Política

As lições de Ressabiado Silva

O nome próprio “Ressabiado” não existe, é ficcionado. Tal nome próprio nunca terá sido posto a ninguém, a não ser como alcunha. Já viram como soaria se nos dirigíssemos a alguém com tal nome? «Bom dia, senhor Ressabiado!» ou «Como está senhor Ressabiado? Tem passado bem? Há muito tempo que não o via!».

Ressabiado não é um nome próprio para designar determinada pessoa, isto é, aquela e não outra. É um adjetivo cujo significado é o de alguém que está melindrado, agastado sendo também sinónimo de zangado, por isso mantenho a designação para a personagem. O nome Silva é um apelido, e há muitos!

A estória começa quando, certo dia, Ressabiado Silva, corroendo-se interiormente e clamando por vingança - para explicação deste último sentimento seria a necessário um psicanalista - com o coração pleno de raiva e ódio que tinha contra tudo e contra todos os que com ele não concordam, nem concordaram resolveu destilar publicamente tudo o que sentia contra o seu alvo predileto que, no passado, o confrontou e quase lhe impôs aceitar condições que o contrariavam.

Por vezes vêm-lhe à memória os bons tempos da leitura do conto de Lewis Carroll “Alice no País das Maravilhas”. Recorda-se, sobretudo, da personagem do Coelho (no conto é a Lebre de Março) que, para ele, é uma personagem que possuía a verdadeira sabedoria da governação, mesmo diante dos maiores obstáculos.

Podemos imaginar Alice como sendo o povo que acaba por fazer parte do "chá de desaniversário" sem entender nada que está a acontecer. O Coelho era o fiel companheiro da hora do chá que insiste em provocar e incomodar a convidada. O Ressabiado é uma espécie de personagem como o Chapeleiro Louco que se juntam ao Coelho (Lebre de Março) e convidam Alice, o povo, para beber chá, mas sem açúcar. O Coelho é um personagem de sonho que ainda alguns continuam a procurar que regresse ao país das maravilhas.

Ressabiado Silva não convivendo bem com a imagem que ficou dele enquanto desempenhou cargos políticos, sobretudo no meio dos seus, esforça-se por colorir essa imagem. Mas a História não se reescreve e o que fez mal por erro ou omissão, obscurece a sua postura de infalível e continua a pensar que "ainda está para nascer quem seja mais honesto que ele", mas a sua atitude de ressentimento, ficarão assim inalteráveis por muitos livros que escreva e muitos discursos que faça.

Mesmo assim, Ressabiado Silva insistiu em escrever e publicar um livro, mais um, este último sobre a arte de como fazer política e nela conviver. Ressabiado, revê-se num hábil ético-moralista da política, isto é, avalia severamente os outros de acordo com os seus próprios padrões morais, desdenhando outros que sejam discordantes ou que não sigam os seus princípios político-partidários. Egocentrista convenceu-se e interiorizou o que disse no passado quando salientava que para serem mais honestos do que eles tinham de nascer duas vezes.

Para o esquadrão dos seus seguidores não é um livro qualquer. Para eles estão lá contidos altos pensamentos filosóficos no âmbito da ética política. Talvez seja uma “Bíblia”, talvez seja até um catecismo, poderá até ser um manual de instruções de como fazer e não fazer política.

Há um livro muito conhecido cujo título é “A Arte da Guerra”, obra literária do pensador chinês Sun Tzu, escrito por volta do ano 500 a.C. A obra apresenta-se como um manual estratégico para conflitos armados, mas que pode ser extrapolado para várias aplicações noutras áreas da vida e do confronto político. Terá, por acaso, Ressabiado Silva perguntado a si mesmo: Se aquele tal Tzu escreveu sobre a guerra porque não escrevo eu sobre a política? Mas o livro que escreveu é ainda mais completo, é um livro que ficará na memória do “mundo português”, uma espécie de Bíblia, com um Velho e Novo Testamento aplicados à política, mas tendo como alvo o ataque a vários dos seus inimigos figadais e a uma ideologia em especial.

O livro de Ressabiado Silva tem como base a sua sabedoria infinita. São textos que, para ele, são princípios sagrados e contêm histórias, doutrinas, códigos e tradições que devem guiar os verdadeiros políticos.

Ressabiado Silva, assim como para os seus correligionários, sempre se considerou um símbolo do país onde vive e o maior panteão do partido a que aderiu, talvez por engano, ou talvez porque não teve coragem de aderir na altura da queda do antigo regime a outro com que mais se identificasse.  

Teve sempre uma visão austera, (ainda há quem aprecie), com um perfil que aponta para um autoritarismo que mal consegue disfarçar. Poderia ter sido líder de um partido de extrema-direita, embora sem os chavões populistas inerentes. Poderia até ser líder de um partido com amostras de salazarismo, sem Salazar, em convivência com uma democracia controlada a seu modo. Foi o forno onde ele se cozinhou. A sua postura comunicacional, quer a sua retórica, quer o que defende, fazem parte de um passado que pode não estar longe de poder regressar, não na sua forma primitiva, mas revista e atualizada.

Ressabiado Silva tem uma necessidade egocêntrica e narcisista de se mostrar o melhor, o sábio, o infalível. Faz oposição a um governo cujas políticas não sejam as que ele defende e que pretenderia impor ao país onde vive. Nestas circunstâncias, tem o impulso de sair da concha onde habita, para fazer campanhas de oposição a qualquer governo que não seja o por ele idealizado, sem, no entanto, propor soluções. Dizem os seus correligionários que ele é o símbolo de um período de crescimento no país, mas e as pessoas terão de facto também crescido? Ressabiado Silva é um saudosista do poder, mas dum poder absoluto. Ressabiado Silva parece ter-se esquecido que pensar e decidir quando se está no poder, frente a problemas atuais, concretos e complexos não é o mesmo que escrever para dar lições quando se está por fora do poder e como se o tempo tivesse parado.

 

O rastilho do Presidente da República

 



Como presumo que o Chega, o PSD e a IL, como o Presidente, não se tornaram esquerdistas no despesismo, esta contradição vem muito mais de uma lógica de oposição em todos os azimutes, ou, no caso do Presidente, de exorbitar das suas funções para “pôr o Costa na ordem”, do que de uma posição de fundo. É por isso que a contra-governação do Presidente gera instabilidade social

José Pacheco Pereira

in Jornal Público.

Face a alguns sintomas que se manifestam no nosso sistema de governo, começo a ter dúvidas se se trata, de facto, de um tipo de sistema de governo semipresidencialista em que o Governo, centro da atividade política, responde politicamente perante a Assembleia de República. Alguns falam até em presidencialismo do Primeiro-Ministro no caso de maiorias absolutas monopartidárias.

Esta minha dúvida surgiu-me das justificações do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa quando devolveu, sem promulgação, o Decreto que estabelece os termos de implementação dos mecanismos de aceleração de progressão na carreira dos educadores de infância e dos professores dos ensinos básico e secundário, mas apontando a frustração da esperança dos professores ao encerrar definitivamente o processo.

O Presidente parece estar a tornar-se uma espécie de contrapoder e, portanto, a contra governar, umas vezes por tagarelice e agora, parece, também, por palavras escritas. O Presidente fala de mais é o que se tira das suas intervenções.

Marcelo parece estar apostado em querer atear o rastilho de pólvora que poderá resultar em convulsão social e em reivindicações nas carreiras dos vários setores e servidores do Estado. O objetivo será, porventura, ficar nas “boas graças” da classe dos professores e dos seus sindicatos.

O caminho perigoso que o Presidente da República segue ao criar dificuldades à governação de António Costa é que quando, para criticar o Governo, por vezes falando de mais, passou também a fazê-lo nas críticas feitas nas notas de promulgação dos diplomas como se fosse ele o senhor absoluto omnisciente sobre tudo. O discurso do Presidente sobre a governação é mais parecido com um sistema de governo presidencialista.

Podemos estar, ou não, de acordo com o diploma do Governo relativamente às carreiras dos professores, mas a decisão é parte integrante da governação e, como tal, é legitimo, desde que no diploma não sejam detetadas inconstitucionalidades.

