Há várias perguntas que podemos colocar sobre os
resultados das eleições. Quais as interpretações sobre os resultados das
eleições? Haverá de facto uma mensagem passada pelos eleitores através do voto?
Será que a mensagem coletiva é o somatório do voto individual de cada uma das
preferências dos eleitores? Se a houver será mais emocional ou mais racional?
Cada eleitor carrega consigo preferências, valores e
aspirações que, ao serem depositados numa urna, mas cujo somatório das opções
manifestadas em cada um dos nos votos enviam uma mensagem coletiva que pode
indicar o caminho que a sociedade deseja seguir. As eleições para além da
escolha de candidatos são também uma forma simbólica de comunicação que pode
medir o estado da opinião pública.
Em democracia essa mensagem pode ilustrar o desejo por
mudança, a continuidade de políticas que funcionaram ou até a insatisfação com
determinados aspetos do sistema político em vigor.
Os resultados eleitorais são assim um indicador que
partidos e governantes e a sociedade podem analisar para entender as
expectativas, os medos e, principalmente, os anseios de transformações mais ou
menos radicais do ambiente social e político.
O voto, na sua essência, vai muito além de uma simples
escolha entre candidatos ou partidos, ele é uma forma simbólica e concreta de
comunicação. Mais do que uma escolha individual, o ato de votar reflete não
apenas o que cada cidadão pensa, mas também sinaliza, de forma pluri-uníssona,
as exigências e as esperanças de duma comunidade.
É importante lembrar que o voto é, sobretudo, uma
ferramenta de protagonismo do cidadão. Cada voto é uma afirmação do direito de
participar da construção do futuro, funcionando como um meio pelo qual os
eleitores expressam não apenas suas preferências imediatas, mas também sua
visão sobre a direção que a sociedade deve tomar.
Algumas teorias dizem que votamos de acordo com a
classe social, lealdades grupais a um partido ou por motivo de fortes crenças
ideológicas. pode ser também uma visão simplista de interesse individual porque
se pensa vir a estar melhor com as políticas de um partido do que com a de outro.
O voto sendo unipessoal expressa em cada eleitor uma vontade, uma ideologia, um sentimento, um ressentimento, um protesto, uma aceitação, um descontentamento, um ato de pertença, uma insatisfação, um incentivo à agressividade e um ressentimento, estes dois últimos as principais armas políticas de alguns partidos que terão levado alguns a desistir do partido que antes terá escolhido, alterando o seu voto tradicional que é trocado por um desejo inconsciente de mudança e, por isso, optando pelo desconhecido. O somatório de cada uma destas vontades apresenta-nos um leque variado de opções cuja interpretação não nos leva a concluir que houve uma “mensagem coletiva de escolha” fonte de um desejo generalizado, isto devido à concentração regional de algumas das escolhas a isso leva a concluir.
O somatório dos votos em partidos radicais populistas
de extrema-direita são um protesto que resulta, afinal, de votos individuais,
consequência duma multidão de descontentes que com nada mais se identificam a
não ser no ódio aos partidos do regime que ouvem dizer serem “corruptos” que
nada lhes deram e, acrescente-se, algum aventureirismo dos jovens que
consideram que os valores da democracia estão mais do que garantidos e que essa
história do “25 de Abril” e do regresso ao fascismo “já era”.
Aliás, o voto de protesto e reivindicativo, dos
partidos de extrema-esquerda, plenos de palavras de ordem, parece, estar a ser
substituído por partidos populistas de extrema-direita.
A influência do tipo de voto de cada um dos eleitores
induzido por aconselhamento de outros, pela campanha direta dos intervenientes
dos partidos, pelos órgãos de comunicação social, pelas redes sociais e pela
imagem de simpatia ou de antipatia que sentem pelos líderes dos partidos. São
formas e fontes muito eficazes que, em grande parte, são manifestadas nas redes
sociais onde se criam mecanismos para influenciar polarizações e radicalizações
que geram o tal confronto entre o “nós” e o “eles” das narrativas populistas.
Poderemos ficcionar a resposta de um certo eleitor a
uma pergunta muito direta sobre a razão que o levou a votar em determinado
partido sobre o conhecimento do seu programa. A resposta poderia ser: - voto
nesse partido e quero lá saber do programa. Basta-me ouvir o que ele diz, ler e
ver o que aparece nas redes sociais que, para mim, são mais do que suficientes
e até mais “credíveis” do que os órgãos de comunicação. Para além disto as
redes sociais também possibilitam que o que eu digo passe a ter um valor maior
do que com os que tenho ao meu lado, no emprego, no namoro, no café, em casa e,
melhor ainda, possibilita-me culpar o outro, ou os outros, pelo meu insucesso.
Se lermos com atenção e disciplina crítica os
comentários publicados a artigos de opinião na imprensa descobrimos afirmações
interessantes que nos apontam para as causas e nos sugerem o sentido de voto de
alguns desses eventuais e potenciais votantes.
