A 25 de Abril de 1975 cerca de seis milhões de portugueses souberam pela primeira vez na sua existência o agrado de saber o que era o exercício democrático fundamental de ter o direito ao voto.
Hoje no dia da comemoração da Revolução do 25 de Abril de 1974 resolvi ir vasculhar os meus arquivos relacionados com esta data histórica e encontrei um recorte do artigo publicado da Revista Expresso com o título “A sondagem secreta”, cuja data por lapso não anotei.
Achei interessante saber-se, muito antes de haver marketing direcionado para a política houve no final de 1974, como é que se manifestava então a vontade popular através de uma sondagem de opinião efetuada por uma instituição ligada ao grupo CUF, o CEAD, que, entretanto, desapareceu, perdendo-se o estudo com a desvario das nacionalizações.
A sondagem era inédita porque, pela primeira vez, incidia sobre as preferências partidárias dos portugueses e de quais era os preferidos para Presidente da República.
Esta sondagem procurava entrever a incógnita que eram as eleições por sufrágio universal direto e secreto para a Assembleia Constituinte. As eleições livres era um dos sérios compromissos do MFA – Movimento das Forças Armadas que tinha derrubado o regime de ditadura que vigorou em Portugal durante 41 anos.
No seu início e em finais de 1974 a revolução seguia caminhos incertos e sempre para a esquerda. Em dezembro de 1974 o poder político assentava cada vez mais nos militares onde despontavam claras divergências e o Governo Provisório que perdeu, entretanto, poderes era apoiado por quatro partidos PS, PPD (atual PSD), PCP e MDP dos quais se desconhecia a respetiva expressão eleitoral.
A sondagem apontava para uma nítida vitória dos partidos moderados, o PS e o PPD ficando-se o PCP e o MDP seu aliado com posições minoritárias e atribuía á direita, extrema-direita e á extrema-esquerda valores insignificantes. Outra conclusão antecipada foi quanto à abstenção que era quase residual.
O questionário continha 33 perguntas sobre problemas nacionais urgentes e foram questionadas pessoal e diretamente cerca de setenta e sete mil pessoas selecionadas aleatoriamente residentes no continente em trabalho de campo que ocorreu em dezembro de 1974.
Aqui vão algumas das principais conclusões do inquérito de opinião:
Partidos | |||||||
PS | PPD atual PSD | PCP | MFA Não era partido nem concorreu | MDP | ANP partido único da ditadura | CDS | |
% de intenções de voto | 35,1% | 27,0% | 10,8% | 5,4% | 2,7% | 2,7% | Sem significado estatístico |
Acima da média encontravam-se partidos como o PS nos distritos da Guarda, Setúbal, Lisboa, Beja. O PPD sobressaía em Viseu, vila Real Braga e Porto. O PCP destacava-se em distritos como Beja, Setúbal e Évora. O CDS em Castelo Branco.
Menos de um quarto da população, 23%, participara em comícios ou sessões de esclarecimento.
Sem eleições a população não sabia que rumo seguir | SIM | NÃO | Indecisos |
Se não se realizassem eleições o povo sentia-se enganado | 49% | 13% | - |
Tencionavam ir votar | 83% | 5% | 12% |
Maior liberdade | Mudança de governo | Fim da guerra no Ultramar | |
Na sua opinião qual foi a mudança mais importante depois do 25 de Abril? | 21% | 10% | 9% |
Acha bem ou mal | Bem | Mal |
Aumento dos salários | 88% | 3% |
Libertação de presos políticos | 85% | 2% |
Prisão dos agentes da PIDE | 80% | 3% |
Dar independência aos povos de África | 78% | 4% |
Os sindicatos ganharem força | 64% | 3% |
Abertura de relações com os países comunistas (na altura) | 62% | 9% |
Haver possibilidade de divórcio | 57% | 27% |
Portugal pode tornar-se um país comunista | 46% | 21% |
Problemas entre trabalhadores e patrões podem ser resolvidos sem greves | 72% | 2% |
Mais | Menos | |
Empresas do Estado são mais eficientes | 33% | 14% |
Acredito mais na iniciativa privada do que no Governo | 10% | 37% |
O Governo fez bem em dar independência aos territórios ultramarinos | Bem | Mal |
81% | 4% |
Europa | EUA | Rússia | |
Junto de que países Portugal podia obter maior auxílio? | 25% | 20% | 13% |
Sim | Não | |
Portugal devia manter-se no Ultramar se fosse possível acabar com a guerra | 51% | 23% |
A quem deviam pertencer as terras | |
Aos seus proprietários | 45% |
Aos que nelas trabalham (Maioria verificou-se nos distritos de Beja e Setúbal) | 30% |
Cooperativas agrícolas | 7% |
Ao Estado | 5% |
Resultados das eleições
Que partido gostaria que ganhasse | Em quem vai votar | Resultado real das eleições (1) | |
PS | 44,2% | 35,1% | 37,9% |
PPD (PSD) | 32,7% | 27% | 26,4% |
PCP | 11,5% | 10,8% | 12,5% |
MFA | 5,6% | 5,4% | Não era partido |
MDP/CDE | 1,9% | 2,7% | 4,1% |
CDS | 1,9% | - | 7,6% |
UN/ANP | - | 2,7% | Partido entretanto extinto |
FSP | Partidos formados após a sondagem | Partidos formados após a sondagem | 1,2% |
UDP | 0,8% | ||
MES | - | - | 1% |
PPM | - | - | 0,6% |
Nenhum | 1,9% | 13,5 | Outros partidos |
Num país que na altura não tinha experiência de inquéritos com finalidades políticas houve uma percentagem muito elevada de pessoas que não emitiram opinião sobre vários assuntos, devido à falta de hábitos democráticos e segundo os autores afirmaram especialmente no Alentejo os entrevistadores tiveram de ir acompanhados pela GNR.
Foi significativo o facto de metade da população desconhecer quem fizera o 25 de Abril.
Como tudo mudou até aqui!!!
Vivemos em democracia e queremos continuar a viver, apesar de haver ainda por aí uns “jarrões” empedernidos que estão a fazer tudo para acabar com ela. Querem a democracia deles, isto é, nenhuma!….
Sem comentários:
Enviar um comentário