Ao apresentar um plano de governo levou para a discussão
pública as críticas feitas na televisão aos "oligarcas" da política
ucraniana e defendeu a entrada da Ucrânia para a União Europeia e para a NATO
(Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN) que era a questão central e
levou ao atual conflito com a Rússia.
Nos dias que se seguiram à invasão muitos que apoiam a
agressão bélica utilizaram uma linguagem com uma gíria cujo objetivo é o de
confundir as opiniões públicas seguindo o Presidente Vladimir Putin que também
tem recorrido a esse processo de utilizar as palavras nacionalistas,
neonazistas, libertação do país da extrema direita, limpeza étnica, etc.,
quando se refere à Ucrânia.
Acusam Zelensky de fomentar o crescimento do neonazismo e da
conivência com o grupo neonazi Batalhão de Azov. Este grupo de milícias foi
criado em 2014 para conter separatistas russos nas regiões de Donetsk e
Lugansk, tendo sido esta milícia de extrema-direita incorporada em 2015 no
exército ucraniano que os pró-russos dizem ainda hoje perdura. É por isso que
Putin fala em "desnazificação" para justificar as suas metas no
avanço militar de ocupação da Ucrânia. Mas essa situação é interna e compete ao
povo desse país soberano pressionar o governo se, para tal, quiser resolver o
problema.
Mas nesta equação entrou uma nova variável já conhecida que
é Donald Trump. No primeiro ano de presidência, Zelensky esteve na base de uma
"trapalhada" de Donald Trump que quase levou o então presidente
norte-americano a um processo para impeachment. Em 2019, ano de eleições na
UJcrânia, Donald Trump ligou para Zelensky a pedir para que o filho de Joe
Biden, seu adversário na corrida à eleição, fosse investigado e que na altura
fazia parte do conselho de administração numa empresa ucraniana de gás natural.
Trump foi então apanhado num telefonema a reter a ajuda militar à Ucrânia,
já em curso, dizendo que ("Gostaria que você nos fizesse um favor, no
entanto") dizia, em troca de Zelensky comprometer Biden, rival de Trump às
eleições. Trump "poluiu a Ucrânia com sua negociação política" como
se pode ler num artigo na revista The Atlantic. Foi acusado de tentar
recrutar poder estrangeiro para interferir a seu favor na disputa eleitoral.
Trump chegou a ter a interrupção do mandato aprovada pela Câmara, mas foi
barrada pelo Senado americano.
Centremo-nos agora em segundo lugar sobre o que se observa
nas redes sociais, em artigos de opinião, comentadores, comentários na
comunicação social, comunicados de partidos.
Começo com a perturbante reação do PCP que teima em defender
um regime que é criminoso à luz do direito internacional. O PCP agarra-se ao
passado soviético mantendo uma linha de defesa de Moscovo disfarçada de
rejeição do capitalismo de Putin ao mesmo tempo que culpabiliza o capitalismo
dos EUA e a NATO pela invasão da Ucrânia. Não se aperceber que a Rússia já não
é aquilo que formou o seu ideário, mas que é um projeto de poder de um homem
que alimenta e subsidia muitos partidos da extrema-direita europeia ao mesmo
tempo que se queixa da extrema-direita na Ucrânia.
Por seu lado o Bloco de Esquerda anda numa roda-viva para
ver se consegue distanciar-se das posições do PCP numa dança intermitente que
ora critica, ora desvaloriza, ou, a dizer, como ontem aconteceu, que “O Bloco
de Esquerda defende que é dever das autoridades portuguesas identificar e
investigar os oligarcas russos” e a deputada Mariana Mortágua sublinha que os
interesses económicos não podem sobrepor-se às sanções contra Vladimir Putin.
Mas, sobre a votação do empréstimo financeiro à Ucrânia, a deputada do Bloco de
Esquerda diz que acusar o partido de votar contra é querer confundir o debate”.
Nas redes sociais parece-me que ser-se contracorrente às
evidências começa a dar jeito para os que desejam feedbacks a todos o
custo aos seus posts e opiniões publicadas na imprensa.
