A propósito das próximas eleições diretas no PSD a coisa
está agreste. Há dois candidatos, ambos afirmam colocar à frete os interesses do
país, mas, como em tudo, há sempre um mais interessado do que outros. A escolha
depende dos militantes do partido que soberanamente escolher um dos candidatos.
Como não sou militante a minha visão é de distanciamento e independência relativamente
a cada um dos candidatos, todavia, tendo em consideração os efeitos que cada um
poderá exercer no país, tal como a estabilidade política e social necessária, não
nego ter inclinação por um deles.
Estamos a atravessar uma crise política forçada pelos partidos
de esquerda mais radical que votaram contra o Orçamento de Estado para 2022 ao
lado da direita. O intuito talvez fosse tentarem, cada um por si, recuperar
eleitores perdidos que se afastaram do radicalismo desde as eleições de 2019 e,
recentemente, nas autárquicas atribuindo as culpas ao Governo e a António Costa.
Os dois candidatos Paulo Rangel e Rui Rio têm visões diferentes
sobre o que pretendem para o partido e para o país. Cada um dos protagonistas
tem mostrado o seu estilo de estar na política e as visões para o país. Um deles
tem projetos mais ou menos centrados no país, o outro em projetos mais pessoais
e partidários. Paulo Rangel parece-me pertencer a este último.
Paulo Rangel está rodeado de gente que, tal como ele, fizeram
parte da entourage de Passos Coelho quando foi primeiro-ministro. Ligados à fação
mais à direita do PSD que, desde Cavaco Silva, se afastaram das raízes sociais-democratas.
Personagem melíflua e palavrosa e com narrativas ao mesmo tempo sedutoras e
enganadoras, mas sem consistência centra-se numa oposição desprovida de projetos
objetivos para o país e para as pessoas. Os apoios a Rangel vêm dos neoliberais
do partido e de lóbis muito fortes de grupos e comunidades.
Aproveitando a vitória pífia de Carlos Moedas em Lisboa e do
slogan da campanha “tempos novos” Rangel adotou a estratégia de colagem admitindo
"sintonia de pontos de vista" com Moedas sobre "tempos
novos" da política. Num almoço com Paulo Rangel Moedas salientou que o almoço
serviu para dar um “grande abraço” para “dar força” ao seu “amigo” Paulo Rangel
na reta final da campanha interna para a liderança para o PSD. Mas, por
outro lado, disse rejeitar que o encontro com Rangel pudesse ser interpretado
como um apoio, afirmando que essa interpretação “é feita pelos jornalistas,
analistas e comentadores”. Estranha afirmação plena de contradição. Os “tempos novos”
são o regresso às políticas dos velhos tempos do para além da troica. Como
Moedas ganhou tangencialmente a Câmara de Lisboa Rangel terá pensado que lhe
poderia acontecer o mesmo com as legislativas caso ganhasse e viesse a ir a
votos como futuro primeiro-ministro.
A propósito, vimos, na apresentação do livro da cristalizada
jornalista Maria João Avillez, o atual presidente da Câmara de Lisboa e
ex-ministro de Passos Coelho, Carlos Moedas, na fundação Calouste Gulbenkian salientar
para os jornalistas, depois de ter assistido à apresentação do livro afirmar que
não vai “tomar posição” na disputa interna do PSD, mas, ao mesmo tempo, vai
dizendo que quer que haja uma “verdadeira oposição ao PS”, tal como Rangel vem
salientado ao longo da sua campanha.
Também, a propósito, José Saraiva escreveu, numa entrevista feita
na casa de Maria João Avillez, que “Sentados no sofá, é impossível não reparar
nas dezenas de fotografias emolduradas que quase tapam os livros numa estante
próxima. Uma delas, a preto e branco, destaca-se pela dimensão generosa e
posição proeminente. «É o meu pai com o Salazar. E está aqui muito bem» concluiu
a entrevistada.
