Sou, por natureza, desconfiado em relação às boas intenções dos artigos de opiniões que se publicam na imprensa que pretendem demonstrar isenção, mas que, afinal, são apenas isso, opiniões e, cada opinião sua sentença.
Também sou cético em relação aos comentários que se fazem
sobre a atualidade política e, por isso, também aceito que achem o mesmo das
opiniões e dos comentários que escrevo. Uma
opinião está imbuída de pontos de vista onde a falta de isenção e o sectarismo
são facilmente constatados nos textos de quem os escreve.
Vem isto a propósito do artigo
de opinião de João Miguel Tavares no jornal Público com o epíteto “Coitado
do Manuel Pinho? Não. Coitados de nós.” Quanto ao título estou de acordo, já o
mesmo não digo de outras partes do artigo que me pareceram serem tendenciosas.
Antes de continuar convém esclarecer que sou um “tipo” que
detesto falcatruas, oportunismos, aproveitamentos, vigarices, trafulhices, branqueamento de
capitais, aproveitamento de outros e do próprio Estado para enriquecer e
viver à grande, fraude fiscal e fuga aos impostos, enquanto nós os pagamos com
grandes sacrifícios. Abomino quem “sacou e saca” poupanças dos clientes dos
bancos, “chicos-espertos” que se servem da política para obterem dividendos com
negociatas onde perpassa a corrupção passiva e ativa, pagando e recebendo
subornos, os que recorrem ao assassinato, se necessário, para evitar revelações
sobre transferência de dinheiros, (como este, felizmente poucos), e por aí
fora.
Mas não fico por aqui, detesto o arrastar do tempo anos e
anos para que se faça justiça utilizando os mais diversos truques à disposição
e as mais diversas justificações mais ou menos objetivas porque a lei as
permite. São os megaprocessos, são as esperas de respostas de instâncias
internacionais a quem foram requeridas informações, etc., etc., são os
sucessivos pedidos de recurso sobre penas aplicadas e as prescrições derivadas por
ultrapassados tempos legais dos processos. Mas isto é matéria para juristas
analisarem. Falta de recursos, falta de material, processos difíceis de gerir
por volumosos que são, tudo isto pode ser válido, mas quem tira vantagem disto
são os transgressores a braços com a justiça.
O mais curioso também, por coincidência ou não, é que,
próximo de tempos eleitorais, uma série de processos saem do torpor em que se
encontravam, duma espécie de coma a que se juntam as novidades de outros que
aparecem qual magia. E, curiosamente, a maior parte pela mão do mesmo juiz. Mas
isto é impressão minha, o tempo da justiça é o que é, e pronto. Não acho mal
desde que de facto a justiça funcione e termine célere.
Mas voltemos ao propósito que aqui me trouxe. João Miguel
Tavares coloca dois juízes em dois níveis, um do seu agradado, porque
implacável e justiceiro e o outro que deixa tudo passar, isto é, abraça a tese
do advogado de defesa de Manuel Pinho que admitiu que o Ministério Público querer
aproveitar o facto de a instrução do processo ter saído das mãos de Ivo Rosa
para as mãos de Carlos Alexandre.
Para João Miguel Tavares, há juízes que fazem o bem
perseguindo todos os que prevariquem e sejam oriundos de partidos da área da
esquerda e os juízes que facilitam as coisas para o lado da direita, isto,
provavelmente, em função dos seus ódios de estimação ou simpatias ideológicas e
partidárias. Como ele é um ás da retórica escrita consegue sempre iludir os
menos atentos evidenciando-se como um isento redator de opiniões que com o
conhecido mecanismo de influenciador e de formação de opiniões
Para ele, JMT, há um juiz bom, o Carlos Alexandre, que “pode
ter cometido erros ao longo da sua carreira, mas é um homem abnegado, que
procura cumprir o seu dever e honrar o cargo que detém”. Cá está, um
super-herói, um justiceiro que vem mesmo a propósito da Comic Con Portugal que
se realizou entre 9 e 12 de dezembro do corrente. O outro, um vilão, senhor do
mal, Ivo Rosa, “um destruidor de processos, com um ódio patológico à cultura
de investigação do Ministério Público, confundindo diariamente o papel de juiz
de instrução com o de juiz de primeira instância.”, e por aqui não se fica
porque, diz ele, JMT, que “as suas interpretações delirantes são um
manancial para expedientes dilatórios das próprias defesas, como se tem visto
na Operação Marquês.”. Claro, cá esta´, a Operação Marquês”, Sócrates e
outros como Manuel Pinho e outros tantos, todos eles pertencendo ao mesmo naipe
odiado por Miguel Tavares que, suponho eu, nem deveriam ter direito a
julgamentos, logo para a prisão direitinhos, porque o julgamento já se fez, e
muito bem, na comunicação social.
Quanto ao outro lado, quando os crimes são procedentes da
direita se não a omissão fica-se caladinho ou muito comedido nas críticas para que
a opinião pública não fique com o sentimento de que as suas opiniões sobre o
exercício da justiça são apenas para um dos lados.
Vejamos o que ele, JMT, escreve: “Não faltam por aí
rumores de estratagemas usados por procuradores para evitar que lhes caia a
fava de terem Ivo Rosa como juiz de instrução. Note-se, contudo, que esses
estratagemas não existem porque os procuradores só gostem de juízes “fáceis”.
Eles existem porque é impossível trabalhar com Ivo Rosa em matérias de
criminalidade económica. Não por ser um juiz de instrução rigoroso, mas por ser
um fetichista da lei que descobre tantas e tão criativas ofensas a direitos
fundamentais que acaba a trucidar o direito mais fundamental de todos para quem
veste a beca de juiz – a procura de justiça”. Fantástico, não é?
Como já escrevi no início o que vem a propósito é o meu
ceticismo quanto à justeza e isenção das opiniões traçadas por opinion
makers que no olho do lado direito utilizam uma pala translucida e com o olho
esquerdo destapado fazem parecer mais nítidas as visões de fação. Assim,
também, quando escrevo,
não consigo esconder a fação, mesmo ao tentar esboçar as minhas visões com os dois olhos, sem pala.
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