O Presidente pode, ou não, concordar com o decreto-lei sobre a carreira dos professores, e está no seu direito, mas que deveria votá-lo desde que esteja no âmbito constitucional e não em função da sua discordância, porque não é ele que governa. Claro que professores e sindicatos elogiam veto de Marcelo. Ao promover um sinal que pode abrir portas à perigosidade social, trata-se de uma opinião sobre como governar cujas consequências não é o Presidente que gere, nem que terá que neutralizar e que gera instabilidade social.

Se o referido diploma não resolve os conflitos com os professores, e não acabará com as greves nas escolas, mas gestão dessas expectativas que nada mais é do que a negociação entre Governo e sindicatos entre o que este último espera e aquilo que será feito que é uma função do Governo e não aquela para a qual elegemos o atual Presidente não foi eleito para isso.

Nota final:

Estará o Presidente da República a querer degradar o seu peso político?
Quando os militares vierem para a Rua gritar, Marcelo saltará de imediato do lugar a defender que as FA´s são uma prioridade; mal os polícias se transformem em "secos e molhados", Marcelo saltará do lugar a dizer que a segurança e as polícias são uma prioridade; mal os Impostos venham para a Rua gritar, Marcelo defenderá que o pessoal dos impostos é essencial para garantir às Misericórdias e ASS ligadas à igreja católica todos os milhões que o OE lhes reserva; quando os todos os trabalhadores do setor público vierem para a rua exigir que descongelem as carreiras desde há dezenas de anos, Marcelo virá a correr dizendo que são todos essenciais, por exigência do Presidente da República e assim por diante.

A caça a pombos e a pombas ou quem não tem cão caça com gato

 


O provérbio “quem não tem cão caça com gato” é usado como significado para dizer que quando falta um recurso para realizar um objetivo usa-se um meio alternativo, o importante é que seja feito. A caça é que não pode deixar de ser feita.  Explicarei em pormenor mais adiante o que pretendo dizer.

Em democracia um qualquer governo é escrutinado por órgãos competentes como sejam a Assembleia da República, as oposições que devem ter também por missão esse papel. A estes os meios de comunicação social ajudam a esse escrutínio, bem como outros atores políticos e mediáticos.

"O Governo entende que o escrutínio da sua atividade pela Assembleia da República é um pilar fundamental do sistema democrático", afirmou o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, no debate do relatório intercalar de escrutínio da atividade do Governo na Assembleia da República.

Normalmente a prática do escrutínio envolve a identificação dos aspetos da atividade governativa, recolhendo e examinando provas, a fim de desenvolver uma compreensão do que o governo está a fazer, (ou não), ao abrigo do mandato democrático que lhe foi conferido pelo eleitorado. Fazem também prática do escrutínio os resultados dessa atividade (ou inatividade), e se o Governo está a desenvolver e implementar políticas que alcancem resultados desejáveis, nomeadamente exigindo explicações aos representantes do governo. Não basta gritar em todas as direções e vagamente que o Governo não faz as reformas necessárias. Sim, mas quais? O público fica sem saber o que estes que gritam entendem por reformas.  A Assembleia da República é outro órgão que, para além de órgão legislativo, desempenha ainda a função política de controlo (inspeção e fiscalização) dos atos do Estado e é o órgão por excelência do debate político a nível nacional.

Há outros intervenientes como os meios de comunicação social e o público que escrutinam e podem influenciar direta ou indiretamente o governo. Porém, em Portugal, nem sempre é assim. Há governos que são mais escrutinados do que outros, sobretudo quando são governos de direita que, tendencialmente, são mais poupados pelos órgãos de comunicação social.  Com o objetivo de captar votos e mudar o sentido das sondagens as oposições de direita unem-se e centram-se em temáticas que não interessam nem resolvem problemas do povo. Buscam casos secundários cuja importância é relativa e nada interessa à maior parte do público, mas que é amplificada pelos média desempenhando uma espécie de papel de mandatários da oposição ajudando ao descrédito do Governo em exercício. Exercem pressão e intoxicação da opinião pública para assim criar condições para a sua queda. Isto é, o que as oposições e a sua “entourage” mediática fazem não é escrutinar a eficácia ou a ineficácia da ação governativa, apenas lançam para a opinião pública casos secundários que, mesmo à luz da transparência, em nada resultam de positivo para as populações.

Como referi no início do texto é neste ponto que entra o gato utilizado para a caça ao Governo. À falta de matéria essencial para o escrutinar dispersa-se em outros casos e casinhos, com as famílias deste e daquele ministro, como os familiares tivessem de desistir das suas ocupações porque um deles resolveu aceitar um convite para ministro. Os media acompanham esses casinhos até interessar às suas audiências, quando concluem que o tema que lançaram não tem fundamento sustentável são retirados da agenda mediática.

Há uma pergunta que se pode colocar: alguma vez os media se preocuparam em investigar situações de familiares de ministro e suas ocupações quando a direita está no poder? Serão os partidos de direita tão virtuosos que a transparência é absoluta e não relativa?

Em democracia, sobretudo os media afetos à oposição de direita têm o potencial para ajudar influenciar os eleitores a responsabilizar os políticos e os partidos do governo. Ao relatar o desempenho do governo e fazendo a cobertura de escândalos e de corrupção, os media oferecem informações aos eleitores que são úteis para decidirem se devem ou não reeleger políticos e partidos em exercício. Por outro lado, os media também podem ajudar os eleitores a combater movimentos em direção ao autoritarismo e a facilitar a ação coletiva contra um governo potencialmente autoritário.

Os media transformaram-se numa espécie de Ágoras a que se junta o complot dos comentadores e líderes de opinião onde não se discutem assuntos ligados à vida dos cidadãos, mas que são focalizados em tricas que a maior parte das vezes não lhes interessa.

Podemos ver os partidos da oposição, sobretudo os da direita mais moderada, que, à falta de conteúdo e de ideias para se impor como alternativa credível, lançam mão de tudo o que lhe possa ser útil apenas com o objetivo de desgastar o Governo, mesmo que tal não lhes traga qualquer mudança às dificuldades e problemas que as populações encontram e que são várias, iludindo-se com uma extrema-direita populista como alternativa para a resolução dos seus problemas.

A oposição é indispensável para avaliar as falhas e os excessos do governo e para o responsabilizar perante o público, bem como para sugerir alternativas de governação, mas os conteúdos e a argumentação utilizada não são as mais eficazes.

Um argumento negativo visa criticar, dissecar e desmantelar uma teoria ou uma argumentação oposta, enquanto um argumento positivo propõe algo novo, uma teoria que defenda propostas originais, ou que enfatize novas razões em favor de um ponto de vista já conhecido. Contudo um bom argumento negativo não implica uma proposta positiva coerente, nem vice-versa. Na política, domínio público da argumentação, também há discursos de ambos os tipos. A oposição política consiste principalmente em argumentos do fórum negativo, o escrutínio do governo, mas coerentes e de interesse para o público e que lhe possibilite a escolha em futuras eleições. A oposição sem critério e seriedade podem empurrar o país para o abismo se o Governo não tiver capacidade de resistência às investidas das oposições, quer de direita, quer da extrema-esquerda.

Se olharmos com critério para falta de as propostas da oposição, nomeadamente por parte do PSD, partido que pode ser uma alternativa de poder, não se observa qualquer proposta concreta que possa levar o eleitor a mudar visto que essa escolha seria um tiro no escuro, como já várias vezes a experiência mostrou.


Que outros objetivos de Putin

 

 

 

Podemos conjeturar se a invasão da Ucrânia não será apenas o início de outros objetivos imperialistas e mais ambiciosos de Putin, se conseguisse ocupar parte ou a totalidade da Ucrânia. Por agora bastar-lhe-ia bloquear o acesso da Ucrânia ao Mar de Azov e ao Mar Negro, caso consiga dominar toda a área que vai da Kharkiv a Odessa passando por Zaporizhia, Kherson e Mikolaiv, o que, até à data, não foi conseguido.

