…”quem diz que os
votos do Chega se devem somar aos do PSD e da IL assume que o racismo, a
xenofobia, o apoio a retrocessos civilizacionais e a vontade de destruir
princípios básicos do estado de direito faz parte do património político da
direita portuguesa. Não faz.” (Pedro Marque Lopes, in Facebook)
Comentários e opiniões sobre a maioria absoluta do Partido Socialista
arrastam-se no resultado das eleições de 30 de janeiro. Recomendações,
regressos ao passado do “socratismo” pré-troika, da troika e do pós-troika. Ele
são os cavaquistas; ele são os da crença num movimento profético que surgirá em
Portugal pela mão “passista”; ele são os traumatizados que viram em 2015 uma
maioria relativa, mas sem maioria parlamentar, desaparecer por via de uma “geringonça”
que conduziu ao desaparecimento político de Passos Coelho; ele são os que, ainda
a medo e aos poucos, vão clarificando as suas opções ideológicas extremista de
direita; ele são os que pretendem colar os jovens aos votos na Iniciativa
Liberal; eles são os que acusam os mais velhos de terem contribuído para a
maioria absoluta do PS. Há-os para todos os gostos e feitios.
As minhas previsões para a política dos próximos quatro anos
vão ser anos do tipo “annus horribilis”. Não consulto oráculos, não faço
profecias, nem tomo o lugar de Pítia portuguesa,
mas os próximos anos vão ser extremamente ruins.
O Partido Socialista irá confrontar-se com o circo
propagandístico do partido extremista CHEGA na Assembleia da República, com as violentas
oposições que virão da direita e da esquerda e pelos apaixonados, emotivos e
facciosos jornalistas, natas dos artigos de opinião, comentadores em muitos
jornais, rádios, televisões e por aí fora.
Não perdem tempo basta lermos, vermos e ouvirmos o que se
publica e se profere, e o que ainda se publicará e divulgará na comunicação social.
A espécie de “perseguição” ao Governo proveniente da maioria absoluta não seguirá
dentro de momentos já está no ar.
Um outro contributo para o possível annus horribilis virá
do PCP cujo seu líder, Jerónimo de Sousa, já voltou ao apelo à “luta de massas”,
(leia-se luta de classes) a que, por acréscimo, irá certamente juntar-se o BE.
É o contributo “democrático” destes partidos. Quando perdem lançam-se numa
espécie de “contra a decisão do povo”. Não aceitam o escrutínio eleitoral. É a ditadura
das massas. Não aceitam a democracia tal como ela é, não assumem a derrota e
ameaçam. Aliás Jerónimo
não assume erros na campanha, apenas “desvantagens”, e apela à “luta de massas”.
Haverá momentos em que as direitas que se dizem contra a
esquerda radical e contra a “geringonça” irão alinhar com as duas extremas-esquerda
para causarem pressão sobre o governo socialista liberal que recusa o dualismo irredutível,
que sempre recusou, e prefere, a integração e o compromisso como a principal maneira
de escapar tanto da armadilha extremista da direita neoliberal, quanto da
coletivista.
A imprensa politicamente de direita como o Observador, o Nascer
do Sol, o Novo e outros jornais, rádios e televisões já estão a postos, na atual
situação pós-eleitoral com opiniões e comentários editoriais, com as escolhas
das personalidades que entrevistam e que, com mais veemência, criticarão e
criticam o “socialismo”, e a “ditadura do PS” e de António Costa. Até agora que
até agora têm estado mais preocupados com o estado do PSD e com a perspetiva da
saída de Rui Rio. Alguns até estarão muito mais satisfeitos com o desastre do
PSD e com a queda certa de Rui Rio do que com a maioria absoluta do PS.
Mas temos ainda a imprensa que aconchega os partidos
radicais de direita que estão contra os mais elementares direitos. Será a bem
de todos os portugueses ou apenas de alguns? Veja-se esta pérola publicada no
jornal Nascer do Sol:
“Qual medo da covid-19, qual
quê? Medo, sim, é de perder a pensão, o subsídio de desemprego ou outra prestação
assistencial qualquer, o Serviço Nacional de Saúde gratuito, a escola e os
livros escolares e computadores à borla, a segurança do lugar e do
vencimentozinho na Função Pública, o Estado-providência e redistribuidor da
riqueza que é incapaz de gerar. O resto que se dane”.
O autor da opinião fala do ‘papão’ da direita liberal que se
criou. Não se engana é mesmo. E pergunta no título “Quem tem medo do liberalismo?”
A resposta é fácil, muitos milhões de portugueses.