Ser polémico está na moda, “vende”. Falem mal de mim ou
sobre mim, mas é preciso que falem. Alguns colocam-se em pontos de vista que
tentam contrariar factos e evidências recorrendo aos mais artificiosos
argumentos, virando do avesso a realidade dos factos, buscando no passado longínquo
as causas para justificar hoje a agressão de Putin contribuindo, assim, para a
lavagem da sua imagem. Justificar a agressão à Ucrânia comparando-a com outros
casos que se verificaram no passado e noutros contextos parece-me caricato.
Também neste domínio há negacionistas da realidade de facto, como os há nas
mais absurdas situações e circunstâncias.
Pensamentos apressados que sugerem tomadas de decisões, em
momentos de emoção e nervosismo, como apelar à provocação ao adversário, à
confrontação e à guerra têm o risco de agravar conflitos em vez de os
acalmarem. Recorro a uma frase da radical Ana Gomes, senhora que se candidatou
a Presidente da República, que afirmou na SIC Notícias “Para que serve a NATO
se não consegue travar massacres contra populações na Europa?” e acrescenta que
a zona de exclusão aérea no país invadido pela Rússia “tem de estar em cima da
mesa”, mesmo que Vladimir Putin considere isso um ato de guerra. Entrámos na
zona da paranoia.
Pensarmos que conhecemos bem e confiamos no adversário que
se tem pela frente é no mínimo ingenuidade. Putin não é de confiança recorde-se
quando disse que o ocidente estava em histeria quando Biden apontava uma data
para a invasão da Ucrânia. Muitos gozaram com a data marcada para início da
guerra. Passados dias deu-se a invasão.
Putin deve estar com problemas internos e, por isso, a
censura que instituiu na Rússia passou a ser obrigatória e foi agravada.
A censura é necessária como fator para a formação e consolidação do
"putinismo”. Putin tem plena consciência da importante função destinada à
censura. É a guerra da informação e da contra informação, da opinião e da
contraopinião que se agudizam em tempos de guerra. O controlo da
informação e a censura desde sempre desempenharam um papel fundamental na
formação e para a consolidação dos estados totalitários.
Putin pretende mostrar que só existe politicamente o que o
público sabe que existe. Daí as mentiras, os cortes e as inversões dos factos à
boa maneira estalinista. Serve-se da guerra para controlar ainda mais o espaço
da informação e bloquear os principais meios de comunicação independentes que
possam gerar movimentos que, normalmente, levam a grandes protestos.
Seis dias depois das tropas russas atacarem a Ucrânia, a
Rússia (leia-se Putin) bloqueou a Dozhd TV e a Ekho Moskvy por supostamente
espalharem, segundo ele, "informações deliberadamente falsas" sobre a
invasão da Ucrânia por Moscovo tendo ficado indisponíveis na Rússia logo após o
anúncio.
A Echo of Moscow, uma estação de notícias russa independente
que transmite desde 1991, anunciou que encerraria na quinta-feira depois de se
recusar a cumprir as regras de censura exigida em reportagens sobre a guerra na
Ucrânia sendo obrigada a utilizar apenas fontes militares oficiais do Kremlin.
Outra estação foi a TV Rain, a principal emissora de televisão independente do
país que encerrou temporariamente também na quinta-feira as suas transmissões
em desacordo com regras semelhantes.
Nos jornais russos, talvez a maior parte, os artigos
publicados são um vómito de inverdades de propaganda. E só acredita neles quem
quiser acreditar. Como não vivenciamos os momentos "in loco"
podemos ser tentados a acreditar que a comunicação do ocidente é que está
errada e que a verdade, a dele (a de Putin), é que está certa. Foi assim no
passado com Hitler, com Estaline e também o foi com Salazar aqui, no nosso
canto junto ao mar.
Não se compreende porque um grupo de pessoas, felizmente
pequeno, se tenha colocado do lado de Putin contra a Ucrânia apenas com o
argumento de serem contra a NATO, os U.E. e os EUA. Dizem que são pela paz, mas
não dizem em que termos. Falam em negociação, mas que negociação? O que
pretendem será a capitulação incondicional da Ucrânia, país soberano, para que
fique na órbitra da Rússia de Putin? Será a dissolução da NATO deixando Putin
livrfe para o controle total da Europa? Se assim não é então que manifestem
sobre qual será para eles a alternativa para a paz.
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