O caso da Crimeia, república autónoma da Ucrânia, anexada pela Rússia em 2014, que gerou um conflito na região que dura até hoje. A crise na Crimeia foi motivada pela deposição do presidente ucraniano Viktor Ianukovitch, (que fugiu de seguida para a Rússia), alinhado com as políticas russas de Putin que foi seguida de um referendo fantoche que aprovou a sua união com a Rússia, não sendo, contudo, reconhecida por Kiev nem pela comunidade internacional.



Fonte: Institute for the Study of War

O ponto de vista da preparação a de uma possível invasão da Europa em larga escala, planeada a longo prazo, a começar pela Polónia através da Bielorrússia, estaria em linha com o discurso do presidente Vladimir Putin antes da invasão da Ucrânia.

Não se sabe se, atualmente, a Rússia terá ou não capacidade militar para lançar um ataque contra a Polónia ou qualquer outro país da NATO, mas Putin tem ambições imperialistas, de longo prazo, ele próprio não o nega,  e está a procurar, numa primeira fase territórios vizinhos e próximos das suas fronteiras. É um processo contínuo a Rússia tentar invadir algumas das regiões que ela reivindica, pela voz de Putin, como sendo suas.

Dias antes da publicação deste “post”  o presidente da República Russa da Chechénia, Ramzan Kadyrov, sugeriu, numa entrevista na televisão do estatal daquele país, que o exército russo invadisse a “Alemanha Oriental”, como era chamado o território da antiga RDA (República Democrática Alemã) antes da queda do império soviético. O motivo de tal ataque verbal teria a ver com a entrega de tanques à Ucrânia, anunciada pela Alemanha. Também aquele radical terá sugerido que a Rússia atacasse a Ucrânia com armas nucleares.

Mais descarada ainda, e até ridícula, foi a afirmação do ministro dos negócios estrangeiros da Rússia, Lavrov, numa conferência na India, (3 de março), quando lhe perguntaram como é que a guerra afetou a estratégia energética da Rússia e como isso poderia beneficiar a Rússia, Lavrov respondeu: “A guerra que estamos tentando impedir foi lançada contra nós” o que suscitou gargalhada na plateia que pode ver aqui ou aqui. Este mesmo sujeito já afirmou em fevereiro do corrente ano que a Rússia deveria procurar "desnazificar" a Polónia, usando a mesma linguagem e argumento que Putin usou para justificar a invasão da Ucrânia.

Tem-se escrito e falado muito sobre a equiparação dos propósitos de Putin com os que Hitler para começara a guerra: a expansão da Alemanha e a disseminação da política nazi; depois de, no tempo da União Soviética de Estaline este ter feito um pacto em 23 de agosto de 1939 com a  Alemanha nazi de Hitler, Putin diz agora querer combater o nazismo na Ucrânia.  O governo de Hitler tinha em mente a criação de um império vasto, um “espaço vital” como ele lhe chamava então conducente à expansão germânica no leste europeu. Vladimir Putin tem a mesma ambição, mas para ocidente para criação dum império, conforme as suas próprias palavras. A efetivação da dominação russa sobre a Europa, como têm dito os seus correligionários, requereria uma nova guerra. Como já várias vezes escrevi neste mesmo local Putin nunca aceitou a dissolução da União Soviética e descreveu o seu colapso como uma “grande tragédia do século XX".

Putin recorre a uma narrativa sobre eventos passados para dar, no presente, um significado especial que sirva para fortalecer a sua autoridade como detentor do poder e reavivar no povo antigos mitos políticos do  culto de personalidade. É isto que Putin pretende criar um novo, mas retrogrado, um culto à sua personalidade, de inspiração estalinista que remeta para uma forma de propaganda que eleve a sua figura  a político de dimensões quase religiosas cujos discursos procurem promover, de forma exagerada, os seus méritos e qualidades, fazendo ocultar críticas ou defeitos que possam vir a ameaçar o seu poder e a condição de grande líder e guia da pátria russa.

O presidente Vladimir Putin, que muitas vezes invocou e  a história para alimentar sentimentos nacionalistas, comparou-se ao czar Pedro, o imperador que expandiu o território russo através de conflitos prolongados no século XVIII.

Logo após a invasão da Ucrânia de fevereiro, no dia 9 de junho de 2022, num discurso do 350º aniversário do nascimento de Pedro, Putin pareceu fazer uma ligação da sua sangrenta invasão da Ucrânia com o passado imperial da Rússia. Segundo um jornal russo “o presidente russo Vladimir Putin, durante uma reunião com jovens empresários, engenheiros e cientistas na VDNKh em Moscovo, comparou a situação atual na Ucrânia com a Guerra do Norte (1700-1721) com a Suécia, que foi liderada por Pedro I”.

O jornal MKRU escrevia na altura que “o presidente Vladimir Putin traçou analogias com Pedro I. Segundo o presidente, “o imperador "não tirou nada" dos suecos durante a Guerra do Norte, mas devolveu os territórios que historicamente pertenciam à Rússia. E também coube à nossa parte retornar e fortalecer". Confirmava assim que, no pano de fundo ideológico da “operação especial” na Ucrânia, subsistia a ideia de reunir ao que ele chama mundo russo e recriar a “Novorossiya”.

Putin elogiou a construção do império de Pedro I e sugeriu que as terras tomadas pelo czar pertenciam legitimamente à Rússia. "O que Pedro estava fazendo?" De acordo com a Associated Press Putin disse na altura que o que Pedro fez foi segundo ele "Retomar e reforçar. Foi o que ele fez. E parece que nos coube também retomar e reforçar." Os comentários foram amplamente vistos como uma referência ao ataque de Putin à Ucrânia, que há muito vê como parte da esfera de influência da Rússia.

Em 24 de fevereiro, Vladimir Putin chocou o mundo ao iniciar uma guerra com a invasão da Ucrânia. No período que antecedeu a invasão russa, Putin fez discursos de longo alcance e escreveu um artigo para legitimar as suas ações que estava repleto de intensa retórica sobre a história imperial e a história soviética. No entanto, isso não é algo novo. Putin tem consistentemente instrumentalizado a história para alcançar os seus objetivos políticos desde o dia em que se tornou presidente.

Ao longo dos anos, tem-se referido cada vez mais, e repetidamente, à história do Império Russo, como se pode verificar nos seus discursos. A história nas suas mãos tem-se transformado gradualmente numa arma. Putin pratica essa retórica dentro do país e para o exterior para justificar as suas ações, garantir a sua posição de poder e a legitimação da invasão que foi sua e apenas sua, culminar da sua estratégia. Por outro lado parece haver também, por parte de Putin, uma espécie de saudosismo que reside numa espécie de esperança profética assente na crença de que é possível um retorno ao antigo regime soviético numa versão século XXI.

Putin parece ter adaptado à atualidade a frase que Estaline escreveu em 1924 no seu livro “Foundations of Leninism onde afirmava que o mundo estava dividido em dois campos hostis «a frente mundial do imperialismo» e «a frente comum do movimento revolucionário em todos os países»; afirmava ainda Estaline, de modo particular, que «na presente fase do capitalismo as guerras não se podem evitar». Na linha interpretativa de Putin o mundo continua dividido em dois campos, o ocidente e a NATO que fazem parte da maquinação do campo hostil e invasor da Rússia, e o dele, pacifista, defensivo. Mas é ele que mostra uma agressividade bélica, expansionista, no sentido de regressar ao anterior império czarista. É o pensamento dos totalitaristas.

A solução adotada pelos ditadores totalitários é dirigir a hostilidade latente do povo contra inimigos reais ou imaginários. É este último caso o de Putin contra a Ucrânia e o Ocidente. Hitler escolheu primeiro os judeus para alvo da agressividade alemã; uma vez arranjado um alvo não ficou satisfeitos e, mais tarde, outros povos e personalidades tomaram o lugar dos judeus. No caso de Putin parece ser o povo ucraniano e, segundo ele, um produtor de fake news, passa para o povo russo a ideia de que os invasores são o ocidente e  a NATO que estão a cercar e a invadir a Rússia.

