Política

Fazer de cada pequeno episódio uma guerra total

Começo com uma frase do artigo de opinião de Teresa de Sousa no jornal Público. Diz a jornalista em determinado ponto do seu artigo: "deixámo-nos cair no debate público pendurado numa sucessão de palavras que, sabe-se lá por quê, todos repetimos e que vão mudando quase todos os dias. Passámos da Raríssimas, que não permitiu derrubar um ministro, ao pernil de porco, do pernil de porco ao financiamento dos partidos, do financiamento dos partidos para qualquer outra coisa que chegue amanhã de manhã. E já me esquecia da "reinvenção" do país que Marcelo nos recomendou como mote do ano que agora começa e que já toda a gente parece disposta a adoptar. Temos o dever de acompanhar a realidade, mas não precisamos de fazer de cada pequeno episódio uma guerra total, todos os dias.".


Esta frase foi o mote para abordar as formas como a comunicação social, as redes sociais e os blogs, como este onde escrevo e que por aí proliferam utilizam a informação. A crítica que se pode fazer, e que é legítima, é dizer que os autores, mais ou menos espontâneos (eu incluído) escrevem sobre o que desconhecem. Isto é um facto. Mas, daí dizer que escrevemos sobre o que se desconhece ou pensa conhecer com uma atitude de estar no centro dos acontecimentos políticos sobre o qual se escreve já é falso.


No centro dos acontecimentos e dos meandros do conhecimento do facto político apenas se movem políticos e jornalistas. Estes furam aqui e ali para obterem informações, muitas das vezes recebendo-as de fontes "secretas". Os jornalistas que se encontram nos meandros da política ouvem, perguntam, entrevistam e utilizam tais fontes "secretas" que podem ser pessoas quer de direita, quer de esquerda, que têm funções em instituições e organismos públicos. Aquelas fontes divulgam ao seu jornal ou jornalista preferido, por vezes deturpando a informação, se acharem conveniente para os objetivos em vista, que passam por denegrir personalidades que exercem determinados cargos ou desempenham determinadas funções focadas como potenciais elementos a abater. Enfim fazendo julgamentos formulados em opiniões ou raciocínios baseados em hipóteses ou suposições não confirmadas e muitas vezes com sentido pejorativo, isto é, fazendo juízos apriorísticos.


Não tenho acesso a fontes "não identificadas, privilegiadas e próximas de", nem consigo entrevistas, nem tenho conhecimentos e amigos nas redações de jornais nem nos canais de televisão, nem entrevisto pessoas, nem ando atrás de personalidades da política para as entrevistar para poder conhecer com profundidade os assuntos sobre os quais escrevo.


As minhas fontes são a imprensa escrita, os jornais televisivos, os artigos de opinião, os debates televisivos, os comentários, a literatura disponível sobre os temas sobre os quais escrevo. É a partir destas fontes, a que todos também podem ter acesso, que me abalanço a escrever sobre alguns assuntos emitindo apenas a minha opinião e a minha visão perspetivada sobre o que se diz, vê ou escreve. Quando me engano é porque as minhas fontes também se enganaram. Privilegio sobretudo a honestidade nas opiniões ou críticas que formulo apesar de algumas vezes contundentes. Quantas vezes comentadores profissionais da política, que supostamente estarão dentro dos assuntos, divulgam publicamente informações dando-as como certas, anunciando que tiveram origem em fontes fidedignas ou do seu meio de conhecimentos e contactos, mas que, posteriormente, não são confirmadas.


O que escrevo não são "fake news", são interpretações pessoais de notícias e de opiniões que, como é óbvio, podem ser concordantes ou discordantes dos seus autores.


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Alguns dos profissionais da comunicação social, felizmente não todos, por vezes cumprem a sua função para agradar a quem lhes paga o ordenado, como uma espécie de "vozes do dono", para manterem o emprego já que isto, para os lados do jornalismo, anda mal por todo o lado.


A maior parte da comunicação social, ao invés de dar as notícias faz manchetes preparadas para induzir à oposição política, por vezes até, hostil, a certos governos ou pessoas que exerçam funções públicas que não são seu agrado, político ou ideológico, diga-se. Essas manchetes como se sabe são suscetíveis de produzir respostas emotivas resultando em sentimentos emocionais provocados e desfavoráveis para quem as lê ou ouve, mas cujo desenvolvimento do conteúdo não acompanha a conotação do título.


Vejamos este exemplo real que foi publicado ontem dia 10 do corrente.


O jornal Expresso escreve em manchete: "Mal-estar: Marcelo espera explicações de Costa sobre Marques Vidal"


O lead da notícia é o seguinte:


«Oficialmente, "o Presidente da República não comenta entrevistas da ministra da Justiça", mas o mal-estar é indisfarçável.»


No desenvolvimento da notícia acrescenta-se que "Uma fonte próxima de Marcelo, não identificada, disse ao Expresso que este caso "é uma afronta ao Presidente" e que as declarações da ministra da Justiça e do primeiro-ministro "causaram mal-estar em Belém". (Cá está nesta notícia uma das fontes próximas e não identificadas a que os jornalistas recorrem e a que anteriormente me referi).


O mesmo jornal Expresso, e no mesmo dia, a notícia refere que: "Para Marcelo Rebelo de Sousa, a questão que envolve a eventual não recondução de Joana Marques Vidal como Procuradora-Geral da República "não existe", pelo menos "até ao momento em que tiver de exercer o meu poder constitucional".


De acordo com a nota que ontem o Presidente fez publicar no site da Presidência é que "só se pronuncia sobre a nomeação de titulares de órgãos do Estado sob proposta do Governo, no momento da designação".


Os jornalistas que redigem as notícias, digo notícias e não opiniões, afirmam, deduzem, especulam sobre as mesmas levantando dúvidas e suspeitas. Colocam partes de frases, tiram ilações e até, por vezes, fazem juízos de intenção e de valor quando redigem algumas notícias. Quais serão os objetivos?

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