No semanário Expresso da passada semana João Vieira Pereira escreve
no ponto 2 do artigo de opinião com o título de “Patinho feio” o que eu e muitos
já pensámos sobre o que está a acontecer em janeiro no que se refere covid-19. Pelo
que conheço das suas opiniões publicadas não me identifico ideológica e politicamente
com Vieira Pereira.
Como não sou sectário aceito, sem deixar de ser crítico, as
ideias e opiniões que sejam contributos para tudo quanto se achar necessário ser
melhorado.
Quando comparo o primeiro-ministro António Costa com os seus
congéneres e presidentes da Europa durante as conferências de imprensa para comunicar
decisões que se relacionem com estados de emergência e confinamentos, parece-me
estar a escutar um mestre-escola que, perante os seus alunos inquiridores, se
coloca numa atitude de tudo justificar ao pormenor, em vez da assertividade e segurança
que seriam de esperar ao anunciar medidas exigidas. António Costa parece estar
a pedir desculpa pelas decisões que necessariamente devem ser tomadas.
A falta de rápida capacidade de resposta, as intermitências das
medidas que devem ou não ser tomadas e a perceção dada à população de um certo
alívio como o foi mostrado durante a época natalícia com o slogan “Vamos salvar
o Natal!” tiverem consequências.
Também não sabemos se na altura fosse escolhida uma opção mais
severa, observando o que os especialistas avisavam, não estariam agora a clamar
e a culpabilizar os mesmos pela economia perdida durante a época natalícia.
É neste sentido que o ponto 2 do artigo de João Vieira
Pereira, com o qual concordo, vem a propósito e que passo a citar:
“2 Reina a hipocrisia entre quem está surpreendido com os
atuais números da pandemia. Os técnicos já tinham feito as contas, os
especialistas já haviam avisado e os jornais já o tinham escrito: um Natal sem
confinamento significava que “o mês de janeiro pode chegar ao fim com um
acréscimo de 800 a 1500 mortes”. Não lhes ligaram. Era importante salvar o
Natal. Feito! Mas com um custo inaceitável. A responsabilidade política é
enorme, e essa só tem um rosto, o de António Costa. Não há outra forma de o
dizer. Na Europa, enquanto muitos apertavam, nós facilitámos. A opção foi
política, não foi técnica.
É provável que cheguemos ao fim deste mês com quase 3 mil
mortos provocados pela pandemia, sendo que estas vítimas já estão neste momento
infetadas. O crescimento dos números deixa antever um inverno negro. O vírus
não usa relógio ou calendário. Não sabe se é fim de semana e se são 13h para
começar a infetar. Mas sabemos que gosta de espaços fechados, de aglomerados,
de reuniões familiares prolongadas, de almoços e jantares de amigos. Sabemos,
mas não agimos. Preferimos apelar à responsabilidade de cada um. A tempestade
foi perfeita com a liberdade do Natal, os aglomerados provocados nos espaços
comerciais pelas restrições e a falsa segurança de que a vacina está aí para
nos salvar. Agora vamos correr atrás do prejuízo e adotar medidas restritivas
que só vão ter efeitos em fevereiro. Sim, porque janeiro já está perdido. E
tudo pode ser ainda superior com os novos adiamentos de atos médicos não-covid,
que se podem generalizar à medida que os hospitais atingem o seu limite.
Enquanto isso, as vítimas silenciosas desta pandemia crescem todos os dias.
Alguns só terão essa noção meses, anos mais tarde.”
In Semanário Expresso de 8/1/2021
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