Podemos dar como exemplo jovens votantes inconsequentes que utilizam
linguagens guturais e narrativas em que o substantivo “tipo” está presente a
cada duas ou três palavras, e captam declarações falaciosas com sound bites,
frases cativantes e altissonante que eles ouvem, apreciam e com hipóteses de
votar em quem tem discursos dessa espécie.
Se analisarmos o estudo “As
bases sociais do novo sistema partidário português 2022-2025” de João
Cancela e Pedro Magalhães verificamos que os votos destas últimas eleições
mostram-nos o PS atrás da IL no voto jovem masculino e quase encostado ao
partido Livre nas jovens mulheres ficando ainda os socialistas em quarto lugar,
atrás da IL, no apoio dos jovens homens (entre os 18 e os 24 anos) e abaixo da
AD e do Chega nos eleitores com o ensino secundário. Estão ainda a competir
quase ao lado do Livre no voto jovem feminino (na mesma faixa etária dos 18/24)
e com a AD pelo voto dos idosos menos instruídos.
Se ouvirmos as dezenas de comentários televisivos,
opiniões e análises sobre os resultados das eleições e sobre o que poderá, como
consequência, vir a acontecer, o que podemos apurar é que cada um defende as
suas teorias, normalmente permeáveis à especulação e oráculos da imperfeição
sobre o que resultará após as eleições. No entanto, até ao momento, tudo está
em aberto.
Uns dizem que os recentes resultados eleitorais
permitem ler um desejo dos eleitores por mudança e inovação na política. Outros
defendem teses já gastas de que o eleitorado demonstrou um profundo desencanto
com os partidos tradicionais, visivelmente insatisfeitos com um sistema que,
para muitos, não tem respondido de forma eficaz aos desafios sociais e
económicos. Outros ainda que, pelo facto de a AD - Aliança Democrática ter
conquistado uma expressiva percentagem dos votos (exagero, já que, se assim fosse,
não se levantaria a questão de poder haver um problema governativo para a AD se
não houver acordos).
Facto é haver uma queda histórica do PS que, conforme
alguns comentadores da política caseira, pode revelar que os eleitores (como no
início referi, são somatórios de várias vontades) exigem alternativas capazes
de romper com o padrão antigo e promover realmente uma renovação no cenário
político. Isto é, pretenderam uma aposta no desconhecido.
Falar em renovação do cenário político é uma abstração
porque o entendimento que a generalidade do eleitorado tem de renovação não é
evidente e é multifacetada por estar dependente dos vários partidos por haver uma
oferta de opções partidárias com consequente distribuição e dispersão de votos.
Será que, para grande parte do eleitorado, o motor da
renovação está no partido Chega por este ter conseguido aumentar a sua
percentagem de eleitores? O eleitor não militante ou simpatizante de um
qualquer partido defende no seu voto uma atitude de colocar os seus interesses,
opiniões, desejos, necessidades em primeiro lugar, em detrimento (ou não) do
ambiente social e das demais pessoas com que se relaciona. O eleitorado é
volátil. O que vota hoje num partido pode já não votar no mesmo na próxima
eleição.
Podemos incluir estes eleitores num grupo central,
moderado, que oscila facilmente entre os blocos ideológicos (talvez PSD e PS).
Este grupo será o somatório de várias vontades individuais e compõe uma fatia
significativa dos eleitores e é particularmente suscetível às variações de
curto prazo, pois não se encontra fortemente ancorado em identificações
ideológicas profundas. A volatilidade resulta de uma interação complexa de
fatores de longo prazo e estímulos de curto prazo.
Para analisar a volatilidade eleitoral em Portugal e,
para saber como conquistar eleitores considerados “voláteis”, é importante
compreender que há variáveis tais como a conjuntura económica, a imagem dos
líderes e os temas da campanha podem exercer forte influência sobre o voto dos
eleitores voláteis. A identificação com um partido ou líder pode funcionar como
uma âncora que estabiliza o voto. Quando essa identificação é fraca,
característica dos eleitores voláteis há uma maior probabilidade de mudança de opinião
antes ou durante as campanhas. Essa variável mostra que, mesmo em segmentos com
acesso a informações, a falta de um forte vínculo emocional ou ideológico com
um partido pode abrir espaço para oscilações.
Enquanto os eleitores mais entusiasmados e com maior
envolvimento político têm capacidade para analisar e consolidar uma posição, os
menos interessados podem ser facilmente influenciados por fatores que levam à
procura de melhor. Essa capacidade para dar resposta rápida aos sinais do
ambiente imediato faz com que mudanças rápidas na comunicação ou na situação
nacional sejam determinantes para a mudança do voto.
Neste sentido, a volatilidade eleitoral em Portugal é
moldada por uma combinação de fatores históricos, sociais e estruturais
imediatos. Para perceber a volatilidade dos eleitores há que perceber a
fragilidade dos vínculos tradicionais e oferecer, de maneira rápida e
consistente, respostas às inquietações desses eleitores e numa personalização
do discurso para transformar a oscilação numa conquista eleitoral.
Para finalizar apresento um vídeo da Rádio Comercial interpretado por Vasco Palmeirim que é divertido, muito atual e que nos diz muito sobre a política atual.
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