Política

Os zombies da direita

Hoje acordei virado para o lado da ficção de terror que atualmente está muito em voga, especialmente em séries televisivas só que, ao nível da política, infelizmente não é ficção.


O PSD, partido que nos últimos anos abandonou a social-democracia e passou a representar uma certa direita em Portugal, faz-me lembrar a série de televisão “Walking Dead” cujo enredo se baseia nos zombies que segundo o estereótipo popular são seres humanos dados como mortos que, após sepultados, são posteriormente reanimados por meios desconhecidos.


Esta direita zombie arrasta-se por aí, por todo o lado, sem rumo e sem projeto tendo como único propósito a assombração de tudo e de todos.


Com o auxílio de alguns media a direita vai desenterrando aqui e ali tudo quanto encontra e sirva para fazer oposição através de casos que os media lhe vão fornecendo, ou que ela vai fornecendo aos media. Estes zombies da direita têm alvos com prioridades estabelecidas e auxiliados pelas suas toupeiras no terreno.


Na campanha eleitoral interna para eleição do futuro líder do PSD, quer Santana, quer Rio, talvez com o objetivo de captar os fiéis neoliberais de Passos Coelho, não têm apresentado nada de novo e recuperam as teses do ainda atual líder. Rui Rio, por exemplo, sem nada propor de novo, volta à tese do “com o consumo interno não vamos lá”. Poderá até ter razão, mas onde está a alternativa que não coloque novamente o país como Passos Coelho o deixou? Claro que devemos reconhecer-lhe algum mérito como Santana Lopes já fez. Contudo, quais são as propostas que os candidatos a líder da direita PSD têm apresentado ao partido e ao país? Será a evolução na continuidade à semelhança do que foi a primavera Marcelista, mas em democracia?


Quem se disponha e tenha paciência para suportar ler manifestos inseridos nos comentários que encontramos nos artigos e opiniões dos jornais online onde sentimentos de ódio e frustrações se misturam terá a oportunidade de se deparar com uma outra espécie de zombies que, escondidos no anonimato, saem das profundezas das redes para atacar tudo e todos os que não pensam como eles, uma espécie de protofascistas. Para estes, todos os que não são de direita são comunas. Todos o que não sejam ideologicamente de direita ou apresentem formas alternativas para governação são comunas. Estes mortos-vivos são os mesmos que lançam chavões ofensivos e “fake news” (notícias falsas) por todos os meios que estejam ao seu alcance. A constatação deste facto não se resume apenas à direita, há também os fogosos(as) da esquerda que, embora proliferem em menos quantidade, não deixam de exagerar na sua linguagem de baixo calão.


Estes mortos-vivos, especialmente os da direita que atacam tudo quanto seja a responsabilidade social do Estado e apregoam reformas (seja lá o que entendem por isso), são os mesmos que, sem se fazerem rogados e sempre que podem, atiram-se por todas as formas a tudo quanto possam sacar ao mesmo Estado, mesmo em prejuízo de outros. Estes grupos, espécie de “batoteiros”, sempre que podem sentam-se à mesa do orçamento do Estado recorrendo a subsídios, fundos europeus a fundo perdido e outros a que se julgam com direito numa perspetiva egocentrista. Por outro lado, sentem-se lesados quando se lhes acaba o regabofe e, daí, o seu sentimento de perda de poder, prestígio, revolta, agressividade e ódio que se revelam por comentários com que povoam as redes sociais e áreas de opinião dos jornais online num impulso de destruir adversários virtuais que apenas existem na sua mente.


Este tipo de zombies maltrata os outros pela linguagem que utiliza nos seus argumentos, mas não gostam que os maltratem a eles. Até políticos ditos responsáveis (deputados normalmente) verbalizam ofensas muitas vezes pessoais, mas indignam-se e levantam-se para intervir em defesa da honra pessoal ou da bancada. Não seguem a regra de “tratar os outros como queremos que nos tratem”.


A questão que se coloca é a de saber se será possível argumentar e comentar bem e com eficácia sem pesquisar nem compreender os meandros do fenómeno sobre o qual se comenta? Eu diria que sim, mas com alguma reserva. Esta reserva reside na moderação do comentário que passa a ser uma opinião e não uma crença absoluta. A crença em política é acreditar, sem margem para dúvida, que aquilo em que acreditamos é a nossa verdade; ou podemos, por outro lado, acreditar que essa coisa deve ser verdade sem o ser.


