Deixemos para estudos posteriores e estratégias futuras a
análise dos resultados das eleições autárquicas 2021. Carlos Moedas, bem ou
mal, por muito ou por pouco, o certo é que ganhou.
O que se deve agora discutir é o que disse e prometeu durante
a campanha e sobre as balelas que foi dizendo com contradições imensas.
Numa entrevisto
dada ao jornal público de hoje o ex-vice-presidente da bancada parlamentar do
PSD António Leitão Amaro, um dos conselheiros de Carlos Moedas na campanha
de Lisboa, diz que o candidato social-democrata é “o primeiro e o último
responsável” pela vitória. Foi claramente uma vitória de Carlos Moedas por duas
razões: primeiro, o Carlos Moedas cresceu e venceu, na expressão dele, contra
tudo e todos porque apresentou esta alternativa reformista que deu esperança às
pessoas. Ele soube, e foi o único, de uma forma assertiva e intransigente,
mostrar os fracassos, os erros e os falhanços da governação socialista.
Estas afirmações de Leitão Amaro são facciosas e mostram a tentativa
que provavelmente frustrada, para fazer uma lavagem às poucas competências que
o novo autarca Moedas tem para a função e que vai ter de contrariar.
Como primeira abordagem o programa Novos Tempos enferma de
enormes contradições que vão colidir com a programação e a concretização. Como
tal a votação em Carlos Moedas foi mais clubista-partidária do que resultante efetiva
do programa para a cidade. Alguns pontos do programa a serem concretizados
poderão dar lugar à criação de mais cargos e encargos municipais, criação de
novas clientelas e compadrios partidários, veja-se página Lisboa
Participada do programa.
De facto, quem lê o programa de Carlos Moedas sem qualquer intuito
analítico e atitude crítica fica aturdido com tanta coisa aparentemente boa e
fica surpreendido pela positiva. É uma espécie de presente em que o papel de embrulho
é apelativo, mas cujo conteúdo, se não for consumido de imediato, corre o risco
de ficar adulterado em muito pouco tempo. Só uma enorme quantidade de
conservantes o irão manter atualizado, o que me parece ser empresa difícil de
concretizar.
Logo no início da campanha de Carlos Moedas insurgi-me neste
mesmo blogue contra as medidas
de Medina em relação às ciclovias não pela ideia em si mesma, mas em
relação à forma, falta de regras e procedimentos que as deveriam gerir o que conduziu
a uma circulação anárquica dentro e fora das mesmas prejudicando e colocando em
perigo peões e automobilistas. Mas uma coisa não pode levar a outra totalmente
oposta por falta de regulamentação e controle. Limitar a circulação automóvel e
incentivar o uso de ciclovias no centro da cidade parece não ser o projeto de
Moedas para Lisboa e daí a contradição do seu programa no que se refere à sustentabilidade
e circulação que vai contra Vejamos o capítulo Restituir a Rua aos Lisboetas
na página treze e seguintes do referido programa.
O programa parece contradizer o que é a tendência nas
grandes cidades europeias e da ideia de sustentabilidade, que é restrição da
circulação automóvel nas grandes cidades, Medina parece propor medidas de
promoção de mais circulação automóvel. O slogan "restituir a rua aos
lisboetas" significa na verdade, restituí-la aos carros dos lisboetas quando
refere “Restituir a rua aos lisboetas com o assegurar parques multifuncionais de
estacionamento” para residentes em todos os bairros (falta esclarecimento do
conceito) e “otimizar a oferta de estacionamento automóvel à superfície está a
ir no sentido contrário.
As medidas do presidente eleito para o automóvel e os automobilistas,
porque teve nas suas listas Carlos Barbosa, presidente do Automóvel Club de
Portugal, tiveram que satisfazer os seus desejos automobilísticos e os dos seus
elitistas sócios.
Como escreveu Fernanda
Câncio no Diário de Notícias, “passamos de um autarca que queria limitar a
circulação automóvel no centro para outro que anunciou descontos no estacionamento
em toda a capital e vilipendiou as ciclovias enquanto diz querer "uma
cidade mais sustentável" - é talvez isso que "as pessoas
querem", slogans sem dor. Mas então talvez seja de aprender a não
respirar.”
O capítulo “Lisboa,
uma cidade próxima de todos” de Medina parece aliciante para os desprevenidos,
mas, tal como todo o programa a execução a prazo não é possível, necessitará de
vários mandatos e muitos dos que nele votaram já cá não estarão para puderem
ver a sua eventual realização e, para outros as espectativas verificar-se-ão
frustradas.
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