A Rússia é um país localizado na Europa e na Ásia com os montes Urais frequentemente vistos como a fronteira entre os dois continentes e é amplamente considerado política e culturalmente europeu. Segundo as estatísticas mais recentes, em janeiro de 2023, tem aproximadamente três quartos da população que vive a oeste dos montes Urais, na Europa portanto, geograficamente fronteira entre os dois continentes.

Se observarmos o mapa seguinte que nos mostra as atuais fronteiras da Rússia comparadas com as de 1914 podemos supor até onde poderá ir o sonho imperial de Putin, que tenta comparar-se ao czar Pedro, com uma ideologia irracionalista, pretensamente mítica que mostra uma colocação política irracional tendente a  voltar a consolidar as suas posições em direção ao sul e leste do país.

 




Putin parece não se ter desligado, nem esquecido do mundo russo soviético em que viveu e em que participou que implodiu em dezembro de 1991. Entre 1922 e 1991 a ex-URSS era formada por 15 nações diferentes: Rússia, Ucrânia, Bielorrússia, Estónia, Letónia, Lituânia, Arménia, Geórgia, Moldávia, Azerbaijão, Cazaquistão, Tajiquistão, Quirguistão, Turquemenistão, Uzbequistão. Sob o domínio de Estaline e durante a Segunda Guerra a URSS combateu ao lado dos Países Aliados, e fez da Alemanha o seu principal alvo militar. Nesse contexto, o Exército da URSS invadiu a Alemanha e os territórios sob a sua zona de influência e formou estados-satélite como a República Popular da Polónia, República Popular da Hungria, República Popular da Roménia, República Popular da Bulgária, República Popular da Albânia, República Socialista da Checoslováquia (atualmente República Checa e Eslovénia) e, no fim do conflito, a parte leste da Alemanha que passou a ser denominada por República Democrática Alemã.

Questiono-me várias vezes porque será que andam nas redes sociais muitos “personagens” a divulgar propaganda do Kremelin/Putin difundindo notícias falsas anti Ucrânia em sintonia com as mesmas que Vladimir Putin e os seus seguidores russos fazem em sucessivas lavagens cerebrais ao povo. A estes que, aqui, em liberdade, defendem as ideias de Putin pergunto porque não vão viver para esse extraordinário país sob o seu domínio e deixam de viver cá onde recebem salários à custa dos impostos que todos pagamos? É a liberdade de expressão a funcionar dirão, mas será que nesse regime que tanto defendem não haverá a mesma liberdade para dizerem o que pensam por maioria de razão?


A invasão da Ucrânia de Trump a Putin: contributos para uma teoria da conspiração


Curioso é analisarmos que Joe Biden tomou posse como Presidente dos EUA em 20 de janeiro de 2021. Cerca de um ano e um mês depois de Trump ter saído da cena da presidência Putin invade a Ucrânia. Isto diz-nos alguma coisa.


As circunstâncias criadas pelos atores da política internacional levam-nos por vezes a aventurar-nos em terrenos imprevisíveis da paisagem política em permanente mudança de velocidade e de factos. Ao tentarmos fazer uma interpretação política de factos políticos sem sermos especialistas, vemos que há acontecimentos comprovados que nos levam a estabelecer interpretações e paralelismos por vezes arrojados.




Serão os professores os inúteis mais bem pagos deste país?


 

A inutilidade não é, portanto, dos professores, mas de quem, demagogicamente, os agita e incita, e que, muitas vezes, se encontra em desespero de causa pessoal que contribui para transformar a profissão numa coletividade profissional enferma que, confusa, acabará por perder o sentido de si mesma e da utilidade da sua indispensável profissão.

Em novembro de 2013 escrevi um texto que, erradamente seria uma afirmação que Miguel de Sousa Tavares que seria uma frase contida numa das suas crónicas que pode ler aqui. Passados estes anos vim a saber que, afinal, o referido cronista não terá escrito tal coisa. Erro meu! Na altura deveria ter confirmado a fonte onde me baseie. Isto porque me baseei num comentário de alguém que li no Facebook e que dizia ser professora e que citei na íntegra.

Apesar da frase que foi grandemente ofensiva para os professores, e que Sousa Tavares disse não ser da sua autoria, vem mesmo a propósito e encaixa-se na atualidade. Passados todos estes anos a frase parece-me agora fazer algum sentido no contexto daquilo a que chamam luta e que mais parece ser dirigido por um sindicato anarquista.

Há que esclarecer, contudo, que os professores não são inúteis, bem pelo contrário, pois a inutilidade remete à falta de qualificação e de finalidade do trabalho, entre outros, e eles são parte integrante na formação pessoal e social, das nossas crianças e jovens que são o futuro do país, por vezes boa, por vezes má.

Os professores trabalham não apenas em nome do conhecimento e da educação em geral, tanto quanto médicos trabalham em nome da saúde, agricultores em nome da produção de alimentos, motoristas em função de transportes, advogados em nome de direitos, jornalistas em nome da informação, neste último caso deveria ser assim. Há profissões dedicadas a urgências ou emergências, outras que se dedicam a entretenimento e lazer.  Em todas as profissões existe a razão de uma necessidade que as justificam. No caso dos professores os que se desenvolvem e giram à sua volta são improdutivos pela sua própria natureza. Ou melhor, eles produzem inutilidades e incitam à inutilidade.

A inutilidade não é, portanto, dos professores, mas de quem, demagogicamente, os agita e incita, e que, muitas vezes, se encontra em desespero de causa pessoal, e que contribui para transformar a profissão numa coletividade profissional enferma que, confusa, acabará por perder o respeito e o sentido de si mesma e da utilidade da sua indispensável profissão.

As greves, quase selvagens, mobilizadas por alguns sindicatos que têm por detrás direções, algumas duvidosas no que respeita à ética que deve gerir este tipo de movimentos. Um destes sindicatos, o S.T.O.P. sem história sindical, formou-se a partir dum movimento de geração espontânea na rede social Facebook que dizia lutar contra a prova de avaliação de capacidade e conhecimento dos professores, (diga-se necessária, mas mal formulada de cujo critério era duvidoso para o efeito), criada pelo anterior Governo PSD-CDS. Já na altura a liderança daquele movimento, tal como a avaliação que o ME pretendia impor, era, demonstrativa da inutilidade da classe que seria avaliada, mas que o não queria ser, colocaria os seus interesses pessoais à frente do interesse coletivo dos professores e da sua qualidade pondo em último lugar o interesse de alunos e famílias, estes, sim, o fim primeiro, e último, da utilidade dos professores.

O sindicato radical extremista S.T.O.P. que se diz apartidário, nasceu originário daquele movimento tipo anarquista em 2018. O apartidarismo que o dirigente daquele sindicato proclama levanta-me dúvida e coloca-me numa situação de desconfiança e de alerta. Apartidarismo não significa apolítico, portanto, há uma ideologia oculta por detrás. Na apresentação do sindicato a palavra mais repetida do seu dirigente era “Vamos fazer luta a sério” e que, diz ele, o da direção, estar farto da “luta mansinha” das estruturas congéneres.

Recorrendo ao Público podemos traçar um resumo do perfil da direção daquele sindicato. Parece-me ser alguém que sentindo falta de reconhecimento, apesar do doutoramento em bioquímica que conseguiu. Professor contratado, e também na altura a trabalhar na Grande Lisboa tinha sido delegado sindical da Fenprof, de onde saiu desiludido com a falta de abertura à renovação da estrutura.

Dizia o próprio, em fevereiro de 2011, que “após o doutoramento teve de aceitar um horário numa escola de seis horas semanais, em Serpa, a ganhar 360 euros. Não dava para pagar a renda em Lisboa, tão pouco para as deslocações.” Sendo doutorado estranhamente não se percebe porque concorreu ao ensino básico, quando poderia candidatar-se ao superior. Terá tido razões para isso.

