Política

Temas à solta II

Hoje vou começar com uma parte da letra da cantiga “Vamos prá festa” de um tal Gilberto Amaral que inicia assim:


Ora vira, vira, vira


Ora vira sem parar (bis)


Quantas volta dá a vida


Onde eu hei de te encontrar (bis)


Me diz de lá, ó cara linda


Onde é que tens andado


O que fazes nesta vida


Não me importa o passado



Esta letra conduziu-me ao percurso das narrativas de alguns políticos que dizem ser grandes defensores da democracia e fazem oposição com críticas ao desbarato para caça ao voto a qualquer preço.


Os versos são representativos das trocas e baldrocas que certos deputados da direita fazem e as voltas que dão com as palavras para dizerem aquilo que gostariam que fosse, mas que, afinal, não é.


Veja-se o caso de Paulo Rangel e o seu apoio a Viktor Orbán a que já me referi no “post” Temas à solta I. Aquele apoio foi objeto de discussões opinativas plenas de riqueza de conteúdo filosófico que a maioria dos portugueses não lê, e, provavelmente, nem entende, devido à existência de uma multiplicidade de elementos que estabelecem relações intrincadas no plano filosófico que podem ler aqui e aqui.


A mim interessa-me mais o cerne da questão que foi, de forma bastante clara, tratado num artigo de opinião por Rui Tavares no jornal Público do qual passo a citar uma parte. Apesar de a orientação político e ideológica de Rui Tavares não ser coincidente com a minha reconheço-lhe, todavia, o seu valor enquanto cronista, investigador e historiador. Escreve então Rui Tavares:


A semana passada Paulo Rangel escreveu uma crónica sobre a “democracia iliberal”, a propósito da Venezuela, referenciando como antecedentes da tendência de autoritarismo e desmantelamento do estado de direito o líder russo Putin e o turco Erdogan. Adivinhem quem não era mencionado uma única vez sequer? Viktor Orbán da Hungria, nem mais nem menos do que o inventor da expressão “democracia iliberal” e orgulhoso precursor do movimento.


Mas esta semana Paulo Rangel dedica toda uma crónica a uma "Declaração para memória passada, presente e futura” a explicar como assumiu sempre, “sem tibieza”, posições críticas de Viktor Orbán.


O que aconteceu entre uma crónica e outra? Um grupo de partidos escandinavos e do Benelux iniciou procedimentos para votar a expulsão do Fidesz de Orbán do Partido Popular Europeu de que PSD e CDS fazem parte, o calendário faz com que essa possível expulsão tenha de ser debatida a 20 deste mês, até o CDS ultrapassou o PSD juntando-se ao grupo de partidos que pedem a expulsão de Orbán, e a aproximação das eleições europeias aconselha a que tudo seja resolvido rapidamente, aumentando fortemente a possibilidade de que o PPE se desfaça de Orbán a dois meses de ir a votos — mas quase uma década depois de ele ter começado a destruir o Estado de Direito húngaro. São estes acontecimentos que se interpõem entre uma crónica em que Rangel faz uma genealogia da “democracia iliberal” dela omitindo extraordinariamente Orbán e outra em que alegadamente documenta uma oposição de sempre a Orbán”. Pode continuar a ler aqui.


Sobre os que dizem que não são, mas que são, ou vice-versa, encontramos mais uma vez Paulo Rangel nas bocas, se não do mundo, pelo menos na dos que escrevem opinião. Desta vez é João Miguel Tavares no jornal Público que escreve sobre o que Rangel diz que é, mas que afinal não é: “A sério, isto começa a ser ridículo: a quantidade de gente que pertence ao PSD que faz questão de dizer que não é de direita é totalmente absurda, e mostra bem o desequilíbrio do sistema político português e o complexo salazarista que ainda paira na cabeça da direita-que-não-o-é. Desta vez a negação coube a Paulo Rangel, cabeça de lista do PSD às eleições europeias. Vinha na primeira página do Expresso: “Nunca disse que era de direita.” Lá dentro, as explicações: “Posso garantir que nunca disse que era de direita, mas do centro ou centro-direita. E com posições sociais muito fortes, muitas vezes a chegar ao centro-esquerda em algumas matérias.”


Enfim, quanto ao cabeça de lista às eleições europeias pelo PSD que é Paulo Rangel estamos conversados, é o vira, que vira, vira sem parar.


Ia ficar por aqui, mas recuperei ainda da minha memória recente o caso de Cecília Meireles do CDS, em novembro de 2018, a quem causou estranheza o anúncio do facto Portugal pagar até ao final do ano a totalidade da dívida de 4,6 mil milhões de euros ao FMI, não o nega, mas acrescenta que o Estado o que ia fazer era “trocar a dívida”, isto é, “paga ao FMI e endivida-se noutras entidades a juros inferiores”. Mas esperem aí! Desculpem a minha ignorância! Não sabia que isso era mau. Então se estou a pagar juros mais elevado por determinado valor pedido e posso passar a pagar menos de juros pela mesma totalidade da dívida e pedir dinheiro a juros mais baixos para o mesmo empréstimo estou a engar-me a mim e aos outros? Expliquem-me com desenhos.


Mais uma vez, é “o vira, que vira, vira sem parar…”

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