Este post foi escrito com base numa reflexão de Carlos
Esperança aqui publicada apesar de não concordar com ele, pelo menos em parte.
Gosto de ler textos muito bem escritos, como este (estou
a ser sincero), que apelam à emoção e ao sentimento, que falam de denuncias de
guerra e pedem a paz.
As guerras são motivadas por ambições pessoais, por ânsia
de poder, por invasão de países soberanos, por dominação étnica, ou outras vontades
que sejam. Várias questões precisam de ser respondidas com clareza sem
ideologia, sem rancores, com isenção.
Será que a atual guerra imposta por Putin, (refiro
Putin porque para mim não é o povo russo que está em causa, mas o regime por
ele personificado) é justa? Isto lembra-me a teoria filosófica da guerra justa justificada
pela forma como está a ser realizada e se de acordo com as “regras”
internacionais. Quando os inimigos são extremamente diferentes, seja por causa
da ideologia, da raça, ou de crenças religiosas as convenções da guerra são
raramente aplicadas.
Entendo que no domínio pragmático não há guerra justas
e injustas, são ambas guerras que destroem vidas até daqueles que em nada contribuíram
para ela. Para as vítimas inocentes, para essas, sim, é uma injustiça.
No texto que li com atenção, nada se refere sobre quem
começou a guerra e destruiu a paz e porquê. Justificar uma guerra de invasão com
argumentos de que outros também já as provocaram e fizeram em tempos passados, discutir
que há uns, os maus, que lucram com a guerra, como alguns têm escrito, em nada adianta
como contributo para o fim do conflito.
Mas quem não quer a paz? Presume-se que todos a pretendamos
e que seja a curto prazo. A guerra tem um objetivo: dominar outros, impor
vontades como anteriormente referi. Quem opta pela guerra sabe que não vai querer
negociar a paz e que não a pretende sem exigências humilhantes impostas à outra
parte, a menos que saiba que sairá vitorioso. Ao esmagamento do povo atacado
segue-se a paz. Senão para quê se teria iniciado a guerra?
Exigir a paz é um valor pela qual todos lutamos e ansiamos,
mas, exigi-la a quem não tem moral e a destrói com pretextos duvidosos, não
comprovados, e não discutidos previamente. Todos queremos a paz neste conflito,
mas a quem nos estamos a dirigir ao pedi-la? Aos que atacam ou aos que se
defendem? Então, nós, ao pedirmos a paz e ao pedirmos consensos a qual dos intervenientes
nos estamos a dirigir? Quem deve ceder o atacante ou o atacado que se defende?
Criticar uma ou outra aliança, uma ou outra união
económica ou política, um ou outro país porque também contribuiu, ou não, para
a escalada por outros causada, em nada ajuda à paz.
Após iniciada uma guerra não há palavras nem varinhas
mágicas que a terminem se não houver vontade pelo menos de uma das partes em
litígio. Sou pela paz e não pela guerra, mas o meu lamento contra a guerra e o
meu pedido para a paz, mesmo em uníssono com outros que também a pedem e a desejam,
não fará ceder quem a iniciou e quem tem o poder bélico do seu lado. Ou, então,
estamos a fazer pedidos de paz em abstrato, para o ar, apenas para me ouvirem
dizer que sou pela paz, mas eles é que não querem.
Os negacionismos no todo ou em parte sobre uma
circunstância de facto também são pensamentos únicos que se exige a outros. A
divergência faz parte da democracia, mas a divergência não pode servir para negar
e deturpar factos com negacionismos irracionais em favor de um dos beligerantes
culpando um em detrimento do outro apenas e porque vão em direção ao que serve propósitos,
sejam eles ideologicamente considerados como bons ou como maus, isto, claro, devidamente
relativizado.
Vale a pena ver o vídeo que incluo, que é uma
entrevista ao porta-voz da Embaixada Russa em França que foi feita no programa
Télématin do canal francês TF1 e que pode ver AQUI
ou aqui.
Transcrição parcial da entrevista.
Convidado pela Télématin, porta-voz da Embaixada da
Rússia na França, Alexander Makogonov recusou-se a descrever a invasão russa da
Ucrânia como uma "guerra". Um termo em que o jornalista Thomas Sotto
não hesitou em insistir.
Porta-voz russo:
Pergunte primeiro, quem bombardeia os civis? Quem faz explodir os
edifícios? São os batalhões nazis e ucranianos, simplesmente para
criarem essa imagem, para que essa imagem seja difundida no mundo inteiro de modo
a desacreditar o exército russo.
Jornalista:
Então são os ucranianos que querem sabotar o seu país, massacrar a sua
população para acusar Vladimir Putin?
Porta-voz russo:
É a sua tática. E ele diz ao mesmo tempo querer atingir os seus objetivos
mesmo com o recurso a uma guerra? Mas para atingir os seus objetivos não é
preciso bombardear civis, bombardear estruturas e matar crianças e idosos?
Jornalista:
E ele diz ao mesmo tempo querer atingir os seus objetivos mesmo com o recurso a
uma guerra?
Porta-voz russo:
Mas para os seus objetivos não é preciso bombardear civis, bombardear
estruturas e matar crianças e idosos?
Jornalista:
Apoia esta guerra senhor porta-voz?
Porta-voz russo:
No seu intimo. Sabe não se trata de uma guerra, mas de uma operação
militar. Se essa operação militar garantir a segurança do meu país, e não só do
meu país, mas também de Ucrânia e de todo o continente europeu, claro que apoio
a operação.
Jornalista:
Mas trata-se de uma guerra.
Porta-voz russo:
Não é uma guerra.
Jornalista: As
palavras têm significado é uma guerra.
Porta-voz russo:
Não é uma guerra.
Jornalista:
Porquê?
Porta-voz russo:
Não é uma guerra porque quando falamos de guerra, é num sentido mais geral,
mais global, os civis não são alvo. Os únicos alvos são os elementos nazis e os
elementos do exército ucraniano que ainda resistem.
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