Numa breve análise a esta declaração podem tirar-se algumas ilações e levantar algumas dúvidas. Terá a luta desencadeada partido duma posição pessoalizada que conseguiu transformar em coletiva? Claro que este ponto de vista se encontra no domínio dos juízos de intenção, mas este é o meu juízo como espectador e não como político, isto por que é proferido por um observador que não participa no evento político, por outro lado o juízo político não me seria possível fazê-lo por não estar envolvido diretamente no processo.

A professora anteriormente referida escreveu no Facebook naquele ano o que pensava sobre o autor da frase e que passo a citar: “O que escreveu é um atentado à cultura portuguesa, à educação e aos seus intervenientes, alunos e professores”. Hoje podemos dizer que tem razão, mas noutra perspetiva. O que se tem passado com as greves quase selváticas, agressivas, é prova suficiente para que situem os professores como um atentado à digníssima profissão, à educação e aos seus intervenientes, alunos, pais, encarregados de educação em geral, colocando-os em situação desvantajosa nas suas profissões devido à leviandade de um senhor que não tem qualquer consideração pelo respeito que aos professores é devido.

Fui professor de alunos no ensino superior que lá chegaram para serem professores, para não serem inúteis e que vieram das mãos de professores que não eram inúteis. A inutilidade está, mais uma vez, em quem, demagogicamente, os agita e incita, e que, contribui para a transformar uma profissão digna, imprescindível, mesmo tendo como auxiliar as tecnologias disponíveis, numa profissão enferma que, confusa, acabará por perder o sentido de si mesma e da utilidade da sua indispensável profissão.

A senhora do referido texto escreveu também que: “Tenho contra pseudojornalistas, que são, juntamente com os políticos, ‘os inúteis mais bem pagos do país’, que se arvoram em salvadores da pátria, quando o que lhes interessa é o seu próprio umbigo.”.

Vemos como esta senhora dá o seu contributo para a democracia, desacreditando-a com ataque aos políticos. Como julgará ela, a senhora professora, a democracia sem políticos e sem jornalistas? E não estaria ela a olhar para o seu umbigo quando escreveu o texto?

Serão os professores os mais bem pagos deste país? Não são. Como não o são os trabalhadores de muitas outras profissões tão dignas como a dos professores, como médicos, enfermeiros e tantos outros; como não são bem pagos os elementos das famílias dos alunos que perdem aulas; como não o são outros trabalhadores do setor público e do setor privado; como não o são os professores das escolas privadas que não têm segurança de emprego para toda vida e cuja possibilidade de fazerem greve causadora de instabilidade do seu emprego; como não o são as pensões dos reformados que vivem com reformas baixas.

Mas a classe que se diz indispensável coloca-se radicalmente numa perspetiva umbilical; querem mais, querem muito mais do que será possível; querem tudo, mesmo para além do respeito que não é mais do que a fachada do edifício que os líderes sindicais, com exigências demagógicas, os iludem, os conduzem para lutas insensatas que prejudicam mais, e apenas, os que, dizem, defender, os alunos e suas famílias que tentam captar para lhes darem apoio.

O Governo os factos e as alternativas

 

 

Esta conjugação de esforços entre a esquerda radical e a direita com o aconchego da comunicação social chegaram depois da maioria absoluta do Partido Socialista acordando as fontes e revelando o que já tinham de reserva.

Porra pá! Não acredito! E é tudo com o mesmo partido! Como é que isto é possível? Será que não poderá e deverá haver mais controlo quando se fazem convites para elementos dos governos, deputados, autarcas e outros cargos políticos? São perguntas a que os vários partidos nos dão só respostas tímidas, dúbias ou, simplesmente não dão. A solução apresentada por alguns pela direita é a de que isso tem de ser da responsabilidade do primeiro-ministro como se este tivesse a obrigação de ser investigador da vida privada de quem convida, uma espécie de vigilante de ministros. Esta situação mina a política e os políticos pelo que tem de haver outras soluções. Há que arranjar alternativas que não passem apenas por questionários.

Os casos que têm vindo a público aparentam ser uma combinação secreta de comprometimentos vários contribuindo para o descrédito dos políticos e do regime democrático e que, segundo as últimas sondagens, estão a ter efeito significativo na subida da extrema-direita (CHEGA) e pouco significativa nos partidos à esquerda do PS que recuperaram embora pouco. Estes partidos por conveniência partidária também têm contribuído para que a subida da extrema-direita populista que aproveita e escavar até à exaustão todos os casos que venham à rede. Excetua-se o LIVRE que conseguiu uma subida com algum significado. À esquerda do PS poderá ser o regresso a uma maioria de esquerda sem maioria absoluta daquele partido.

Nas últimas sondagens da Aximage de a cordo com o Público que cita o DN, JN e TSF a realidade política portuguesa está hoje muito fragmentada e não aponta para uma clara solução de Governo, caso houvesse eleições legislativas antecipadas. Quem obteve vantagem? Claro, a extrema-direita.

Sou pela transparência e contra todas as formas que contribuam para o descrédito dos políticos e consequentemente da democracia e, quando haja ilegalidades, corrupções várias e faltas de ética confirmadas que possam contribuir para perverter a política e os políticos que se divulgue, se faça a devida investigação judicial. O que acontece nos casos que se denunciam na comunicação social muitos casos servem também para se fazerem títulos estrondosos e exagerados que lançam suspeitas para a opinião pública, (quando ainda estão em curso investigações preliminares), cuja consequência é a de manchar a imagem e o bom nome de muitas pessoas.

As gerações após 25 de Abril desconheceram o regime de ditadura em que se vivia. Os simpatizantes de partidos de extrema-direita, como o CHEGA, que são das gerações mais novas desconhecem que naquele regime ditatorial   também havia compadrios e corrupção quer era desconhecida devido à ocultação pela censura por que os media estavam sob vigilância e controle permanente. 

Se estivermos atentos e observarmos as notícias que nos surgem nos media ao longo dos anos e meses e sob os vários governos, deputados e autarcas dos vários partidos, a procura de casos e as investigações ditas jornalísticas se centram sobretudo no Partido Socialista. Aconteceu agora um caso no PSD, que veio a público, porventura para dar a ideia de alguma independência, para, logo após se passar a falar com alguma timidez. Nova pergunta se coloca: será que os 230 deputados da Assembleia de República são todos sem macha e nada que se lhes aponte com exceção dos do Partido Socialista? Não me recordo de nos governos de direita tenha havido um escrutínio tão insistente e pretensamente rigoroso como o que se verifica durante o atual Governo.

Na altura o PSD e o CDS em aliança (2011-2015) estavam no Governo com uma maioria de deputados, nada se procurou, nada surgiu, nada se pesquizou, nada se divulgou, as fontes emudeceram e o que se divulgou deixou de fazer parte das “agendas setting” dos órgãos de comunicação.

Como já escrevi num outro post deste blogue parece haver uma premeditação na procura de casos e escândalos que possam afetar sobretudo o Partido Socialista que se possam vir a refletir e traduzir nas sondagens. Funciona do seguinte modo: lançam-se para a opinião pública casos polémicos, passado tempo fazem-se sondagens e obtêm-se resultados adequados ao esperado que se possam ajustar ou não ao pretendido. Desta estratégia todos os partidos na oposição poderão tirar vantagens no sentido na subida das intenções de voto.

As notícias que fazem passar a para a opinião pública sobre o envolvimento de elementos do Governo, autarcas ou ex-autarcas e deputados do PS que revelam situações de compadrios, possíveis corrupções, ligações familiares, ligações a empresas parece-me ser uma espécie de conspiração contra aquele partido cujo objetivo passa por atingir e fragilizar o Governo.

Caso curioso que é o de que só agora e após seis anos com Fernando Medina como Presidente da Câmara de Lisboa (2015 2021) surjam agora casos dúbios nesta autarquia. Pois, há o tempo da investigação, o tempo da justiça e o tempo da política. Por vezes coincidem!