Voltando ao candidato à liderança do PSD, Paulo Rangel, do meu
ponto de vista é um ardiloso da política cuja retórica leva a confundir quem, menos
atento, o escuta não se apercebendo dos argumentos demagógicos e sem provas
evidentes das suas afirmações decorrentes das notícias do dia e consoante as
ocasiões.
Alguns comentadores, achando-se com privilégio de oráculos, vaticinam
que António Costa prefere que Paulo Rangel ganhe as eleições diretas no PSD porque
isso se poderá traduzir nas eleições legislativas em votos para o PS!!?
O candidato Rui Rio com a sua espontaneidade fala mais para
o país e é por todos entendido. Tem a noção de que a probabilidade de uma
maioria absoluta, mesmo com outros partidos à sua direita é quase impossível. E
daí as suas propostas.
Pelo contrário de Paulo Rangel luta pelo poder e só recentemente
começou a equacionar alguma abertura para viabilizar um futuro governo. Rangel quando
questionado sobre cenários de governabilidade após as legislativas de 30 de
janeiro rejeitou um "PSD em segundo lugar" ou ser
"vice-primeiro-ministro", repetindo que vai trabalhar para liderar um
PSD com "maioria estável no parlamento" sozinho ou com coligações com
partidos da direita "moderados". O seu devaneio não tem limites e a
sua leitura da realidade está no mundo da imaginação porque está carecida de
bom senso. Afinal qual é o seu projeto para no caso de, mesmo que em coligação com
outros partidos, não conseguir a tal maioria estável?
Quanto a Rui Rio tenho ainda na memória a polémica
que se instalou com Pinto da Costa, senhor do Futebol Clube do Porto quando
ele era então presidente da Câmara Municipal do Porto e se manteve firme no seu
propósito de “reduzir a área comercial disponível para o FC Porto negociar em
cerca de 75 por cento, e isto sem apresentar qualquer proposta alternativa para
os dragões financiarem as obras do seu novo estádio. Isto apesar da troca da
área comercial para habitacional ter um custo nove milhões de euros” circunstância
que Pinto da Costa nunca lhe perdoou.
Acusado pelos radicais da ala direita do PSD de ser a muleta
do PS ele responde em função do que é melhor para o país. Rui Rio não defende um
bloco central (PSD+PS) coisa hoje em dia pouco provável o que Rui Rio assume é que
está disponível para viabilizar um Governo do PS.
Paulo Rangel faz a predição da instabilidade garantindo que
só haverá estabilidade com maioria absoluta do PSD. A pergunta é: e se o PSD ganhar
sem maioria absoluta, mesmo em coligação com partidos à sua direita, não a conseguir?
E se ao recusar, como claramente afirmou, qualquer alinhamento com o partido Chega
provocará nova crise política?
Os que pretendem desacreditar Rui Rio não dão crédito aos
argumentos de “estabilidade”, “responsabilidade” e “sentido de Estado” que vão
de encontro a muitos portugueses ao contrário do posicionamento ideologicamente
marcado de Paulo Rangel que é muito mais neoliberal liberal e nunca afirmou que
o PSD é um partido do centro – onde se ganham eleições – e muito menos de
esquerda. O facto é que os partidos sociais-democratas na U.E. estão no grupo político
mais à esquerda e ao centro (S&D) onde se inclui o PS, tal como o SPD da Alemanha,
agora no governo deste país. O PSD inclui-se no grupo da direita e
centro-direita (PPE). Portanto mesmo que Rui Rio anuncie que o PSP é um partido
de esquerda, perde o seu tempo o esforço estará numa aproximação ao centro-esquerda
que se encontra entre o centro e a esquerda no espectro ideológico.
Sejas como for não faço vaticínios, mas talvez fosse mais
útil ao país uma vitória de Rui Rio nas eleições internas do PSD.
Ao acabar de escrever este texto numa sondagem
da Pitagórica divulgada pela TVI, o PSD teria melhor resultado nas
legislativas de janeiro se fosse o atual presidente do partido
social-democrata, Rui Rio, o líder.
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