A tecnologia não vem "para substituir os humanos" naquilo que fazem, mas antes para "criar mais produtividade"
Cisco Systems, Kevin Bandy
Web Summit 09/11/2017
Sou a favor do mundo da tecnologia e das oportunidades para a aquisição de novas competências e, consequentemente, de novas formas de trabalhar que determinam novos tipos de emprego. A Web Summit originalmente organizada em Dublin, Irlanda, mas que me 2016 passou a vir para Portugal. É uma conferência mundial centrada nas tecnologias da internet e são uma oportunidade para as start-ups de tecnologia para se lançarem num mercado cada vez mais competitivo e isso está nas mãos dos mais jovens arriscarem em empreendimentos baseados na tecnologia.
Há, todavia, um reverso da medalha que é a questão do emprego, do trabalho e das novas profissões originadas pelas tecnologias que geram novas atitudes a que as sociedades dos diversos países não têm prestado a devida atenção: a reinvenção do trabalho.
As tecnologias disponíveis no mercado estão a simplificar e a rentabilizar nos dias de hoje o trabalho, seja nas fábricas, nos escritórios das empresas, na advocacia, na contabilidade, assessoria entre outros.
Trabalhos que antes eram realizados manualmente hoje estão a ser substituídos por plataformas inteligentes. O mesmo se passa nas fábricas de montagem de automóveis, por exemplo, onde máquinas robots fazem o trabalho que antigamente ocupavam vários postos de trabalho. O que antes dependia de horas de serviço agora se resume a poucos minutos ou até mesmo segundos.
Em 1998 Jeremy Rifkin no livro sobre Terceira Revolução Industrial onde tenta mostrar que “as evidências históricas negam o pressuposto neoclássico de que a inovação tecnológica estimula o crescimento económico permanente e o emprego. A falsa ideia de que a oferta cria a procura já levou a humanidade à armadilha da Depressão de 29. Naquela época, a crise foi resolvida por meio do receituário keynesiano, mas acreditar que a mesma fórmula será capaz de combater o desemprego tecnológico, além do enfraquecimento da procura do consumidor, é negar as novas realidades económicas. Isso porque a tendência de automação se mostra inexorável e atinge os três setores da economia: agrícola. industrial e de serviços.”.
O livro de Riftkin editado em 2011 nos EUA e em Portugal em 2014 vem na linha dum outro, este de Alvin Tofller “A Terceira Vaga” publicado em 1980 que na altura obteve grande sucesso. Diria que “A Terceira Revolução Industrial” é uma espécie de edição melhorada, atualizada e aumentada daquele.
Levanta, portanto, para além das consequências da revolução tecnológica a nível global levanto aqui a questão do emprego e desemprego num futuro mais ou menos próximo.
Em 2013 tornou-se banal, dizer que é melhor ter um emprego do que não ter nenhum e isso era afirmado pela direita em plena Assembleia da República. Esta afirmação é atribuída a André Gorz em «Métamorphoses du travail Quête du sens critique de la raison économique». Diz ele, num contexto de crítica à forma como é encarado o trabalho, que pouco importa qual o emprego, o importante é ter um. Isto é o mesmo que dizer que mais, pouco importa o montante do salário, desde que tanha emprego porque o trabalho assalariado é o principal meio de aquisição de rendimentos tendo a burguesia assalariada ainda que considere está fora do grupo dos assalariados.
De vez em quando surgem na comunicação social entrevistas e partes de estudos e ensaios sobre as questões do trabalho (ver aqui um caso) e previsões sobre o que ele será no futuro e algumas ficções como as de Arthur Clarke apontam para que “o objetivo do futuro é o pleno desemprego”. O fim do trabalho tem sido tratado por sociólogo, filósofos de várias nacionalidades como por exemplo o já referido Rifkin com The Ende of Work. Todavia a tese otimista era que os empregos destruídos eram substituídos por outros. Esta era a tese dos anos 80 e 90 quando as novas tecnologias da informação e comunicação começavam a difundir-se nas empresas e nos locais de trabalho, nas escolas e universidades. Pressupunha-se então que devido às tecnologias haveria desemprego e que outros, lia ela ligados surgiam em novos setores, à semelhança da primeira e segunda revolução industrial.
Aqui entram tecnologias ligadas à rede que se encontram numa fase de desenvolvimento exponencial, nomeadamente na área da inteligência artificial e da robótica que nos transmitem a ideia de que estamos a entrar numa sociedade de pós-trabalho, não já, mas daqui a mais ou menos uma década. Se o trabalho continua ainda a assegurar uma forma de redistribuição dos rendimentos da produção sob a forma de salário, a evolução para uma sociedade tecnológica poderá vir a agravar a equidade e a paz social.
Face ao menor tempo de trabalho necessário para efetuar tarefas facilitadas ou substituídas por tecnologias que Keynes já previu em 1930 dizendo que dali a 100 anos, e já passaram 87, o tempo ocupado pelo trabalho passaria a ser de 15 horas semanais. Uma utopia, disseram e dizem alguns, e ainda o é de facto, mas, face ao futuro e ao desenvolvimento tecnológico acelerado, o que Keynes disse tem uma racionalidade económica. Ao contrário, o que temos assistido é à manutenção e até ao prolongamento do horário de trabalho, contrariando uma evolução que vinha a verificar-se a partir das últimas décadas do século XX.
A automatização derivada das inovações tecnológicas ao gerar ganhos de produtividade e sendo previsível que venha a obter ainda mais, a redistribuição tenderá a fazer-se ainda mais em direção a uma elite diminuta, também ela assalariada, mas com sobre-salário.
É também que entende o responsável da área digital da Cisco Systems, Kevin Bandy, que considera que a tecnologia não vem "para substituir os humanos" naquilo que fazem, mas antes para "criar mais produtividade", e destacou que Portugal está a desenvolver capacidades neste setor.
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