O desconfinamento apressado na Região de Lisboa e Vale do Tejo (RLVT) e sem qualquer estratégia passou a ter, para além de responsabilidades sanitárias, responsabilidades políticas. O problema provavelmente não ficará por aqui; deixemos vir a “Champions League” e veremos.
O sentimento de fascínio de Fernando Medina e de António Costa pelo acolhimento daquele acontecimento desportivo que outros países provavelmente rejeitaram poderá vir a acentuar a propagação da epidemia covid-19. A ver vamos se não se agravará ainda mais em função da decisão de haver, ou não, espetadores mesmo com medidas de segurança.
Deslumbrados pelo dito sucesso inicial com que Portugal conseguiu de certo modo conter epidemia abriram portas ao desleixo pós confinamento na região de Lisboa criando uma espécie de corredor livre para o agravamento em Lisboa do covid-19. Tudo entra em Lisboa minha gente, venha dondo vier, com ou sem controle que, quando existe, é apenas de fachada.
Costa deu o mote ao criticar a ministra da saúde e Medina agarrou a deixa e passou a acusar de incompetência os responsáveis pela saúde, seguem a regra da criação de bodes expiatórios. Face ao que está a acontecer na região de Lisboa desligam-se das responsabilidades que tiveram e apontam agora o dedo a outros. Ou não tenha de começar a preparar o terreno para as autárquicas.
Aliás tem sido notório os disparates e as contradições nas mensagens por parte do Governo e da autarquia de Lisboa através de Costa, Medina, ministra da saúde e ministro das infra estruturas Pedro Nunes Santos. O presidente da Câmara de Lisboa disse que "Não há nenhuma demonstração de que os casos se devam ao desconfinamento". Então se os casos aumentaram após os desconfinamento na RLVT como se explicam os números da região anteriores com o aumento de casos que foram divulgados após essa decisão.
António Costa lança o maior disparate, quiçá seguindo Trump, ao diz que o aumento de número de casos de covid-19 se deve ao aumento do número de testes. Vamos lá ver: então será que para diminuirmos o número de infetados o melhor é não fazer testes? Ou será que não há infetados e os testes é que os criam? Ou será que número de infetados depende do número de testes efetuados? Os infetados existem, mas se não se fizerem testes deixam de existir!
A ministra da saúde Marta Temido que no início era tão certinha também começou a meter os pés pelas mãos talvez por ordem Costa. Que pretende tapar o sol com uma peneira. Quanto à possibilidade de os transportes público na RLVT poderem ser causadores de propagação do vírus a ministra refere num dia o que no dia seguinte altera por força da linguagem. Vejam-se estas declarações mencionadas no jornal Público:
“Questionada sobre a situação de Lisboa e Vale do Tejo e a questão dos transportes públicos, Marta Temido explicou que o que disse foi que “não são conhecidos casos de contágio que tenham tido origem em transportes e não que os transportes não sejam pela sua sobrelotação, pelas suas condições, espaços a merecerem uma especial cautela”. “Se não fosse assim, não tinha o Governo decidido desde o primeiro momento que haveria uma coima pelas viagens em transportes públicos sem máscaras ou viseira”, salientou.”
O que se pode questionar é se utilização de máscaras pela maioria dos utentes é suficiente em situações de autêntico aperto nas carruagens ou autocarros para afastar quaisquer riscos de infeção.
E mais à frente relata o mesmo jornal:
“Penso que estes dois aspectos sublinham intensamente o ponto para o qual estava a chamar atenção e para aquilo que era sobretudo a substância da minha chamada de atenção. Estamos a enfrentar um fenómeno novo relativamente ao qual temos muitas incertezas e, em muitas circunstâncias, lapsos de conhecimento. Esta questão dos contágios em transportes é uma delas. Embora da nossa vida empírica percebamos que há um conjunto de circunstâncias para que sejam locais particularmente expostos. Mas se não tivermos estes dois argumentos em paralelo, penso que não estamos a prestar bom serviço ao conhecimento e à objectividade”, reforçou Marta Temido.”
A minha opinião é que estará a ser pressionada no Governo para fazer passar para a opinião pública uma falsa realidade. Aliás, o que também se tem verificado é que os números de infetados que são divulgados faltam num dia e no dia seguinte estão a mais e também a culpa deste caos é a de terceiros que informam mal as entidades de saúde que nos divulgam, a DGS.
Por outro lado, a mensagem que por vezes passam é a de que a medida da gravidade da situação está em saber apenas se há ou não número de camas suficientes no SNS para que este não fique superlotado e sem resposta, quanto ao resto deixa andar.
O caso do Reino Unido que nos coloca numa lista negra de países não seguros para os ingleses viajarem sem que no regresso não tenham de ficar de quarentena deve servir como sinal para enfrentar e superar o problema que o governo concorreu para o originar e para pedagogicamente reforçar a nossa determinação no combate. Os critérios para qualquer avaliação de avaliação devem ser iguais quando se comparam várias entidades e os números de novos casos de infeção pelo novo coronavírus por cada 100 mil habitantes tem sido o critério. Pode-se discutir se esse deveria ser o único ou o melhor critério. Mas, seja qual for a resposta, é o que está a servir de base às análises de todos os países que discutem a reabertura das suas fronteiras.
Com base neste critério Portugal é o segundo pior registo da Europa, com quase o dobro de novos casos em 14 dias contados até esta sexta-feira face aos registados no Reino Unido e para os quais a RLVT tem vindo a contribuir.
Gestos e palavras como as que se têm ouvido não vão nesse sentido. A perceção que os portugueses têm é que tudo quanto agora possam dizer sobre o covid-19 com todos os dias nos afrontam é que cabe na categoria das manobras de diversão.
Só esperamos é que as estratégias de Bolsonaro não sejam a inspiração para o Governo em Portugal.
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