Os comentários que se seguem aos debates é suposto serem feitos
por jornalistas credenciados cada um com a sua orientação ideológica. A meu ver
tenho constatado que a isenção e a independência, sobretudo na SIC, não são os pontos
fortes dos intervenientes nos paneis de comentário.
Sou dos que considero que a comunicação social deve ter um
papel relevante na critica e no escrutínio público do poder e, ao mesmo tempo,
ter a liberdade de expressão e de opinião que devem ser estimuladas dentro dos
limites da civilidade, da educação, da tolerância e de respeito pelo caráter de
cada um.
Naquele canal televisivo os comentadores Ricardo Costa, José
Gomes Ferreira e Bernardo Ferrão nos seus comentários tentam fazer passar para
os telespetadores uma perceção de distanciamento ideológico, mas, para quem esteja
atento aos pormenores, notará que incluem cirurgicamente pequenas "alterações”,
provavelmente intencionais, ao significado ou às circunstâncias de um facto que
possa sugerir algo em desabono do governo socialista e de António Costa.
Com a proximidade das eleições notam-se mais estas pequenas
campanhas detratoras por via de jornalistas e comentadores. São opiniões dirão.
Certo. Mas também nos comentários sobre acontecimentos da política que se relacionem
com a justiça e com a economia tiram da cartola algo do passado que introduzem
no confuso emaranhado das lógicas em que se embrenham fazendo campanha e oposição
partidária ao abrigo de fazer jornalismo. Não admira, têm que estar sintonizados
com a “voz dos donos”. É normal.
Os jornalistas também são eleitores e terão as suas simpatias
ideológicas e partidárias e alguns não as escondem, pelo que tentam fazer comentários
positivos aos políticos do seu círculo ideológico-partidário e negativos para outros
candidatos concorrentes colocando-os nos pratos de uma balança. Comentar desfavoravelmente
a prestação de um interveniente político num debate que seja da simpatia do comentador
pode favorecer o seu preferido em prejuízo do adversário.
Dou um exemplo como hipótese: quem estiver a comentar um
debate entre, por exemplo, a líder do BE Catarina Martins e o líder do PSD Rui
Rio poderá emitir uma opinião em que a prestação do BE foi mais bem conseguida
do que a do PSD evidenciando os argumentos do BE ao fazer críticas ao PS.
Assim, ao concordar com a crítica feita pelo BE ao PS potencialmente posso estar
a condicionar pela negativa potenciais eleitores do PS que irão para o BE já
que é pouco provável que haja eleitores do BE que irão votar PSD mesmo
considerando a critica feita ao PS. Mas, pelo contrário, é mais provável que estes
mesmos possam votar no PSD.
Como é possível em debates como os que temos visto entrar com
pormenores que podem ser tecnicamente relevantes, mas que só contribuem para
ruído e compressão da mensagem. Quanto a avaliações, tenham paciência! Catem
também as falhas de pormenor nas narrativas de Rui Rio.
A obtenção de mais votos e, consequentemente, de deputados é,
em quaisquer eleições, o grande objetivo dos partidos. Para as eleições que se
irão realizar em 30 de janeiro há um outro objetivo que se apresenta: o do BE e
do PCP é retirar votos ao PS para evitar que este tenha uma maioria absoluta. Para a direita, no caso do PSD, o objetivo é o
de conseguir mais votos alguns retirados ao PS.
Para os liberais de direita e para os extremistas de direita o
objetivo é arrecadar mais votos, logo conseguir mais deputados, venham eles
donde vierem, para que possam exercer pressão sobre o PSD para negociações pós-eleitorais.
Para os partidos à esquerda do PS, chamados de extrema-esquerda, o objetivo é a
obtenção de números de votos para pressionarem o PS a uma nova negociação.
Por entre estas competições para a obtenção de votos há também
obsessões. A de Rui Rio, de Catarina Martins, marioneta do ideológico trotskista
Francisco Louçã, do troca-tintas de André Ventura do Chega é o reconhecimento, mas
que não dizem, de que António Costa é um político inteligente e competente que receiam
e, por isso, jogam tudo para afastá-lo. É a pessoa de António Costa que é o
político, o primeiro-ministro, o secretário-geral do PS e o defensor da
democracia e do socialismo liberal constitucional que pretendem afastar.