Não me interessa neste caso o contexto donde foi retirada a
citação, mas é de facto isto que os portugueses de norte a sul poderão esperar de
partidos orientados contra os princípios mais elementares de vivência numa
sociedade democrática lançaria centenas de milhares de pessoas num gueto social
e numa pobreza ainda maior do que aquela já temos.
É de facto isto o que os liberais radicais de direita
pretendem quando falam em reformas do Estado. Acabar com a assistência; acabar
com o ensino público e pôr os jovens a pagar propinas no privado; acabar com o
SNS ou mantê-lo apenas para indigentes e passar a saúde para o privado; reduzir
reformas e, se possível, acabar com elas; reduzir o Estado e os seus trabalhadores,
para que os dinheiros públicos sejam desviados para investimentos privados
lucrativos que, em vez de criarem riqueza como dizem, geram lucros para
distribuir por acionistas. Note-se que sou a favor da iniciativa privada
enquanto geradora de riqueza, mas não com a que eles não dizem, mas que está
nas entrelinhas.
Deparamo-nos com alguns dos tais fazedores de opinião a darem
tratamento elogioso aos novos partidos radicais de direita que entraram na
Assembleia e que falam em nome de uma “juventude” que mobilizaram e do seu dinamismo
e que terão, presumivelmente, com esses partidos uma “nova”, e mais eficaz,
oposição. Esta argumentação é mais evidente com a IL.
A atitude dos da IL é mais galante, mais simpática, deixando
esbaterem-se as “linhas vermelhas” programáticas. Em comparação o Chega não tem
compostura nas relações sociais, é grosseiro, raiando a agressividade e a má educação.
Mas o problema que se coloca é a da IL vir a ser um engodo
para os jovens por os fazer pensar que, por exemplo, na profissão docente ou
noutra qualquer, será a IL a dar-lhes melhores perspetivas de futuro. O
neoliberalismo poderá trazer vantagem a uma reduzidíssima elite de
"ganhadores" das start-ups, enquanto todos os outros, os
"perdedores", ficarão cada vez mais pobres. Porque é óbvio que nem
todos poderão ser empresários de sucesso e se limitarão a ser trabalhadores por
conta de outrem que ficarão sem instrumentos de regulamentação de trabalho.
Foi a ameaça de um Estado e de uma economia neoliberal que
levaram o povo a concentrar o voto no PS e a dar-lhe a maioria absoluta e isso Cotrim
Figueiredo e muitos outros não terão percebido.
O Chega não é o “fofinho” da direita, procura a senda do
retorno ao passado encoberto por alguns ajustes. Defende um conjunto de medidas
que vão no caminho do ensino do passado cujos “conteúdos” foram vivenciados
pelos mais velhos, mas que poderá atrair os mais novos a quem o passado nada
diz por terem sempre vivido em liberdade.
O professor do programa é Gabriel Mithá Ribeiro (podem ver o
que ele tem a dizer sobre o ensino aqui).
Claramente tem defendido a valorização da ordem, da autoridade e da hierarquia,
da família e da nação, combate ao valor da “solidariedade” trazido pelo 25 de
Abril que para ele é um movimento secundário face à “autorresponsabilidade”,
reabilitação da história colonial portuguesa e negacionista do racismo na
atualidade.
Afinal podemos ter um espírito aberto e ao mesmo tempo crítico
sem, contudo, acreditarmos em tudo o que nos dizem. Podemos fazer perguntas às
quais ainda não nos deram respostas objetivas.
O que propõem, ou melhor, o que prometem estes partidos que dizem
ter soluções para bem do país e do povo? Falam em reformas em sentido lato; falam
na reforma dos Estado sem dizer em quê e como; falam em mudar a vida das
pessoas (em quê e a quais pessoas?); falam em baixa de impostos sem dizerem
como e quando o farão.
Outras perguntas se podem ainda fazer: como pensam os eleitores
que aqueles partidos irão contribuir para melhorar a sua vida e a do povo em
geral? Por que razões defendem com tanta veemência esses partidos os seus apoiantes?
Como pensam que ficaria Portugal sob o domínio desses mesmos partidos? Para o justificarem
adjetivo “melhor”, sem mais nada, não serve.
Que vantagens obteriam com maiorias destes partidos? A resposta
tirar o socialismo do poder não serve. O
derrube do PS e de António Costa que vantagens traria para o país e para eles próprios?
Estará esta gente preocupada com o país e com as pessoas que nele trabalham e vivem?
Os órgãos de comunicação social de direita e de quem com ela se identifica
estarão de facto preocupados com a vida dos portugueses em geral ou com apenas a
de alguns?
As perguntas parecem ser redundantes, mas é mesmo assim. Naqueles
partidos as propostas também são redundantes.
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