Recentemente surgiu mais um caso que envolve Jamila Madeira, deputada do Partido Socialista que o jornal Público divulgou como estando registada como lobista ativa junto da União Europeia entre 2012 e 2013, note-se que era o período do Governo do PSD-CDS.  Segundo o mesmo jornal “a REN assume que até há três semanas a deputada “trabalhava no âmbito da Agenda Europeia da Energia, participando na ligação da REN com agências europeias do sector que se dedicam a temas relacionados com a transição elétrica e a sustentabilidade e assegurando contactos com a Comissão [Europeia], diversos comités do Parlamento Europeu e várias outras organizações”. Mais uma dúvida de coloca por que só agora veio para o domínio da opinião pública se naquela altura já era deputada pelo Partido Socialista? 

Carmo Afonso, colunista do jornal Público, pessoa que não é das minhas simpatias nem da área político-ideológica que defende, escreveu num artigo de opinião naquele diário um ponto de vista com que concordo e sobre o qual tenho refletido. A direita, quando está no Governo, segue a sua ação governativa assente em lógicas e princípios que há muito defende e pratica, mas que lhe foram retiradas desde que o PS está no poder e também durante o período ao qual se chamou “geringonça”.

O Governo do PS, agora em maioria absoluta tem privilegiado contas certas e de consolidação orçamental mesmo agora quando há perda de poder de compra para a generalidade dos portugueses. Assim, fazer oposição a estas políticas que a direita PSD ou outra que se estivesse no Governo também faria, e se acrescentarmos que o líder do PSD tem a desvantagem, de ter mostrado não estar preparado. Para a direita tradicional como é o PSD não é fácil ser alternativa.

Luís Montenegro nas suas intervenções tenta fazer um discurso de esquerda, prometendo timidamente oferecer se for Governo mais do aquilo que sabe não poder oferecer. Se recordarmos o tempo do último governo quando José Sócrates como primeiro-ministro e o seu ministro das finanças desbarataram os dinheiros públicos e endividaram o país para próximo da bancarrota causando a vinda da troica.

Fica-nos a pergunta sobre a qual se espera uma resposta do PSD:  que pontos e objetivos e sob que forma vai fazer oposição ao Governo? Que alternativa terá um futuro governo que quer mudança apenas pela mudança.

Os otimistas da oposição, quer de direita, quer de esquerda, afirmam que podem fazer melhor dizendo que são alternativas, mas não dizem objetivamente quais e apresentam soluções pouco credíveis das quais se desconhecem os possíveis resultados e o mais grave é que se sabe podem executar o que prometem. À direita faltam propostas concretas e alternativas para se apresentar como governo. A extrema-esquerda porque sabe que não o será vai fazendo propostas demagógicas inexequíveis a curto prazo.

A direita apenas tem para fazer oposição os casos apresentados pela comunicação social que têm sido graves devido à displicência e à falta de controle e coordenação que grassa no Partido Socialista e no seu Governo a que os media vão dando uma ajuda. Mas isto não pode servir apenas para fazer oposição. Faltam propostas para uma alternativa consistente.

Um escândalo que envolva políticos deve sempre ser denunciado e a comunicação social deve acompanhar o processo de investigação e informar dos respetivos desenvolvimentos. Mas não podemos é conformar-nos com a atual situação e não descararmos o que queremos como alternativa ao Governo e não nos contentarmos apenas com a denúncia de irregularidades por parte de políticos no exercício de funções que passou a ser o epicentro do debate político no país. Confunde-se o escrutínio político, que deveria visar a transparência nos processos políticos de decisão, com o mero escrutínio da transparência dos próprios políticos - que a comunicação social vê como potenciais e apetecíveis objetos de escândalo.

Como não há alternativas ao atual Governo nem as sondagens indicam que em novas eleições alguma coisa se altere esquerdas e direitas, unidas em prol do desgaste do Governo, fomentam instabilidade com greves, manifestações reivindicando as mais diversas exigências com efeito imediato, a maior parte irrealistas, o que, para os que têm impressões vividas e mais despertas parece ser uma forma de pressão para que o partido que está no Governo cometa os mesmos erros de outro tempo.  

Penso não existirem dúvidas sobre a conjugação de esforços por parte de diversas organizações tais como a Ordem dos Médicos, os sindicatos da mesma profissão juntamente com os dos enfermeiros, mostra diária de casos nos hospitais e maternidades, que sempre existiram, mas sobre os quais a comunicação social esteve muda, o acordar dos professores vociferantes com uma amálgama de reivindicações que ninguém chega a entender, sobretudo o dito STOP que junta os auxiliares no mesmo saco sem qualquer critério e que mais parece a verborreia debitada pelo partido CHEGA. Esta conjugação de esforços entre a esquerda radical e a direita com o aconchego da comunicação social chegaram depois da maioria absoluta do Partido Socialista acordando as fontes e revelando o que já tinham de reserva.

Há aqui um fator que não pode ser ignorado: a direita não consegue afirmar-se a fazer oposição ao Governo. É certo que o Governo lhe dificulta muito a vida como já referi anteriormente e não está aqui contido um elogio à governação.


Jornalismo e indução da opinião pública

 

…num caso há a notícia que passa e, no outro, a notícia que fica e permanece até ao seu esgotamento numa espécie de ladainha diária, numa espécie de indução da opinião pública.

Uma das profissões que admiro é a de jornalista. Admirei na minha juventude e continuo a admirar. Tenho um pequeno sentimento de inveja da profissão, talvez porque gostaria de ser profissionalmente como eles, escrever como eles, falar como eles, investigar como eles, por vezes até ser “perseguido”, pressionado (algo que, para mim, seria difícil de suportar).

Há jornalistas que são pressionados pelas redações para fazerem “cachas” jornalísticas, seja a que custo for, mesmo omitindo partes da verdade dos factos, condicionamento dos mesmos e a publicação de artigos e notícias com objetivos pré-concebidos para denegrir, acusar, enxovalhar, denunciar sem provas, etc., aí já não dou para esse peditório.

Tem-se muita das vezes a ideia de que os jornalistas não têm vertente ideológica, que são politicamente, independentes, isentos e encontrarmos por parte deles alguma resistência em aceitar o contrário. Podem ser independentes face ao poder político, mas não o serão face ao poder patronal. Habitualmente afastam a possibilidade da não isenção. Ao dizerem-se isentos e independentes do poder propõem-se afastar qualquer simpatia ideológica embora se verifique pelos comentários que produzem que ela, de facto, está presente.

Neste contexto os meios de comunicação, diria que todos, não estão isentos de valor político-ideológico. Assim, ser jornalista significa ter de se submeter e contribuir através de seus trabalhos para a manutenção da ideologia dos meios de comunicação onde exerçam a sua profissão.

Se definirmos ideologia como uma aceitação rígida, até mesmo fanática, de um conjunto de ideias e valores, não importa quais, então é coerente que os jornalistas neguem tê-los ou evitem manifestá-los por questões de ética que regem a sua conduta pessoal e profissional.

Mas, se, pelo contrário, ideologia for entendida como o conjunto de atitudes sociais, crenças políticas e valores morais que moldam a interpretação do mundo, então todos ou quase todos trabalhamos com base numa estrutura ideológica, incluindo os jornalistas. Contudo, neste tipo de ideologia a que me refiro quando estamos no âmbito da política, então, tenho dúvidas se, no exercício do seu direito de cidadania, ao votarem num partido que nos venha a governar, se não terão também, com certeza, como a maior parte de nós, uma opção político-partidária.

Para mal do jornalismo muitas pessoas dizem que podem confiar mais nas redes sociais on-line como fontes de notícias e informações não se apercebendo que por elas são influenciados ao que acresce a sua participação em discussões on-line, a maior parte da vezes insensatas e irresponsáveis provenientes de vários quadrantes ideológicos e políticos, das mais democráticas às mais extremistas, por vezes até de índole criminosa.

A informação exclusiva pelas redes sociais pode ter como consequência serem elas a decidir aquilo que iremos saber e, por isso, correndo o risco de seremos manipulados, o que também não estará fora de causa para outros órgão de comunicação.