O BE espera que, com o afastamento de António Costa, possa surgir
um novo líder do PS como Pedro Nuno dos Santos que ceda ao BE e ao PCP e constitua
uma nova geringonça caso a direita ganhe sem maioria, ou o PS perca as eleições.
Só uma maioria absoluta do PS poderá ter a capacidade para afastar essa possibilidade.
O que todos temem por motivos diferentes, mas sobretudo o PCP
e o BE, é que o PS liderado por António Costa possa conquistar uma maioria
absoluta de deputados nas próximas eleições, que lhes tiraria a possibilidade de
limitar e bloquear decisões fundamentais e a continuação de uma governabilidade
estável do país para quatro anos.
No campo meramente de competição, para Rui Rio, António Costa
é uma obstrução na engrenagem que o poderá elevar até ao poder. Está a ficar mais
claro que para Rui Rio chegar ao poder precisa dos votos que possam vir de quem
votou anteriormente PS e das franjas da direita que saiam das eleições para poder
contar com uma maioria parlamentar, não negando em absoluto a possibilidade de
também contar com os deputados do Chega.
No momento em que escrevo uma das últimas sondagens dá uma maioria
de esquerda com algumas possíveis nuances. Segundo esta sondagem
feita para o jornal Público, RTP e Antena 1 o PS conseguirá obter um mínimo
de 104 deputados e um máximo de 113, neste caso a três lugares da maioria
absoluta no Parlamento e podendo fazer negociações parlamentares com o PAN e o
Livre, como defende Rui Tavares. Mesmo no cenário dos 104 deputados continua a
existir uma maioria de esquerda com o BE, CDU, Livre (elege um deputado em
qualquer dos cenários) e o PAN. Assim, a direita cresce, mas não ganha. O PSD em
caso algum consegue uma maioria de direita para governar – nem no cenário mais
otimista, nem mesmo com quatro deputados do PAN. Se assim acontecer Rui Rio vai
confrontar-se, mais uma vez, com a oposição dentro do partido.
Mais do que uma maioria do PS é mais de temer uma maioria
absoluta do PSD. Rui Rio apesar de se dizer do centro facilmente irá infletir
para a direita por pressão da ala mais à direita do partido. Só PS ao conseguir
uma maioria confortável nas eleições se pode libertar-se do jugo do PCP e,
sobretudo, do BE ao mesmo tempo que poderá também influenciar Rui Rio a manter
um rumo diferente. Note-se que para o caso duma revisão constitucional serão necessários
dois terços de votos dos deputados.
O que Rui Rio propõe é uma espécie de continuação do modelo
social que o governo de Coelho/Portas estabeleceu de 2011 a 2015, mas numa
versão mais light.
Pode ser uma versão menos radical, mas, do mesmo modo, pelo
que tem vindo a reclamar de modo mais ou menos astucioso é um modelo baseado na
redução de impostos às empresas, de salários, do Estado Social, da tendência
para a privatização da Saúde, da Educação, Segurança Social, etc., e tudo o
mais que a fação mais neoliberal do PSD irá impor a Rui Rio que irá originar o
agravamento das condições económicas, financeiras e sociais que se conhecem até
que, segundo o próprio, haja crescimento económico. Podemos até concordar com
alguns pontos mas o modelo que apresenta pode ser ajustado à realidade
portuguesa e de com uma progressão e ritmo adequados seguindo uma outra via.
Tudo isto
apesar de, em termos pessoais, apreciar a atitude de Rui Rio como político
franco, aberto, por vezes realista, mas outras vezes demagogo e cheio de
condicionais “ses”, que capta simpatias, que pretende ser do centro e não de
direita, mas lá vai piscando o olho à direita e ao votantes do centro-esquerda
verdadeiro partido social-democrata que é o PS em termos de comparação europeia
como o Grupo do Partido Popular Europeu a que pertence o PSD e Grupo da Aliança
Progressista dos Socialistas e Sociais Democratas Parlamento Europeu a que
pertence o PS.
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