Nunca escrevi sobre política
internacional a não ser no tempos de Trump, mas a perigosidade do conflito e os
jogos de ameaças de Biden e Putin a isso me estimularam, por isso aqui vai.
“Putin dividido entre a guerra
total e o longo jogo de nervos” é o título
de um artigo publicado hoje no jornal Público sobre a crise na Ucrânia que me
fez recordar os tempos da Guerra fria.
As tensões entre os EUA e a Rússia,
reatadas pela questão ucraniana, despertaram-me a atenção para o tempo da URSS
- União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e da Guerra Fria travada
principalmente nas frentes políticas, económicas e de propaganda que durou até
1991.
Quando a URSS se desmoronou com o
movimento da Perestroika muitas das repúblicas que se encontravam sobre o seu domínio
foram libertadas da influência soviética e os regimes comunistas nesses países
entraram em colapso no final de 1989, levando ao poder governos
democraticamente eleitos tendo o que conduziu à retirada gradual das tropas
soviéticas desses países.
Em meados de 1980 o programa Perestroika
procurava levar a União Soviética à igualdade económica com países capitalistas
como Alemanha, Japão e Estados Unidos entre outros. Em 1988 foi criado na ainda
URSS um novo parlamento, o Congresso Soviético dos Deputados do Povo, pela
primeira vez através de eleições para esses órgãos com uma escolha de candidatos
que, pela primeira, vez incluía não-comunistas, mas o Partido Comunista
continuava a dominar o sistema. Gorbachev foi o iniciador mais importante de
uma série de eventos no final de 1989 e 1990 que transformaram o tecido
político da Europa e marcaram o início do fim da Guerra Fria.
Em novembro de 1989 deu-se a
queda do muro de Berlim e no verão de 1990, deu-se a reunificação da Alemanha
do Leste com a Alemanha Ocidental. Foi acordado então que a nação unificada se
tornaria um membro da NATO - Organização do Tratado do Atlântico Norte, inimiga
de longa data da União Soviética.
A Guerra Fria começou após a
rendição da Alemanha nazi em 1945, quando a ex-União Soviética começou a
estabelecer governos comunistas nos países da Europa Oriental, com o pretexto de
se proteger contra uma possível ameaça renovada da Alemanha, e de que a dominação
soviética no leste da Europa pudesse ser permanente. A Guerra Fria foi materializou-se
entre 1947 e 1948, derivada da ajuda dos EUA na guerra e deixou alguns países
ocidentais sob influência americana. Por outro lado, os soviéticos
estabeleceram regimes abertamente comunistas no leste da Europa.
No entanto, na altura, fazia-se muito
pouco uso de armas em campos de batalha durante a Guerra Fria por foi travada
principalmente em frentes políticas, económicas e de propaganda e durou até
1991 como anteriormente referi.
Nesta segunda década do século
XXI com as redes de computadores e meios de comunicação mais eficazes, mais ativos
e acessíveis tudo se complicou e, para além da chamada guerra eletrónica com a
pirataria informática, as movimentações no terreno de material bélico a guerra
podem tomar proporções mais gravosas do que apenas da propaganda.
Putin descreveu na altura a
desintegração soviética como uma catástrofe que roubou a Rússia do seu lugar de
direito entre as grandes potências mundiais e a colocou à mercê de um Ocidente
predatório. Ele passou os seus 22 anos no poder reconstruindo os militares
russos e reafirmando sua influência geopolítica.
Um imprevisível líder russo
acumulando tropas e tanques na fronteira de um país vizinho que gostaria
estivesse debaixo da sua influência política e geoestratégica ameaça uma
conflagração este-oeste. O que parecia ser mais um episódio perigoso idêntico
ao de uma era passada está agora no centro dos assuntos globais.
Depois do colapso da União
Soviética a NATO expandiu-se para o leste, acolhendo a maioria das nações
europeias que antes estavam na esfera comunista. As repúblicas bálticas da
Lituânia, Letónia e Estónia, que eram partes da União Soviética, juntaram-se à NATO,
assim como a Polónia, a Roménia e outros. Como resultado a NATO que foi criada para
combater impedir o expansionismo soviético do pós-guerra, com a adesão de
países do leste europeu à organização, aproximou-se para centenas de quilómetros
de Moscou, e diretamente na fronteira com a Rússia.
Putin chama à expansão da NATO ameaçadora,
e a perspetiva de a Ucrânia passar a fazer parte desta organização é uma ameaça
real ao seu país. À medida que a Rússia se tornou mais assertiva e militarmente
mais forte, as suas queixas sobre a NATO tornaram-se mais estridentes. Ele
invocou repetidamente o espectro de mísseis balísticos americanos e forças
de combate na Ucrânia, embora autoridades dos EUA, ucranianos e da NATO insistam
que não há nenhum. Para além disto Putin também insiste em que a Ucrânia é parte
integrante da Rússia, cultural e historicamente.
A coisa está de facto agreste. As
informações que se dispõem não possibilitam saber exatamente onde está a
verdade, embora saibamos que Putin tem razão quanto à cada vez maior proximidade
da NATO a Moscovo e que, para alguns, é uma organização bélica agressiva conforme
se faz constar pela propaganda da Rússia, dos seus aliados e simpatizantes. No
entanto também podemos considerar que a NATO é uma organização defensiva e que
os países de leste que a ela aderiram foi por vontade própria e são soberanos e
independentes, ao contrário de quando estavam na alçada da extinta União Soviética
da qual Putin parece ser um saudosista.
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