Numa democracia liberal o escrutínio do poder é essencial e a comunicação social deve também exercer esse importante papel de escrutínio do poder para o qual o jornalismo e os jornalistas são peças fundamentais. Mas os jornalistas, como quaisquer pessoas são humanos e, como tal, possuem defeitos, virtudes, gostos, ideais, anseios, opções ideológicas e dimensões políticas várias, com diferenças de identidade. Todavia é nos relatos, nos modos de relatar uma notícia ou fazer um comentário político que as opções e diferenças político-ideológicas se manifestam, ainda que sob a pretensão de uma capa de isenção.

A seleção de notícias pelas redações dos órgãos de comunicação social, especialmente as televisões, com a urgência de dar primeiramente uma notícia pode fazer com que, sem estar completamente confirmada ou verificada, pela pressão que vai no sentido de ser dada a notícia em primeiro lugar, por motivo da concorrência entre canais e de marcar uma agenda de informação política.

Ao longo dos anos que tenho visto e ouvido noticiários televisivos percecionei que há algo que não vai bem no mundo da comunicação social. A veracidade dos factos e o tratamento das notícias são focados segundo interesses quer das redações, por vezes com alguma parcialidade, quer pelas empresas que subvencionam os media, quer pelos canais de televisão, quer pela imprensa.

Vejamos de maneira muito geral o que se tem observado ao longo dos anos nas noticiosas televisivas cuja perceção para quem esteja atento é a de que há uma predominância de escrutínio aparentemente rigoroso para com alguns partidos que estejam no Governo comparativamente com outros que estejam ou estiveram em circunstâncias idênticas.

Sem querer entrar no domínio de suspeições e de teorias da conspiração analisamos  que, quando está no poder um partido de esquerda ou centro esquerda o escrutínio pelos órgãos de comunicação aprofunda a procura de casos e são mais exigentes, rigorosos e propensos para a insistência em investigações jornalísticas com a sua repetição exaustiva de modo a comprometer o partido que está no governo sobretudo quando o mesmo é o Partido Socialista propiciando o lançamento para a opinião pública de determinadas situações, factos ou notícias que lhe sejam desfavoráveis de modo a contruir uma narrativa oposicionista aproveitada pelos partidos que encontrem no momento na oposição.

Uma das missões da investigação jornalística televisiva sob a forma de reportagem ou procura de notícia, deve ser a de informar o público sobre irregularidades públicas ou privadas, políticas, económicas e sociais. Se prolongada e repetitiva, mas, se pouco desenvolvida em relação aos factos são redutoras podem intoxicar e minar a opinião pública sendo até, por vezes, redutoras.

Não se defende que casos de corrupção, compadrio, transgressão de normas ou princípios, questões de ética, interesses pessoais ou outros verificados como factos não sejam divulgados, noticiados, escrutinados e investigados. O que se critica é a diferença na procura, nos critérios seguidos e na exigência em função do partido que esteja no Governo, seja ele o PS ou o PSD ou qualquer outro. O que passa para a opinião pública e a sensação com que se fica é a de que os atos investigados são insistentemente mais salientados quando o primeiro está no poder e que a imagem que se pretende passar é a de que a corrupção e a incompetência se encontram apenas num partido.

Se vasculharmos notícias sobre os vários governos em que tenham surgido casos de corrupção que tenham sido utilizados como arma de ataque a ministros, secretários de estado e autarcas ou outros casos que os comprometam publicamente, como prevaricações ou negociatas, ligações familiares com empresas privadas que tenham tido ou com que tenham colaborado, ligações a escritórios de advogados raramente encontramos ligações e referências a militantes ou ex-militantes da direita ao longos do anos de governação do PSD e ou CDS. Serão estes impolutos, imaculados. Se os houve, ou há, passam na comunicação social sem aprofundamento, insistências, repetições como qualquer notícia outra que passa e logo após desaparece.

Ficamos com a impressão de que casos como os antes referidos, quando se trata da direita, há uma tendência para deixarem de ser de interesse público e de investigação ou pesquisa jornalísticas e que as fontes ficam no seus esconderijos, como se tivessem o dom da invisibilidade, parecendo  carecer de informação para denúncia e, se encontram  algo inconveniente passa a ser de tratamento jornalístico superficial e pouco aprofundado, sem repetições exaustivas nos noticiários e rápida e facilmente caem no poço do esquecimento.

Explicando-me melhor, num caso há a notícia que passa e, no outro, a notícia que fica e permanece até ao seu esgotamento numa espécie de ladainha diária, numa espécie de indução da opinião pública.

É como se houvesse uma espécie de lei do efeito de Edward Thorndike tratado na psicologia. De acordo com este princípio, as ações que são seguidas por resultados desejáveis são mais suscetíveis de serem repetidas, enquanto aquelas seguidas por resultados indesejáveis são menos suscetíveis de serem repetidas. Explicando: se aplicado aos media e às notícias e, de acordo com aquele princípio, as ações (notícias) que sejam seguidas por resultados desejáveis (p. ex. algo que venha contribuir para perda ou desfavor do envolvido(s) são mais suscetíveis de serem repetidas, enquanto aquelas seguidas por resultados que não sejam desejáveis para o envolvido(s) são menos suscetíveis de serem repetidas.

Coloca-se-me então uma dúvida na perspetiva do meu fator de análise: será que nos partidos de direita os seus elementos, sejam eles, parlamentares, tenham pertencido, ou não, em governos, autarcas são ou foram sempre imaculados, virtuosos, incorruptos? Para a opinião pública talvez sejam porque não há aprofundamento nem interesse em investigações jornalísticas e, quando o há sai rapidamente das parangonas da comunicação social impressa ou televisionada. Outra dúvida que se pode colocar é a de saber se as nomeações para cargos de Governo quando a direita PSD e na altura também o CDS estão no poder são tão escrutinados quanto os do Partido Socialista.

Lembremos o caso que envolveu a ministra das finanças Maria Luís Albuquerque que em março de 2016 que segundo o DN, e conforme noticiava o Expresso, «as empresas Gesphone e Whitestar Asset Solutions S.A, adquiridas pela Arrow Global em 2015, tiveram benefícios fiscais num total de 381,7 mil euros entre 2012 e 2014, segundo informação disponibilizada pela Autoridade Tributária». «O jornal avançava que a maioria do benefício foi para a Whitestar, num total de 362,5 mil euros, dos quais 198 mil foram para a criação de emprego e os restantes 163,7 para o crédito fiscal ao investimento. Para a Gesphone - Serviços de Tratamento e Aquisição de Dívidas SA o benefício foi de apenas 19,2 mil euros em 2013, a maioria resultante do crédito fiscal ao investimento».

Em abril de 2018 o semanário Jornal Económico lança uma notícia com o título «Montenegro faturou 400 mil euros em ajustes diretos de autarquias do PSD» e noticia que «Entre 2014 e 2018, a sociedade de advogados Sousa Pinheiro & Montenegro (detida em 50% pelo deputado do PSD) obteve 10 contratos por ajuste direto das câmaras municipais de Espinho e Vagos, ambas lideradas pelo PSD». Foram fogachos que os bombeiros de serviço apagaram passado pouco tempo.

Em 11 de janeiro do corrente o Porto Canal recorda: «Luís Montenegro fez contratos por ajuste direto com autarquias de Espinho e Vagos» e a RTP afirma que «Escritório de advogados de Montenegro fez dez contratos por ajuste direto com Espinho e Vagos». Já em maio de 2022 já a SIC Notícias titulava que «Banco de Fomento contratou a empresa de Luís Montenegro por ajuste direto».

Em maio de 2022 o Diário de Notícias escrevia que «Da parte da sociedade de Montenegro, Nuno Castro Marques diz que este é um assunto sem sentido e que só surge agora devido ao momento político do PSD».

Ora, na altura, a notícia terá passado despercebida e não foi exaustivamente repetida pelos media, agora, com a Operação Vórtex, que investiga diversos crimes económicos no seio da Câmara Municipal de Espinho, traz à tona este caso em que Luís Montenegro é mencionado. Poderemos interpretar isto como uma justificativa para mostrar que não há uma “perseguição” jornalística ao PS e que também são dadas notícias de outros partidos sem o que a isenção jornalística estaria cumprida? Possivelmente não, serão apenas coincidências. Isto não invalida a perceção negativa que provoca na opinião pública devido à repetidas e insistentes notícias dos casos que envolvem o PS e o Governo.

