As greves que por aí andam especificamente a dos professores (mas também podemos incluir no rol os enfermeiros e os médicos, embora com outro cariz), não são mais do que a mostra duma posição de força para pressionar o Governo e no meio até desacreditá-lo como o pretende a direita a todo o custo.
A FENPROF comandada e manobrada pelo senhor Mário Nogueira que sabe como ninguém, desde o tempo de Maria de Lurdes Rodrigues, explorar o ponto de vista umbilical dos professores do ensino público está na frente da luta. Não é que não possam ter razão nas suas reivindicações sobre progressão nas carreiras, a questão é a da oportunidade política e financeira, não é o desbloqueio das carreiras que está em causa, mas que a queiram fazer reportar aos últimos nove anos e Mário Nogueira afirma que "não estamos disponíveis para perder tudo", e mais diz que "os professores não estão a reivindicar mais salários, só a pedir o que é justo". E a seguir a isso não virá reivindicação do retroativos referente ao estacionamento das carreiras?
Mas Mário Nogueira quer negociar e disse: "as pessoas trabalharam durante nove anos, quatro meses e dois dias em que estiveram congeladas as carreiras. Não estamos a exigir que seja em dois anos, estamos disponíveis para negociar um faseamento". Mas o dinheiro tem que aparecer seja agora ou mais tarde para fazer da classe dos professores os novos ricos do trabalho no Estado. A única forma que os sindicatos têm é o de conseguir mais dinheiro.
Segundo a ótica do PCP a classe operária é a vanguarda da luta contra o capital, mas, como na prática já não existe tenta recuperar para a luta uma nova classe operária dos tempos modernos, aburguesada, que são os professores e outros trabalhadores dos serviços, dos públicos, porque os do privado o caso é outro e já não lhes chegam.
Como eles haverá muitos outros trabalhadores que poderiam protestar. Os senhores professores não podem esperar que após mais de nove anos em que foram "congelados" queiram agora ver a sua situação resolvida como se houvesse uma varinha mágica que fabricasse dinheiro para eles, e o mesmo digo para todas as reivindicações da função pública por mais justas que sejam.
Não tenho dúvidas de que a direita agradece toda a movimentação reivindicativa para colocar em causa o Governo e à qual só falta vir para a praça pública enaltecer as iniciativas de Mário Nogueira, quando lhes agrada, porque quando a propósito dos contratos de associação com os colégios privados aí a coisa já piou mais fino, a JSD e até divulgou imagens daquele dirigente sindical fardado ao modelo de Estaline.
O sindicato de Mário Nogueira é um lobby da injustiça para com outros tantos milhares de trabalhadores e um gerador de oportunismo político disfarçado de defesa dos seus direitos.
Estes tipos de reivindicações só contribuem para recuperar o antigo rancor por parte dos que trabalham no privado contra a função pública que ainda não se desvaneceu e que Passos Coelho conseguiu instilar durante a sua governação. Não queremos voltar a esse tempo.
Esta estratégia de Mário Nogueira não é despicienda da atuação do PCP após as eleições autárquicas que não se viu "premiado" pelo eleitorado apesar de muitas das medidas tomadas como a reposição de rendimentos tenham sido devidas ao partido de Jerónimo de Sousa que tentou puxar a brasa à sua sardinha.
Face à perda de votos o PCP deu início à criação de dificuldades e passou a alimentar com finalidades partidárias uma conflitualidade social que vem crescendo, aliás implícito no comunicado do comité central saído após as eleições. Todavia não quer romper com o apoio parlamentar ao Governo sob risco de ser penalizado pelo eleitorado nas próximas legislativa.
O PCP sobrevive à custa da travagem da liberalização do mercado de trabalho e de privatização das funções do Estado. Como já escreveu Daniel Oliveira no Expresso no princípio de outubro se os comunistas apoiam o governo o PS fica-lhes com os louros, mas se os comunistas desapoiam o PS fica-lhes com o descontentamento.
Mas a tática do PCP através dos sindicatos que controla é tentar, através do aceno da obtenção de mais direitos e regalias para o setor público onde estará parte do seu eleitorado e tentar mostrar que a luta continua nesse sentido.
Mas há nesta estratégia um reverso da moeda, que é a aproximação ao bolo do Estado para o abocanharem. O Orçamento do Estado não é uma espécie de poço sem fundo donde se tira para dar a alguns. E depois quem paga a fatura? Todos nós portugueses, claro, aqueles a quem o Estado não dá "maminha". Pelo contrário: o Estado vive à "mama" do nível brutal de impostos que cobra a todos nós, sem que tenhamos qualquer contrapartida em termos de excelência dos serviços públicos prestados.
Quando esses todos que estão sempre a querer sacar quando se derem conta estamos todos outra vez a pedinchar a outros que nos salvem. Acho que não podemos dar essa possibilidade a Passos Coelho e à sua entourage que têm proclamado a vinda do diabo. Era o pior que nos podia acontecer.
O Governo ter cedido ao lobby de Mário Nogueira também foi o pior que podia acontecer.
O PCP conseguiu na rua, a vitória que perdeu nas autárquicas. "Vitória! Vitória!" Assim termina a manifestação dos professores ansiosos pela vinda de mais salário.
Tenho que concordar com alguns comentadores neoliberais, saudosos da direita no poder, que muitas vezes tenho criticado, quando dizem que o Governo vai a reboque da onda populista de esquerda.
Palavreado de direita? Chamem-lhe o que quiserem!
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