Cerca de um mês afastado do blogue, longe de Lisboa, embrenhado na região centro, cá vou sabendo das notícias pelos costumeiros meios de comunicação. Uma novidade que me despertou interesse no meio das notícias sensaboronas das TV’s foi o anúncio da constituição de um novo partido pelo senhor Santana.
O senhor Santana ao ser candidato à liderança do PSD terá apostado numa vitória mas, confirmada a perda, a amargura soltou-se (mais uma ao longo dos anos) também partilha pelos sem-lugar e os desamparados no partido após a saída de Passos Coelho. Terão sido ests as causas próximas conducentes à ideia para a constituição de um novo partido pelo senhor Santana. Tal ação divisionista terá tido também como causa questões de influência e de acesso ao poder perdidos pela mancha política da direita neoliberal do pós-Passos dentro do PSD que não concorda com a orientação de Rui Rio. A constituição do novo partido Aliança, a concretizar-se, vai criar brechas no partido onde o senhor Santana milita há décadas.
O nome Aliança é uma designação que me faz recordar nomes de partidos de extrema-direita como, por exemplo, o Aurora Dourada na Grécia ou Frente Nacional de Le PEN. Todavia não pretendo ir tão longe, limito-me a enquadrá-lo num espetro ideológico na linha dos que, agora sem rumo apoiavam Passos Coelho na orientação neoliberal e que agora estão descontentes com a orientação social-democrata que Rui Rio tem dado ao PSD.
Com o senhor Santana o Aliança vai ser um partido conduzido ao fracasso tais como outras das suas incursões políticas com a diferença de que, desta vez, não será para dizer vou andar por aí mas para dizer: Olá! Estou aqui!
Sobre o senhor santana e o Aliança João Miguel Tavares nos seus costumeiros exercícios anti PS faz um mix de futurologia e matemática tendo antes o cuidado de afirmar que “não votaria em Pedro Santana Lopes nem para delegado de turma…”, diz no jornal Público que, ao concorrer à próximas eleições, o senhor Santana foi esperto porque: “Imaginem que António Costa fica a dois ou três deputados dos 116 e que o novo partido de Santana Lopes tem esses dois ou três deputados — de repente, o novo Aliança pode conseguir um protagonismo, e um poder, que jamais alcançaria noutra conjuntura política. Era agora ou nunca”. Então, se assim for, digo eu, embora a conjuntura política seja diferente, o Aliança poderá vira a ter o mesmo papel do antigo partido PRD formado por Eanes em 1985 e, consequentemente o mesmo fim, o seu desaparecimento.
O senhor Santana dividindo o PSD com o apoio das fações neoliberais do partido pretende vir a ser uma espécie de bola de ping-pong no Parlamento, (se lá chegar a entrar), aliando-se ocasionalmente com um partido A, com um partido B ou com um partido C consoante as conveniências.
O senhor Santana pretende que o Aliança venha a ser o seu habitat porque só assim poderá lutar pela sua sobrevivência e continuar a existir politicamente. Quer ter a sensação de que vale mais estar aqui do que não estar, num mundo em que poderia não estar, mas está.
O senhor Santana empurrado pela ânsia do poder é arrastado pelas ondas da política e interroga-se sobre o que seria a política sem ele. Mergulha, mas, quando emergir, talvez olhe com espanto para a espada Dâmocles que presa por um fio ficará a pender sobre a sua cabeça. O que, para ele, talvez já não seja novidade.
O senhor Santana e os seus melros vão debicar o prado das eleições abrindo-se-lhes uma perspetiva muito prometedora sem se aperceberem de que vão viver uma constante fonte de angústia pela discrepância entre o comportamento político e o resto do universo partidário. Pelo que, a ter votações com alguma representação os votos virão do partido donde teve origem a fratura, o PSD, e do CDS/PP.
Hoje no jornal Público Leonete Botelho diz que “Ao “roubar” eleitores ao PSD, o partido de Santana Lopes fará aumentar a distância entre os dois maiores partidos portugueses…”
A lei de Lavoisier diz que a massa é conservada quaisquer que sejam as modificações químicas e/ou físicas que a matéria sofra: na natureza, nada se cria e nada se perde. Tudo se transforma. Na contabilização partidária a massa são os votos, assim, o alimento em votos do novo partido serão os do partido dividido que os perderá, podendo haver algumas exceções como fugas do PS, e um partido de direita não será alimentado pelos votos de partidos da chamada extrema-esquerda.