A forma insidiosa como alguns órgãos de comunicação tratam algumas notícias é por vezes demasiado evidente a mostra da benevolência ou o desinteresse face casos ou facto noticiosos. Para melhor se perceber ao que me refiro incluo abaixo uma imagem da capa do Correio da Manhã onde é evidente a importância dada por este jornal ao facto que foram os graves acontecimentos no Brasil.

A importância/relevância dada à subjetividade de notícias de detrimento dum facto que é minimizado em noticia não é evidente em relação a outros dois cuja subjetividade é evidente. Das três notícias desta capa em 9 de janeiro de 2023 qual foi, para o leitor, o acontecimento mais importante que marcou a imprensa internacional? Claro que depende de cada um, é o resultado da subjetividade, mas parece não terem sido os acontecimentos no Brasil os mais noticiados e com relevância neste órgão de comunicação.


O posicionamento político e ideológico dos órgãos de comunicação é evidenciado pela “Agenda Setting” (fixação de agenda) e pela hierarquização da relevância dada às notícias. Isto é, “a hipótese segundo a qual a agenda temática dos meios de comunicação impõe os temas de discussão social. Por outras palavras: as pessoas, nas suas comunicações interpessoais, discutem prioritariamente sobre os temas abordados pelos meios de comunicação”. Assim, na imprensa e nos jornais noticiosos televisivos são selecionados para a primeira página ou para a abertura sobretudo notícias que impliquem o interesse para a opinião pública. Para o Correio da manhã parece que a invasão do Congresso no Brasil não terá relevância.

Outra situação também muito recente foi a notícia do Público Montenegro fez dez contratos por ajuste direto com as câmaras de Espinho e Vagos. Entre fevereiro de 2014 e Janeiro de 2022, a sociedade de advogados de que o presidente do PSD era sócio faturou 679 mil euros em contratos com entidades públicas.

Assim, cabe aos media dizer ao público que devem pensar e é através da seleção de determinadas notícias que os editores constroem a realidade política, social, entre outras o que na maior parte é apenas absorvido pelo referido público sem quaisquer críticas a não ser pelos comentadores da política.

Conforme já afirmei antes, ao comparar os casos noticiosos relevantes que afetem os dois principais partidos da política portuguesa que alternam no poder, é manifesta a forma como as notícias, sobretudo nos canais televisivos, são mantidas ou retiradas da sua agenda pública. Estas ações determinam e influenciam o modo como nós o público entendemos e nos relacionamos com a realidade informativa, assim como também a influencia o modo como essa realidade é por nós mais ou menos valorizada.

Face ao exposto devemos estar atentos ao que órgãos de comunicação nos pretendem “vender” e o porquê desse produto dito informativo, e, sobretudo, quando a informação está sobre a égide do jornalismo de investigação.

Na minha perspetiva pelas circunstâncias e pela forma como os media atuam e produzem a informação política para a opinião pública é impossível resistir anos à erosão de poder e à estabilidade durante vários seguidos, seja qual for o líder, ou o Governo.

Nota: Exemplo do funcionamento da Agenda Setting dos media. Imaginemos que num determinado dia dum determinado ano um político de um determinado partido que iria concorrer a para umas eleições foi apanhado alcoolizado numa rua e foi e visto por uma certa pessoa que o fotografou e enviou para reações de órgãos de comunicação social. O caso foi noticiado nas primeiras páginas de alguns jornais e nas aberturas dos jornais televisivos e tornou-se um assunto muito comentado nas redes sociais.

Dias depois, uma sondagem colocou a seguinte questão numa pesquisa “Acha que se fossem hoje a eleições votaria contra ou a favor desse político nas listas e se deveria ser expulso do partido?” No dia seguinte de forma alarmante nos noticiários era noticiado: 91% dos entrevistados disse que não mais votaria naquela político e que 89% queria que fosse expulso do seu partido.


O clube virtual dos amigos de Vladimir Putin

 

Depois do dia 24 de fevereiro de 2022 um frémito de indignação percorreu o país de norte a sul que se consubstanciou nas redes sociais e na comunicação social numa espécie de libertação dum sono ou na indiferença.

Cabeças que se prezavam de ser friamente raciocinadoras também despertaram da letargia. Para grande surpresa minha fiquei a saber que essas cabeças pensantes, algumas deles dizendo ter lido uma “porrada” de livros, não sabemos escritos por quem, tinham uma reserva de força capaz de querer impor, sem resistências, pensavam, um pensamento político único sobre as circunstâncias que naquela data ocorreram e manifestam contra a maioria que achou, e acha, ser vil a invasão da Ucrânia, sem aviso, pelo senhor Vladimir Putin. Uma ilusão agradável para alguns uma desilusão para outros.

Poucos dias bastaram para evidenciar que não haveria uma força donde pudesse vir um movimento indubitável e unívoco anti invasão. A invasão do dia 24 de um país que alguns nem sequer saberiam onde ficava não foi abalo suficiente para libertar mentes empedernidas pelo ódio que fez saltar o fogo das suas entranhas contra todos quantos alinhavam em favor de quem se opôs à invasão e à decisão de Putin e lhe fazia frente e alinhavam com o chamado ocidente, EUA, NATO, e E.U.

Estendiam um véu translucidamente púdico sobre o agressor, notório nas discretas, para lhes disfarçar discretamente com falsas e injustificáveis conveniências políticas e ideológicas os perigos humanitários que estavam a acontecer patenteados pela agressão. Lançaram-se e lançam-se à defesa e ao disfarce de um mal manifestamente certo. Defender ou justificar a realidade de uma agressão à soberania de um país com alusões a males praticados no passado por outros é um “crime” de lesa racionalidade e de facciosismo ideológico. Refugiam-se em afirmações como a liberdade de expressão de pensamento única racionalidade que os assiste. São uma espécie de ideólogos isolados vaidosos do seu isolamento e da sua independência e isenção(?) em relação aos que designam por rebanho.

Acham-se com a superioridade intelectual que as suas ideias lhe dão, ou lhes parecem dar, mas pouco respeitadores, parece, do regime onde vivem optando pela defesa do totalitarismo em confrontação com países democráticos. Há uma obsessão alucinante para com o objetivo dos EUA, dizendo que após o fim da URSS querem dominar a Eurásia, alargar a NATO e a União Europeia, “neutralizar” a Rússia, etc., e outros disparates. Os discursos de Vladimir Putin não se afastam muito disto. Omitem que os antigos países de leste após a queda da URSS aderiram voluntariamente à NATO e à U.E., ninguém os invadiu para lhes impor fosse o que fosse.

Este “clube”, espécie de associação dos amigos de Putin que existia pelo território da ideologia antidemocracia parece ter-se fortalecido após a invasão da Ucrânia. A ele aderiram alguns intelectuais das letras e das ciências famosos pelas suas ideias democrática parecem agora ser famosos pelas suas ideias próximas de um autoritarismo terrorista. A sumula dos seus escritos, embora sem o referirem explicitamente, parecem estar do lado da tirania e não da liberdade.

De resto a atividade narrativa desse clube, para além de núcleo de propaganda, trata mais de estimular o ódio ao ocidente e de ajudar a fortalecer a legitimação de poderes autocratas invasores de países soberanos, que nem os ideais liberais e neoliberais aceitam, do que apelar à fraternidade humana. Espécie de “clube” de ideólogos isolados e vaidosos do seu isolamento, sobretudo vaidosos do que eles chamam da sua independência e “isenção” que as suas ideias lhes parecem dar. O sentido do “clube” é, ainda, tentar mostrar que os objetivos do Presidente russo, Vladimir Putin na Ucrânia são “nobres” e que a invasão lançada sobre o país vizinho era “inevitável”.


As lições de Ressabiado Silva

O nome próprio “Ressabiado” não existe, é ficcionado. Tal nome próprio nunca terá sido posto a ninguém, a não ser como alcunha. Já viram com...