resultado na falta de atração dos profissionais e na degradação de equipamentos e serviços prestados.

Durante a apresentação do livro de um militante do PSD este afirmou que Passos nunca cortou no SNS. Em janeiro de 2021 no jornal Observador o dito militante apresentou uma série de generalidades e medidas avulso como medidas tomadas por Passos Coelho para melhorar o SNS que iam da “manipulação inteligente do sistema informático”; “que pôs todos os médicos a receitaram por princípio ativo genérico”, e na poupança em exames e medicamentos sem interesse clínico efetivo, “alargou os horários dos médicos para 40 horas, aumentando assim a oferta de mais horas médicas e poupando em horas extra, que pode ler aqui, coisa que os médicos posteriormente contestaram. Recordo-me daquela altura em que os médicos de família com receio reduziam os medicamentos e os exames aos utentes ficando sem meios de diagnóstico eficazes como aconteceu comigo e muitos outros.

Recorde-se ainda a propósito que em 2008, durante o Jornal Nacional da TVI, em campanha para a liderança do PSD Manuela Ferreira Leite e Passos Coelho, candidatos à liderança do PSD, declaravam-se a favor do fim do Serviço Nacional de Saúde (SNS) tendencialmente gratuito para todos, defendendo que sirva quem tem menos recursos e reforçava Passos e acrescentava então que "Eu concordo com este princípio de acabar com a universalidade na área da saúde e não só". Isto era a proposta para um SNS para pobres e outro para ricos.

Construída numa base de análise e de reflexão a minha observação ao longo dos anos mostrou-me que os órgãos de comunicação social, muitas das vezes por omissão, são mais condescendentes com as falhas e os erros dos governos de direita e são ávidos predadores quando são governos do Partido Socialista, único partido do centro-esquerda no poder nas últimas décadas. Esta atitude molda, de forma mais ou menos direta, a perceção que cada um de nós tem da realidade em que se insere, deixando os jornalistas de serem mediadores e transformarem-se em contrapoder e em produtores de opinião pública.

A perceção pode ser uma armadilha tramada. Mesmo quando os factos nos dizem sustentadamente uma coisa, somos capazes de construir sólidos castelos de areia a sustentar o contrário, se para isso estivermos inclinados, ou se para aí formos levados.

O jornalismo tem o poder de contribuir para mudar o rumo dos acontecimentos e alterar mentalidades. Há jornalistas que ultrapassam o papel de mediadores e tendem a transformar-se em produtores de opinião pública tendencialmente ideológica e até partidária. Há que por isso estarmos atentos e deixarmos de ser apenas assimiladores de opiniões que nos possam levar a ser manipulados.


As lições de Ressabiado Silva

O nome próprio “Ressabiado” não existe, é ficcionado. Tal nome próprio nunca terá sido posto a ninguém, a não ser como alcunha. Já viram com...