O voto do Bloco de Esquerda contra na aprovação na generalidade do OE21 – Orçamento de Estado para 2021, deu um sinal de aliança tácita com a direita, afastando-se das posições do Governo e consequentemente do PS. O BE com desprezo pelo que a maior parte dos portugueses acha deu indicações claras de que não pretende instabilidade política. Segundo uma sondagem os portugueses não querem que o Governo se demita em caso de chumbo do orçamento e acham que deve manter-se em funções. Em concreto 67% dos entrevistados rejeitam uma crise política.
A votação do BE contra o orçamento destinou-se a distanciar-se
das posições do Governo num futuro próximo desvinculando-se de possíveis
responsabilidades caso o tivesse aprovado e, assim, possuir na mão trunfos que
lhe possam trazer ganhos futuros em número de votos em próximas eleições.
A teimosia do BE quanto a alguns pontos na discussão do
orçamento teve algo de oportunismo ao aproveitar a atual crise pandémica. Sabemos
que não há orçamentos perfeitos, mas numa situação de crise como a que estamos
a travessar há que ter cautela e, sobretudo, bom senso nas medidas e na distribuição
de recursos que devido ao atual contexto pandémico escasseiam. Catarina Martins
quer o sol e a lua ao mesmo tempo e dispara em vários sentidos naquilo que neste
momento acha que tem mais impacto na opinião pública, o SNS. E é neste campo
que insiste que: “Este OE falha na questão mais importante do nosso tempo. Não
dá a Portugal a garantia de que teremos os técnicos e as condições suficientes
para que os hospitais nos protejam. Quando tudo se pede ao SNS, este
Orçamento não tem o bom senso de o proteger.”, agarrando-se ao relatório do
Conselho de Finanças Públicas que alerta
para fragilidades do SNS, que não eram expectáveis face ao surgimento de uma pandemia
que provocou dificuldades não apenas em Portugal mas em todo os países onde há
SNS. Ou seja, “agarrou-se” ao SNS como argumento justificativo para a sua retórica.
Outro ponto foi o que se refere às regras laborais ao pretender
pôr fim às “regras laborais que a troika impôs”. A cegueira ideológica
de Catarina não a deixa ver que pondo fim às regras laborais existentes as
empresas iriam causar despedimentos que teriam efeito contrário ao pretendido sobre
o emprego que se pretende manter e se possível aumentar. Catarina e o BE insistem
numa lógica de estatização da economia (a que chama reforço do setor público) o
que é demonstrado pelo argumento da imposição da proibição de despedimentos. Catarina
Martins pretende a comunização da economia através de decretos leis. Sobre os pontos de desacordo com o
Governo e o PS pode consultar
aqui com mais pormenor.
A teimosia nos pontos em que Catarina Martins fincou-pé foram
uma encenação para poder justificar a votação contra o orçamento para exibir ao
seu eleitorado a afirmação do partido, nem que para isso tivesse de se colocar
ao lado dos partidos da direita e da extrema-direita cujo sentido da votação já
tinha sido divulgada.
Gostaria que o BE e Catarina Martins nos explicassem porque
é que em orçamentos anteriores por exemplo, na
proposta de Orçamento do Estado para 2020 o Governo previa gastar mais 600 milhões com a recapitalização
do Novo Banco através do Fundo de Resolução e o sentido de voto do BE foi a
abstenção, mas agora para o orçamento para 2021, quando não há verbas incluídas
para aquele banco vota contra. Também no OE para 2019 tendo em conta a
performance de 2018, o Fundo de Resolução, através do Estado injetou um
montante significativo e o BE votou a favor.
A fantochada que Catarina Martins e o BE têm andado a representar
através de guiões teatrais para nos fazerem crer que para eles são essenciais
resultam em incoerências que esta extrema-esquerda vai paulatinamente
cometendo. É, portanto, evidente que, apesar dos momentos difíceis que
atravessamos causados pela covid-19 e que deveria ser de convergências o BE
mobilizou arranjos argumentativos próprios para se poder distinguir dos votos de
outros partido mesmo do PSD e dos neoliberais radicais juntamente com a extrema-direita.
Mas, por mais argumentos que arranje a evidência é que o voto da
extrema-esquerda do BE acomodou-se aos votos da direita numa coligação negativa.
A oposição de direita, digo do PSD, acordou agora da
letargia em que se encontrava, apesar de Rui Rio sempre ter afirmado que punha
o interesse nacional acima do interesse partidário contribuindo para a união em
torno do combate à pandemia e à crise por ela causada. Este estado de graça parece ter terminado quanto
ao orçamento para 2021 quando António Costa teceu críticas ao PSD salientando
que não precisava dele para nada. à atuação no que se refere à pandemia
covid-19.
Em abril deste ano, em plena pandemia, Rui Rio lamentava
que, “na vida política, haja quem não esteja disposto a combater "o
inimigo comum" e prefira agravar os ataques aos governos em funções,
aproveitando-se partidariamente "das fragilidades políticas que a gestão
de tão complexa realidade acarreta". E eis que se começa a discutir o OE
para 2020 numa fase ainda mais grave do que a primeira é o mesmo Rui Rio que com
base em afirmações do primeiro-ministro António Costa, diga-se pouco oportunas para
a altura, anuncia que iria votar contra o OE21. Assim, quando a gravidade da
crise exigia uma “postura eticamente correta” ou “patriótica” para poupar o
país aos riscos de uma crise política, Rio
surpreende, muda de registo e faz a pirueta sem correr riscos de se estatelar.
Se ele é um político diferente, como gosta de proclamar, não é por não saber
usar o oportunismo.
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