Política

A única coisa pior do que ser falado é não ser falado

Imagens TVI24 e jornal i

 A frase do título deste post que penso ter sido atribuída a Óscar Wild fez-me lembrar de Donald Trump que, para uns, sofre de autoritarismo, é fascizante e tem falta de senso político, e, para outros, é o melhor político como por exemplo para Bolsonaro no Brasil que gosta de o imitar, levou-me a refletir sobre os avanços na U.E. de extremas-direita e dos seus tentáculos. O crescimento destas ideologias é um dos assuntos mais sérios que tem vindo a público e não pode ser desvalorizado pela U.E. apesar de que alguns em Portugal digam estarmos livres. Não, não estamos livres. Não há dúvidas do começo do seu despontar embora que, ainda, timidamente. Não, não estamos livres. Não há dúvidas do começo do seu despontar embora que, ainda, timidamente.


 São as tendências autoritárias e extremistas que vivem sob a capa de democratas no seio da própria democracia que a estão a minar. São os nacionalismos exacerbados, as xenofobias, os racismos, o ódio, o apelo à segurança por causa da insegurança, o ser contra tudo quanto é diferente que se vão amplificando no seio das democracias.


Por cá, invocam-se recordações saudosistas dos tempos de Salazar que alguns, os mais velhos, na sua instabilidade e insegurança que a idade avançada lhes vai trazendo, recordam e acham que um regresso a esse espírito lhes faz falta. Outros, os mais novos, eventualmente angariados por estes extremismos, os que não viveram aqueles tempos e que dizem não haver agora liberdade de expressão por não poderem clamar hinos rácicos e xenófobos, reclamam por novos tempos que acabam por trazer, novamente, a falta dela como se pode confirmar por afirmações de André Ventura (ainda no PSD?) ao semanário Sol.


É muito fácil fugir a perguntas, ao diálogo e à controvérsia com mensagens curtas e inteligíveis, com frases e discursos redondos e bacocos, feitos à medida, sem coerência argumentativa, convencer um povo e desencadear as suas emoções mais primárias. Um povo menos culto, com algum défice de literacia política, impreparado e desavisado, recebe e assimila rápida e facilmente essas mensagens e dá-lhes crédito. É o endeusamento dos que falam direto e fácil por compreendidos que são com um mínimo esforço.


Aqueles que anseiam por um novo homem ele aí esteve, na televisão, identificando-se como sendo uma nova pessoa, um novo homem após libertação, terminada a prisão por violência racista. Se a prisão recupera aí está a prova manifestada pelo arrependido. O passado de violência e assassinatos por motivos raciais, as cruzes gamadas tatuadas nos braços, as saudações nazis, nada disso interessa, foram coisas do passado, coisas de juventude. Mas esse novo homem diz precisarmos de um Salazar que nada teve a ver com fascismo e que no seu tempo havia liberdade de expressão coisa que atualmente não existe. Salazar salvou Portugal da guerra e recebeu judeus fugidos dos nazis, não era fascista e nessa altura havia segurança. Mas assunto não se baseia na escolha entre a liberdade de expressão e censura, mas sim entre a democracia e o ódio.


Hoje, que já não há um Salazar precisarmos de um, ou mais. Quem o diz é o novo homem que saiu da prisão e é contra a imigração e os negros porque a violência vem dos africanos, provado que está nas prisões, onde se encontram em maioria, devido a crimes violentos. Compreende-se, é uma nova pessoa, um novo homem como afirma categoricamente, talvez escondendo tatuagens reveladoras dessa nova pessoa debaixo da manga comprida do casaco que traz vestido.


Claro que já adivinharam de quem estou a falar. É desse novo homem, Mário Machado, líder do movimento Nova Ordem Social, várias vezes condenado por crimes de ódio racial, mas que não tem nada contra os homossexuais. Quando no programa Você na TV Manuel Luís Goucha lhe perguntou no final da entrevista:


- Vivo há vinte anos com um homem, tem alguma coisa contra mim?  - Perguntou Luís Goucha a Mário Machado. A resposta veio de imediato:


- Claro que não, senão não estaria aqui - responde o entrevistado.


Esta foi mais uma novidade que nos trouxe este novo homem. Goucha levanta-se muito rápido e, com uma expressão de regozijo por esta afirmação, sentindo-se talvez “limpo” por aquele novo homem dos ataques que lhe terão feito nas redes socais, dirige-se, porventura envaidecido, para o ecrã gigante onde passa para uma mini reportagem, espécie de vox populi. Foi, porventura, a sua forma de vingança.


Gostava que me explicassem por desenhos este fenómeno de recuperação que levou Mário Machado a transformar-se num novo homem porque, em 2016, apenas há dois anos, foi noticiado que “Comunistas, negros, muçulmanos e homossexuais foram violentamente espancados por skinheads entre 2013 e 2015, no centro de Lisboa. A motivação político-ideológica das cabeças rapadas, que pertencem à fação mais perigosa do movimento internacional de extrema-direita Hammer Skin Nation, levou à intervenção da Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT) da PJ, que deteve ontem 20 suspeitos.”. “Os cabecilhas do grupo agora detido fizeram parte do núcleo duro do ex-líder dos Portuguese Hammer Skins (PHS), Mário Machado, detido desde 2007, data da última megaoperação da UNCT contra os crimes deste movimento neonazi.”, que pode ler aqui.


Esses, como Mário Machado, que falam em censura e em falta liberdade de expressão que dizem atualmente não existir cortariam, sem hesitação, este texto fosse escrito, sob um regime como o que ele defende.


A polémica e os protestos instalados sobre o dito programa da TVI, na rubrica "Diga de Sua (In)Justiça" da autoria de Bruno Caetano, deu lugar a uma quantidade de artigos de opinião que talvez tenham sido exagerados, porque "a única coisa pior do que ser falado é não ser falado". E Mário Machado foi falado, e até de mais. Neste preciso momento ele está a ser falado e você está a ler. Terá sido esse o objetivo que a TVI teve em mente?


Para além da tentativa de branqueamento do seu passado, a TVI ofereceu ao nazi que agora diz ser nacionalista e um outro homem, a publicidade gratuita que intentou elevar os telespectadores ao nível de consumidores do produto enganoso que é Mário Machado.


E termino com uma citação de Vasco M. Barreto no jornal Público:


“Independentemente do que possamos pensar sobre a liberdade de expressão, qualquer texto que mencione o mais famoso neonazi da pátria deve incluir uma referência a Alcindo Monteiro, Manuel Domingos Silva, Contreiras Ferreira, Alberto Adriano, Fausto Soares, João Soares e Matias de Almeida, entre outros, que a 10 de Junho de 1995 foram agredidos à paulada e aos pontapés no corpo e na cabeça por skinheads.”.

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