Quem faz comentário político nas redes sociais e nos comentários dos jornais online (eu incluído) não pode conhecer factos de forma completa, exata e em todos os seus detalhes; o que acontece é que os fenómenos vão chegando ao nosso conhecimento de forma fragmentada, incompleta e aproximativa, como se fossem dados por um GPS a que falta uma ou mais referência duma localização. Todavia existem pessoas que os conhecem de forma completa e exata.  Por exemplo, não é racional acreditar como um facto sem margem para dúvidas numa coisa acerca da qual temos apenas um conhecimento fragmentar e incompleto, por muito verdadeira que essa coisa pareça.


Os comentários a que me refiro são reveladores de sentimentos de fúria, raiva, frustração e outros, cujas lógicas são difíceis de compreender e, como tal, só podem ser limitadas a crenças tipo seita religiosa que movem as pessoas envolvidas e que nos parecem por vezes estranhas convertendo argumentos políticos em ofensas pessoais onde se fazem até descabidas e irracionais conotações.


Transcrevo apenas alguns exemplos desses comentários, que não são dos que utilizam linguagem mais ofensiva, tal e qual foram publicados exceto o itálico.


Entrevistado e entrevistador são ambos bolcheviques, um do bloco, o outro da soeiro pereira gomes. Louçã a preparar o terreno para a crise que se avizinha, com a despesa descontrolada pela pressão permanente dos partidos bolcheviques que, para mais, impedem qualquer reforma relevante.


Preparar o terreno para ele é acima de tudo ilibar a extrema esquerda de qualquer responsabilidade!


Quando este padreca leninista do Louçã diz que nunca há controlo das taxas de juro mente conscientemente e descaradamente, quando sabemos que o Banco central Europeu tem mantido as taxas de juro a um nível baixo, através das compras dos activos dos bancos. Compras que para a nossa banca desde 2015 ascendem a uns 30 mil milhões de euros!


Este comentário é sobre uma entrevista dada por Louçã ao jornal i a propósito de um livro que foi lançado em outubro por ele e por Michael Ash. Este economista afirma ao jornal Público que “uma nova crise financeira internacional, ao estilo da vivida há uma década é neste momento provável”, alerta. Michael Ash é economista norte-americano, professor na Universidade de Massachusetts e juntou-se este ano a Francisco Louçã, economista e ex-líder do Bloco de Esquerda, para lançar o livro “Sombras - A Desordem Financeira na Era da Globalização”. Nessa obra, traça-se um cenário pessimista em relação à forma como os mercados continuam desregulamentados e ensaia-se uma explicação para o facto de, mesmo depois da crise, pouco ter mudado.


O comentário mostra que, ou não leu a entrevista ou não sabe do que o entrevistado está a falar. A entrevista referia-se às crises internacionais que podem surgir a qualquer momento.


Francisco Louçã tem diversas obras publicadas sobre as causas das crises cíclicas, algumas publicadas com autores estrangeiros, é um economista reconhecido lá fora por esse trabalho. Que não se goste dele ou da sua ideologia, da qual não sou adepto, isso é outra questão, mas suponho que não terá nada a ver com uma conclusão desfavorável em relação ao que ele escreveu.



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Outro comentário:


Ó pateta, vai lá pedir um empréstimo ao banco e vais ver a taxa de juro que te cobram!


A (baixa?) taxa de juro do BCE reflete-se nos ganhos para a banca ou em ganhos para a economia, para o cliente? E se assim é porque mistéio é que arrotamos milhares de milhões todos os anos para pagar os tais 35 mil milhões mais juros e o mais que virá?


Este comentário nem vale comentário.


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Mais outro, este provavelmente de esquerda:


Afinal pagamos o que não foi para o povo, mas que foi assumido como dívida pública.


O dinheiro não veio para tapar os buracos no Estado, aliás inexistentes dado o saldo primário anual de cerca de 7.000 milhões de euros. Foram para outros buracos bem privados e foram pedidos com a assinatura de Sócrates, Passos e do panasca, que constam no documento em Bruxelas.


Os comentários parecem ter vindo de seres que saíram das trevas para tentar captar alguém para as profundezas onde se encontram.  Servem-se da ofensa pessoal, atributo de fraqueza argumentativa, e destilam sentimentos de ódio e de estigmatização. Todavia outros comentários salientam-se pela sua sobriedade e clareza sem que isso signifique ser verdade, ou de quem os faz ter razão.

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