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O eterno retorno era uma doutrina
dos estoicos retomada,
em particular pelo filósofo alemão, Nietzsche segundo a qual há um eterno
recomeço, isto é, uma série de acontecimentos idênticos aos precedentes. O
estoicismo foi criado por Zenão de Cício, na cidade de Atenas, cerca de 300
a.C.. Os estoicos defendem a austeridade na virtude, o desprezo por todos os
tipos de sentimentos externos, como a paixão e os desejos extremos e foi
recuperado pelo cristianismo que afirmava e afirma que só "através da
aceitação do destino e da renúncia às paixões, pelo que o homem deverá
destacar-se pela indiferença face à dor e pela firmeza de ânimo perante os
males e as agruras da vida”. Enfim, mais ou menos a apologia da austeridade aos
níveis das agruras pessoais e bens materiais.
Não vou aqui dissertar sobre temas filosóficos, mas isto vem
a propósito do que tem vindo a ser noticiado e comentado após a calma das
emoções geradas pelos resultados das eleições autárquica. Interpretações que têm
emanado dos comentadores políticos e fazedores de opinião, quais oráculos do
tipo Pítias, sobre o futuro político, quer em relação ao partido dito perdedor,
quer em relação ao partido dito ganhador oriundos da comunicação social.
Com é sabido, Carlos Moedas ganhou Lisboa, mas teve ao seu
lado durante a campanha elementos que estiveram também em tempo ao lado de
Passos Coelho. Moedas foi, e ainda é, um animado adepto saudosista das
políticas de Passos, assim como os que o ajudaram na campanha como é o caso de Sofia
Galvão, Miguel Morgado, João Marques de Almeida, António Leitão Amaro não são
dedicados "passistas”.
Moedas
integrou o XIX Governo Constitucional e que fez parte do Executivo durante
a maior parte do seu período de vigência. Era considerado o braço-direito do anterior
primeiro-ministro, facto que o colocou em destaque nas relações entre o governo
português e os responsáveis da troika. Mais recentemente, a 30 de julho, Carlos
Moedas, numa entrevista
ao semanário NOVO, afirmou que “gostava de ver outra vez Passos Coelho num
lugar de destaque". Segundo o semanário a frase é suficientemente ampla
para nela caberem várias hipóteses, mas a “admiração” é indisfarçável.
Este enquadramento
serve como justificação para o título do artigo e para alerta de que o retorno
da direita passista ao poder pode vir a ser mais real do que virtual, caso Rui
Rio não se candidate novamente à liderança do PSD ou se se candidatar não
ganhar. Se assim for é certo que o poder do PSD fica novamente na mão dos
neoliberais de Passos Coelho numa campanha a fazerem-se passar por sociais-democratas.
Aliás, hoje o semanário Expresso publica um artigo de opinião do senhor de má
memória que dá pelo nome de Cavaco Silva que o comprova: Cavaco
diz que Governo de Costa “não foi capaz” de aproveitar as condições herdadas de
Passos, (!?) e critica também os adversários do Governo, denunciando uma
“oposição política débil e sem rumo, desprovida de uma estratégia consistente”.
António Costa desde que esteve na presidência portuguesa do
Conselho da União Europeia e, tendo em conta as notícias que, entretanto, foram
surgindo nos órgãos de comunicação e a que alguns socialistas chamam casos e
casinhos, fica-se com a ideia de que o Governo, e sobretudo alguns ministros,
entraram em roda livre, mesmo depois de junho quando do seu regresso. A coisa que
já vinha de antes parece que piorou. Os casos que iam surgindo como sendo de
casos e casinhos sucederam outros que o são de facto. Não é certo que algumas
perdas nas autárquicas não tenham contribuído também para esses factos.
Chegado até aqui penso que António Costa deve começar a ter
algum cuidado e prestar mais atenção e observar mais tudo quanto o rodeia. Ouvir
neste caso não significa executar o que outros acham que deveria fazer, mas descobrir
estratégias para o futuro próximo. Analisemos agora, com algum cuidado, os mais
recentes comentários sobre António Costa e o seu Governo e também os
comentários sobre a sucessão, ou não, de Rui Rio no PSD levantados após as
eleições autárquicas.
Quanto a António Costa e sem qualquer ordem cronológica detenho-me
em algumas das afirmações que são sistematicamente repetidas nos comentários mais
ou menos proféticos como a insistência na fragilidade do Governo após as
eleições; remodelação do governo a ser feita após aprovação do orçamento (a
única que poderá ter algum fundamento); perda de autoridade do primeiro-ministro;
fadiga em relação ao Governo; o Governo está muito mais fraco após as eleições;
a inversão da tendência política em Portugal; a semana tal foi um desastre para
o Governo.
A somar a estes sinais amargos, as semanas a seguir às
autárquicas foram um desastre para o Governo. Pedro Nuno Santos verbalizou — da
forma mais bruta possível — tudo o que o opõe ao ministro das Finanças, a quem
culpa pelo afastamento do presidente da CP. O descontentamento com João Leão
será alargado a outros ministérios, como escreve o Expresso, mas a declaração
do ministro das infraestruturas abriu a caixa de Pandora. Dificilmente os dois
poderão coexistir num próximo Governo e vai ser interessante ver como se desfaz
este novelo. Para somar à semana desgraçada, o ministro da Defesa decidiu
aproveitar politicamente o fim do mandato do vice-almirante, louvado quase
unanimemente pelo sucesso das vacinas, para despachar o Chefe de Estado-Maior
da Armada e colocar Gouveia e Melo no posto.
Daqui as primeiras mexidas consequentes saídas da primeira
reunião da direção socialista neste sábado que elegeu os dirigentes que
integrarão a comissão política, o secretariado e a comissão permanente do PS
Quanto ao PSD e a Rui Rio parecer ser evidente a exploração
jornalística de um dito “combate” dentro do PSD, que é o de “se concentrar
naquele que é o combate maior que terá pela frente, que é o de se constituir
como verdadeira alternativa ao Governo do Partido Socialista” como afirmou numa
entrevista de Montenegro falando das rivalidades internas no partido,
afastando-se estrategicamente dessas guerras. Faz-se de bom da fita, por agora,
para depois atacar os despojos. Rio não está em condições de ser "alternativa
sólida" ao PS. Acrescentou ainda que não pretende pôr-se já a
caminho porque acha que o PSD ainda não está na hora de ganhar eleições e
porque não acredita que o PSD sendo com Rui Rio ou sendo com Paulo Rangel não
tem tempo de recuperar e renascer das perdas eleitorais.
Infeliz, à sua maneira, também
está o PSD. A vitória de Lisboa e de Coimbra e o aumento total de câmaras deram
a Rui Rio um sopro de vida, mas o combate interno intensifica-se — enquanto o
PS sonha que Rio se mantenha no cargo. Com o PSD em convulsão, se Paulo Rangel
conseguir ganhar as diretas a situação política muda: o curriculum de Rangel
faz prever um PSD mais combativo, numa altura em que o PS ainda se encontra no
cimo da colina, mas vai escorregando.
A proposição de que basta repetir
uma mentira para que ela se torne verdade, uma das regras básicas da propaganda
política, pode aplicar-se também num propósito de formulações hipotéticas,
opiniões e suposições que sucessivamente se repetem mesmo que não sejam
mentiras. Se se repetir uma ideia que não sendo mentira pode ser potencialmente
uma verdade, ou seja, algo não verificado ainda, a sua repetição passada pelos “fazedores”
da opinião pública pode ser vista como sendo uma verdade, embora não o seja
ainda. É a chamada a ilusão da verdade.
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