22/09/2021
O "ciclo
preparatório" para as eleições autárquicas é uma espécie de desgarrada. A
Operação Marquês e o alvo Ivo Rosa iniciaram há dois meses atrás a contenda entre os
pretendem ganhar as autárquicas o PS e Rui Rio que vai ter a cabeça a prémio se
não as ganhar e ainda a extrema-direita que aposta com tudo o tem à sua mão: o
populismo e a libertinagem discursiva.
Na mesma altura, passado recente surgiu um caso com a PJ a fazer buscas
na Câmara de Lisboa por suspeitas de corrupção no departamento de Urbanismo,
notícia avançada pelo Observador, claro, nem podia deixar de ser, e confirmada
pelo PÚBLICO “junto de fonte da Polícia Judiciária, que acrescentou que as
buscas estão relacionadas com suspeitas de corrupção e crimes conexos.”. E Moedas, sem mais nada aproveitou, como se viu no debate entre os concorrentes feito pela SIC à cerca de duas semanas.
Tempo oportuno que se segue ao
tempo Sócrates da Operação Marquês. A direita anda ávida de poder também meter
a mão no pote porque há muito tempo que tem perdido a oportunidade e a coisa
parece estar agreste. Se perder as próximas eleições fica mais uma série de
anos em dieta forçada.
Se havia suspeitas de corrupção
na Câmara de Lisboa no que respeita aos processos na mira da polícia que se
referem à Torre de Picoas, Hospital da Luz, Segunda Circular e o projeto para
os terrenos da antiga Feira Popular, entre outros, porque só agora houve
suspeitas e denúncias tiradas das gavetas onde estavam a aguardar
desde julho de 2017?
Dizem por aí alguns que há o
tempo de justiça e o tempo da política. Não há maior falácia! Estes dois tempos
são, conforme as conveniências da política partidária, sincrónicos. Muitos
dirão: isso são puras coincidências! A questão que eu coloco é a de saber se em
política houve ou haverá alguma vez coincidências! Nós o povinho é que andamos
enganados, pelo menos alguns. Pois, estou mesmo a ver aos que lhes convém que
sejam coincidências a dizer: este tem a mania da teoria da conspiração.
Interessa-lhes isso porque a coincidência serve os seus propósitos.
O que levantam hoje vozes, quais
arautos que berram contra a corrupção e a favor da punição na praça pública,
são os mesmo que quando a direita está no poleiro do poder silenciam, com ajuda
dos media seus lacaios, os seus impolutos adeptos que fazem negócios a que
chamam práticas normais da aplicação política para bem da nação. Se há algum
caso que venha à tona, num ápice deixa de ser notícia e evaporiza-se até que o
seu impacto deixe de ter efeitos nefastos. A insistência na repetição dos
factos suaviza-se, esvai-se como se se tratasse de notícia de segunda ou
terceira escolha.
Hoje o caso que veio ao de cima é
uma espécie de moeda de troca. Carlos Moedas, em março do corrente ano, disse
que foi chamado à comissão do Novo Banco por ser candidato a Lisboa.
A represália veio de seguida e
num comunicado em relação às buscas da Polícia Judiciária à Câmara de Lisboa
Carlos Moedas, defendeu esta terça-feira em comunicado que “Não são apenas os
comportamentos do ex-primeiro-ministro José Sócrates que corroem o
funcionamento da democracia. A suspeita em volta da atuação política na CML
[Câmara Municipal de Lisboa] também corrói e, a confirmar-se, revela uma forma
de governar a cidade que considero absolutamente inaceitável”. Antes do
apuramento da culpa faz logo o julgamento e a condenação.
Para quem afirmou em entrevista
ao polígrafo da SIC, quando foi confrontado com afirmações sobre a intervenção
dele no caso BES e GES, respondeu que a sua forma de fazer política é diferente
e que “eu não vou fazer política assim”. Estamos a ver! Por outro lado, a
partir desta entrevista Moedas fez publicar no Youtube a mesma entrevista
truncada e com inserções de planos e afirmações que não pertenciam à
entrevista.
Carlos Moedas, com o seu discurso
pausado na argumentação e de voz calma, pretende dar ao eleitorado uma imagem
de seriedade, de politicamente correto, de comportamento em política
manifestado pela diferença que, afinal, está a começar a desmoronar-se. E isto
é apenas o início, porque Carlos Moedas não tem um projeto para Lisboa, tem um
projeto demagógico e irrealista e, consequentemente, inexequível a pelo menos a
curto prazo.
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