Ana Gomes deveria saber que as mensagens racistas e xenófobas e de ódio subscritas por partidos da extrema direita e por indivíduos e grupos proliferam nas redes sociais e que esses serão mais nefastos do que a verbalização mais ou menos contida quando esses partidos estão legalizados.
O Diário de
Notícias avançou ontem, quarta feira, que Ana Gomes ex-candidata à presidência
da República enviou participação à procuradora-geral na qual pede ilegalização
do partido de André Ventura e investigação ao seu financiamento.
Além das
posições defendidas publicamente por Ana Gomes e pelo Presidente da Câmara
Municipal de Lisboa Fernando Medina, a contestação em torno do Chega, por
ideias alegadamente fascistas ou racistas e xenófobas, desde outubro do ano
passado, segundo o semanário Expresso, a PGR tinha recebido cerca de 300
exposições relativas ao Chega.
Segundo ao Diário
de Notícias Ana Gomes apresentou uma queixa na Procuradoria-Geral da República
(PGR) contra e legalização do Chega. Ana Gomes pretende formalizar a ilegalidade
do partido Chega à PGR através da reapreciação da sua legalidade pedindo ainda
que se investigue a origem do financiamento do partido liderado por André
Ventura elencando mais de 40 razões para justificar a sua pretensão.
Apesar do
que se tem visto e ouvido por parte de André Ventura e de aparentemente poderem
existir razões o pedido de ilegalização parece-me ser desaconselhado e uma inadequada
estratégia. Mesmo que a conclusão do processo seja favorável e o partido seja
ilegalizado podem considerar-se duas situações que André Ventura poderá a usar
em seu favor.
Para além de
contribuir para lhe dar mais “palco” numa primeira hipótese mesmo que o partido
seja ilegalizado Ventura envidará todos os esforços para poder continuar a falar
livremente explorando emocionalmente o sucedido vitimizando-se e ao seu
partido. Uma segunda hipótese será o de, estrategicamente, lançar e legalizar um
novo partido que poderá vir a ter ainda mais aceitação do que o anterior. Para
tal poderá desencadear uma mudança em termos ideológicos nem que, para isso,
tenha de mudar substancialmente o discurso através de uma mera substituição do
seu léxico. Ventura poderá ter aprendido
que o poder não se conquista, numa sociedade democrática como a nossa, apesar
de ainda com alguns solavancos, com meras tiradas de bota-abaixo e procurará encontrar
uma alternativa mais credível em termos de palavras, mas com a mesma carga
ideológica.
Assim, a sua
atividade poderá continuar a concentrar-se nos seus temas preferidos que lhe deram
frutos durante as presidenciais. Irá continuar a ter em vista a segurança, esta
por enquanto sem impacto real a não ser a sua colagem objetiva ao lado das
polícias apontando para pequenos “casinhos”, manter-se contra os ciganos, a imigração,
a defesa da família tradicional. Isto significa que, para ganhar votos,
procurará explorar os medos e as fragilidades, sobretudo o pavor do que é
estrangeiro, propor reformas impraticáveis nos impostos, gerir sentimentos de
precariedade e de injustiça social centrada nos que recebem sem trabalhar, bem
como os preconceitos decorrentes de uma visão antiquada das relações entre as
pessoas. É a principal estratégia dos partidos da extrema direita que consiste
na diabolização de uma categoria de cidadãos, na criação de um inimigo interno
virtual, que passa a ser o foco visível e repetido de todos os ataques.
Ventura surge
na mesma linha de qualquer outro partido extremista que é a de identificar um
alvo que, no caso português, são os ciganos e os negros. Também procuraram eufemisticamente
os "imigrantes" onde concentram o fogo por serem causadores de todos
os males que retiram os empregos, ao que se junta uma retórica de nacionalismo
económico.
Como não
existem fraturas nacionais graves, continuará a focar-se no único grupo social
que apresenta algumas diferenças em relação à generalidade dos cidadãos, os
ciganos. Mas os portugueses não veem a comunidade cigana como perigosa e como
uma ameaça existencial, o que há são apenas representações de imagens e
preconceitos muito antigos. Os ciganos são
sujeitos vulneráveis e destituídos de qualquer poder. O extremismo do Chega e
do André Ventura, ao contrário do que acontece noutros países europeus, tem
pouco espaço político, por não haver um filão identitário que possa ser
explorado.
Ana Gomes
deveria saber que as mensagens racistas e xenófobas e de ódio subscritas por
partidos da extrema direita e por indivíduos e grupos proliferam nas redes
sociais e esses serão mais nefastos do que a verbalização mais ou menos contida
quando esses partidos estão legalizados.
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