Política

Eleições legislativas 2025: uma leitura subjetiva e ficcional

 


Há várias perguntas que podemos colocar sobre os resultados das eleições. Quais as interpretações sobre os resultados das eleições? Haverá de facto uma mensagem passada pelos eleitores através do voto? Será que a mensagem coletiva é o somatório do voto individual de cada uma das preferências dos eleitores? Se a houver será mais emocional ou mais racional?

Cada eleitor carrega consigo preferências, valores e aspirações que, ao serem depositados numa urna, mas cujo somatório das opções manifestadas em cada um dos nos votos enviam uma mensagem coletiva que pode indicar o caminho que a sociedade deseja seguir. As eleições para além da escolha de candidatos são também uma forma simbólica de comunicação que pode medir o estado da opinião pública.

Em democracia essa mensagem pode ilustrar o desejo por mudança, a continuidade de políticas que funcionaram ou até a insatisfação com determinados aspetos do sistema político em vigor.

Os resultados eleitorais são assim um indicador que partidos e governantes e a sociedade podem analisar para entender as expectativas, os medos e, principalmente, os anseios de transformações mais ou menos radicais do ambiente social e político. 

O voto, na sua essência, vai muito além de uma simples escolha entre candidatos ou partidos, ele é uma forma simbólica e concreta de comunicação. Mais do que uma escolha individual, o ato de votar reflete não apenas o que cada cidadão pensa, mas também sinaliza, de forma pluri-uníssona, as exigências e as esperanças de duma comunidade.

É importante lembrar que o voto é, sobretudo, uma ferramenta de protagonismo do cidadão. Cada voto é uma afirmação do direito de participar da construção do futuro, funcionando como um meio pelo qual os eleitores expressam não apenas suas preferências imediatas, mas também sua visão sobre a direção que a sociedade deve tomar.

Algumas teorias dizem que votamos de acordo com a classe social, lealdades grupais a um partido ou por motivo de fortes crenças ideológicas. pode ser também uma visão simplista de interesse individual porque se pensa vir a estar melhor com as políticas de um partido do que com a de outro.

O voto sendo unipessoal expressa em cada eleitor uma vontade, uma ideologia, um sentimento, um ressentimento, um protesto, uma aceitação, um descontentamento, um ato de pertença, uma insatisfação, um incentivo à agressividade e um ressentimento, estes dois últimos as principais armas políticas de alguns partidos que terão levado alguns a desistir do partido que antes terá escolhido, alterando o seu voto tradicional que é trocado por um desejo inconsciente de mudança e, por isso, optando pelo desconhecido. O somatório de cada uma destas vontades apresenta-nos um leque variado de opções cuja interpretação não nos leva a concluir que houve uma “mensagem coletiva de escolha” fonte de um desejo generalizado, isto devido à concentração regional de algumas das escolhas a isso leva a concluir.

O somatório dos votos em partidos radicais populistas de extrema-direita são um protesto que resulta, afinal, de votos individuais, consequência duma multidão de descontentes que com nada mais se identificam a não ser no ódio aos partidos do regime que ouvem dizer serem “corruptos” que nada lhes deram e, acrescente-se, algum aventureirismo dos jovens que consideram que os valores da democracia estão mais do que garantidos e que essa história do “25 de Abril” e do regresso ao fascismo “já era”.

Aliás, o voto de protesto e reivindicativo, dos partidos de extrema-esquerda, plenos de palavras de ordem, parece, estar a ser substituído por partidos populistas de extrema-direita.

A influência do tipo de voto de cada um dos eleitores induzido por aconselhamento de outros, pela campanha direta dos intervenientes dos partidos, pelos órgãos de comunicação social, pelas redes sociais e pela imagem de simpatia ou de antipatia que sentem pelos líderes dos partidos. São formas e fontes muito eficazes que, em grande parte, são manifestadas nas redes sociais onde se criam mecanismos para influenciar polarizações e radicalizações que geram o tal confronto entre o “nós” e o “eles” das narrativas populistas.

Poderemos ficcionar a resposta de um certo eleitor a uma pergunta muito direta sobre a razão que o levou a votar em determinado partido sobre o conhecimento do seu programa. A resposta poderia ser: - voto nesse partido e quero lá saber do programa. Basta-me ouvir o que ele diz, ler e ver o que aparece nas redes sociais que, para mim, são mais do que suficientes e até mais “credíveis” do que os órgãos de comunicação. Para além disto as redes sociais também possibilitam que o que eu digo passe a ter um valor maior do que com os que tenho ao meu lado, no emprego, no namoro, no café, em casa e, melhor ainda, possibilita-me culpar o outro, ou os outros, pelo meu insucesso.

Se lermos com atenção e disciplina crítica os comentários publicados a artigos de opinião na imprensa descobrimos afirmações interessantes que nos apontam para as causas e nos sugerem o sentido de voto de alguns desses eventuais e potenciais votantes.  Podemos dar como exemplo jovens votantes inconsequentes que utilizam linguagens guturais e narrativas em que o substantivo “tipo” está presente a cada duas ou três palavras, e captam declarações falaciosas com sound bites, frases cativantes e altissonante que eles ouvem, apreciam e com hipóteses de votar em quem tem discursos dessa espécie.  