A contribuição do senhor Santana para a boa imagem do PSD e da social-democracia - que está a ser recuperada por Rui Rio – foi e tem sido nula tendo consistido em aparecer em momentos oportunos, despertados por sentimentos egocêntricos, de certo modo também atávicos, para defender ou conquistar um espaço no mundo da política a que pensa ter direito.
A decisão da constituição de um partido de direita pela cisão do PSD e da atual orientação social-democrata é necessária não para o país mas para a imagem do senhor Santana. Foi necessária uma revolução interior na mente do senhor Santana colocando acima do país as suas emoções e sentimentos, de acordo com os seus ritmos mentais, para conseguir prever os efeitos que efetivamente terá o novo partido os quais consegue apenas imaginar em teoria sobre. Ao senhor Santana apenas lhe interessa o protagonismo que tem vindo a perder politicamente e o que este lhe possa render e não o país e, com ele, estão os que, como ele, pensam.
O senhor Santana tem uma visão política e partidária familiar e fragmentada pela perceção individual que pode ser constatado pela sua atuação no passado, até mesmo quando Durão Barroso lhe entregou de mão beijada o poder do país XVI Governo Constitucional com a duração de 7 meses e 23 dias. “Vamos ver… nem quero pensar nisso”. Terá sido assim que Pedro Santana Lopes reagiu quando Durão Barroso lhe pediu pela primeira vez que o substituísse na chefia do Governo no verão de 2004. Na altura Barroso tinha sido sondado para o cargo de presidente da Comissão Europeia e queria assegurar que a transição era feita sem eleições legislativas antecipadas.
O senhor Santana para poder vingar terá de enveredar pelo populismo demagógico de direita para que o seu discurso tenha efeito, tática a ser utilizada por muitos partidos europeus quer de esquerda quer de direita. O primeiro sintoma tem a ver com a recusa aceitar “dogmas da construção europeia, como refere a Declaração de Princípios do Aliança sobre a União Europeia referindo que “Portugal tem-se dado ao luxo de estar na linha da frente da aplicação de deliberações da União Europeia que têm prejudicado importantes unidades do sistema económico e financeiro”. Uma versão mais soft do que tem sido defendido pelos partidos europeus da direita radical, estes anti U.E.
A Declaração de Princípios não apresenta nada de novo que não tenha sido já mencionado nos conteúdos programáticos de todos os partidos com exceções dos mais radicais de esquerda. É uma espécie de “copy paste” melhorada daqui e ali, nomeadamente no que se refere ao liberalismo e personalismo cristão que, ideologicamente, é semelhante à do CDS/PP.
O senhor Santana limita o seu partido Aliança a ideia imediatas que lhe foram sendo sugeridas e diz assentar, a sua matriz em três eixos fundamentais: Personalismo, Liberalismo e Solidariedade. Afinal, todos os partidos de direita, e alguns do centro esquerda também os reclamam. São três conceitos filosóficos muito complexos mas que, assim colocados não passam de chavões cuja aplicabilidade é vaga e praticamente exequível enão passam de mera propaganda.
Em teoria, para o senhor Santana, o partido Aliança será a concretização de um novo paradigma no panorama partidário português, porque é novo e inovador nos seus traços ideológicos, mas não o é. Menos do que uma declaração de Princípios é uma declaração de intenções perigosa, demagógica, popularucha, inexequível a prazo. São boas e más intenções que estão implícitas. É uma espécie de neoliberalismo com pinceladas de preocupações sociais restritas para mostrar um rosto humano, mas não passa disso.
Estranho no que respeita à ambiguidade do que se refere à política externa a referida declaração refere em certo ponto que: “Vemos com otimismo, apesar dos riscos, a construção de um equilíbrio mundial inovador, assente na realidade multipolar, intransigentes que somos na defesa da Paz e dos direitos fundamentais”. Frase ambígua, pouco clara que sugere interpretações polissémicas. Para um leitor como eu, ver com “otimismo apesar dos riscos a construção de um equilíbrio mundial inovador”, é preocupante por presumir a concordância incondicional com a forma como a política internacional tem vindo a ser conduzida pelo atual presidente dos E.U.A e que tem vindo a ser contestada no próprio país e noutros países e a vários níveis.
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