Política

Eleitoralismo orçamental e pontos de vista

Comentadores liberais de direita têm afirmado que o Orçamento de Estado para 2019 é eleitoralista e não é amigo das empresas. Os de esquerda, em defesa do orçamento, lá vão dizendo que não, que é um orçamento que segue as pisadas dos anteriores, o que de certo modo é verdade, e que é amigo do crescimento.


É um orçamento de austeridade? Não, mas também não é expansionista. Como os anteriores é um orçamento que vai amenizando a austeridade severa que nos atingiu desde 2011 e que, não fosse a solução parlamentar encontrada ainda hoje estaríamos a amargar.


Se considerarmos o conceito de eleitoralismo como a ação política que tem como prioridade o sucesso eleitoral de um partido e não o interesse da comunidade, e se o aplicarmos a um qualquer orçamento então, sem dúvida, podemos afirmar que todos os orçamentos preparados antes de qualquer ação eleitoral poderão ser qualificados de eleitoralistas.


A coligação PSD-CDS de governo anterior, próximo das eleições de 2015, já numa saída de contexto de austeridade extrema, considerava no seu programa eleitoral, a constar no Orçamento de Estado para o ano seguinte, poder haver um alívio da austeridade em 2019 e a assim como a recuperação progressiva de rendimentos (que duvidamos fosse para cumprir). Podemos então dizer que eram também promessas eleitoralista a constar no Orçamento de Estado.


São evidentes as contradições dos liberais de direita quando criticam tão ferozmente todos os orçamentos que venham da esquerda. Como pode um orçamento ser mau e, ao mesmo tempo, ser eleitoralista? Ou é mau e o partido do governo perderá votos ou, então, é bom e apresenta pontos forte que lhe darão votos e aos partidos que o apoiam no parlamento. A menos que a direita considere como um bom orçamento o regresso aos orçamentos dos anos do diabo dos aumentos de impostos.


Caso se pretenda atrair através do Orçamento de Estado para o voto no partido que está no poder a coisa fica complicada porque é calcular que os eleitores quando vão às urnas pensam: “se não me “tocou nada” no orçamento não voto nos partidos que o aprovaram, se me “tocou algum”, então voto em um dos partidos que o fizeram aprovar”. Seria um raciocínio destituído de bom senso, porque poderia levar-nos a concluir que um eleitor que seja um convicto liberal de direita poderá votar em partidos de esquerda e um eleitor de esquerda se nada lhe calhou irá votar em partidos de direita.


Orçamentos eleitoralistas são todos e serão sempre quando forem elaborados próximo de eleições, seja por partidos de esquerda, seja por partidos de direita que estejam no poder. Sempre que um orçamento provenha de um governo de esquerda os comentadores com posicionamento ideológico de direita, e em consonância com a oposição, cantam o estribilho do orçamento prejudicial e eleitoralista, salientando apenas o que é negativo e omitindo o que é bom para o desacreditar.

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