Se analisarmos o estudo “As bases sociais do novo sistema partidário português 2022-2025” de João Cancela e Pedro Magalhães verificamos que os votos destas últimas eleições mostram-nos o PS atrás da IL no voto jovem masculino e quase encostado ao partido Livre nas jovens mulheres ficando ainda os socialistas em quarto lugar, atrás da IL, no apoio dos jovens homens (entre os 18 e os 24 anos) e abaixo da AD e do Chega nos eleitores com o ensino secundário. Estão ainda a competir quase ao lado do Livre no voto jovem feminino (na mesma faixa etária dos 18/24) e com a AD pelo voto dos idosos menos instruídos.

Se ouvirmos as dezenas de comentários televisivos, opiniões e análises sobre os resultados das eleições e sobre o que poderá, como consequência, vir a acontecer, o que podemos apurar é que cada um defende as suas teorias, normalmente permeáveis à especulação e oráculos da imperfeição sobre o que resultará após as eleições. No entanto, até ao momento, tudo está em aberto.

Uns dizem que os recentes resultados eleitorais permitem ler um desejo dos eleitores por mudança e inovação na política. Outros defendem teses já gastas de que o eleitorado demonstrou um profundo desencanto com os partidos tradicionais, visivelmente insatisfeitos com um sistema que, para muitos, não tem respondido de forma eficaz aos desafios sociais e económicos. Outros ainda que, pelo facto de a AD - Aliança Democrática ter conquistado uma expressiva percentagem dos votos (exagero, já que, se assim fosse, não se levantaria a questão de poder haver um problema governativo para a AD se não houver acordos).

Facto é haver uma queda histórica do PS que, conforme alguns comentadores da política caseira, pode revelar que os eleitores (como no início referi, são somatórios de várias vontades) exigem alternativas capazes de romper com o padrão antigo e promover realmente uma renovação no cenário político. Isto é, pretenderam uma aposta no desconhecido.

Falar em renovação do cenário político é uma abstração porque o entendimento que a generalidade do eleitorado tem de renovação não é evidente e é multifacetada por estar dependente dos vários partidos por haver uma oferta de opções partidárias com consequente distribuição e dispersão de votos.

Será que, para grande parte do eleitorado, o motor da renovação está no partido Chega por este ter conseguido aumentar a sua percentagem de eleitores? O eleitor não militante ou simpatizante de um qualquer partido defende no seu voto uma atitude de colocar os seus interesses, opiniões, desejos, necessidades em primeiro lugar, em detrimento (ou não) do ambiente social e das demais pessoas com que se relaciona. O eleitorado é volátil. O que vota hoje num partido pode já não votar no mesmo na próxima eleição.

Podemos incluir estes eleitores num grupo central, moderado, que oscila facilmente entre os blocos ideológicos (talvez PSD e PS). Este grupo será o somatório de várias vontades individuais e compõe uma fatia significativa dos eleitores e é particularmente suscetível às variações de curto prazo, pois não se encontra fortemente ancorado em identificações ideológicas profundas. A volatilidade resulta de uma interação complexa de fatores de longo prazo e estímulos de curto prazo.

Para analisar a volatilidade eleitoral em Portugal e, para saber como conquistar eleitores considerados “voláteis”, é importante compreender que há variáveis tais como a conjuntura económica, a imagem dos líderes e os temas da campanha podem exercer forte influência sobre o voto dos eleitores voláteis. A identificação com um partido ou líder pode funcionar como uma âncora que estabiliza o voto. Quando essa identificação é fraca, característica dos eleitores voláteis há uma maior probabilidade de mudança de opinião antes ou durante as campanhas. Essa variável mostra que, mesmo em segmentos com acesso a informações, a falta de um forte vínculo emocional ou ideológico com um partido pode abrir espaço para oscilações.

Enquanto os eleitores mais entusiasmados e com maior envolvimento político têm capacidade para analisar e consolidar uma posição, os menos interessados podem ser facilmente influenciados por fatores que levam à procura de melhor. Essa capacidade para dar resposta rápida aos sinais do ambiente imediato faz com que mudanças rápidas na comunicação ou na situação nacional sejam determinantes para a mudança do voto.

Neste sentido, a volatilidade eleitoral em Portugal é moldada por uma combinação de fatores históricos, sociais e estruturais imediatos. Para perceber a volatilidade dos eleitores há que perceber a fragilidade dos vínculos tradicionais e oferecer, de maneira rápida e consistente, respostas às inquietações desses eleitores e numa personalização do discurso para transformar a oscilação numa conquista eleitoral.

Para finalizar apresento um vídeo da Rádio Comercial interpretado por Vasco Palmeirim que é divertido, muito atual e que nos diz muito sobre a política atual. 



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